Da história a seguir eu me
apoderei. Ela, felizmente não aconteceu comigo, mas eu tomei as dores do meu
amigo, uma excelente pessoa, que eu quero de uma forma ou outra homenagear.
Dizer que a desonestidade é a “qualidade”
mais marcante do brasileiro ou concluir em que a “Lei do Gerson” sintetiza magistralmente
o proceder e o comportamento deste povo, seria meio injusto ao tempo que meio benévolo.
A citada lei poderia ter
infinidade de nomes, desde os mais comuns passando pelos menos assustadores até
chegarmos ao precioso estágio de aqueles nomes, que não só são aberrações da
língua e a imaginação – criatividade, como que são carregados, em muitos casos,
por seres bizarros, revoltantes, em fim, repugnantes.
Um dos meus amigos faz jus a este
sagrado princípio da falta e/ou inversão de valores, onde o fim sempre justificaria os meios.
Ele faz questão de se autoproclamar um experto urbano, um catedrático da vida e
por esta razão, acredita que todos são e somos tolos, que ele sempre está um
passo, quando não vários, a frente de nós.
Em certa ocasião, eu precisei
vender um carro, mas não estava com tempo, nem com vontade de procurar
compradores. Ele, que é um clássico busca-vida, que mexe com tudo o que é possível
de imaginar, para ganhar qualquer “10 real”, também tinha a sua faceta de corretor
de automóveis e alardeava de lucros na compra e revenda de carros.
Não deu outra, o meu carrinho,
praticamente novo e muito pouco rodado, coloquei-o nas mãos dele, que a
primeira coisa que fez, foi aplicar uma limpeza inaudita e o deixou lustroso.
Até aqui, tudo bem.
Mas, quão ingênuo seria eu ao pensar
que aquela limpeza só serviria, para dar uma aparência ainda melhor ao carro,
quando de fato, não precisava de lero-lero.
O meu amigo, aliás, chega de
ironia e hipocrisia: o meu falso amigo, esteve fazendo um profundo estudo das
vantagens que poderia tirar, caso não pudesse obter muitos dividendos com a
venda ou se a mesma não acontecesse nunca. Perder, nem no campeonato de
cuspo!!!
Todos os dias, o sujeito me
perguntava quanto iria ganhar com a venda, ou seja, o percentual, etc., e eu
tinha que ouvir os cálculos em voz alta, que o personagem fazia assim como as
reações de inconformidade / satisfação que manifestava.
Entre a crise econômica que vive
o mundo e da qual o Brasil não ficou fora, assim como da oferta crescente de
veículos novos incluindo, condições de pagamentos a se perderem de vista e desconsiderando a “boa” gestão do pilantra, o carro algum tempo depois voltou a minha
garagem, para ficar empoeirado por mais algumas semanas, até que decidi vender
para uma concessionária.
Já poderão imaginar o quanto
recebi e o bem avaliado que foi, mas eu não tinha muitas alternativas e
afortunadamente, naquela época, a diferença entre o que não me pagariam com
pouco esforço e o que me pagariam com um desgaste maior, não se transformaria naquele
conforto.
Confesso-lhes que pulei a parte
que provocou esta minha atual reflexão, mas agora eu contarei.
Quando o carro retornou à minha
garagem, eu sempre semanalmente o ligava, para mantê-lo em boas condições
operacionais, como fazia antes de entrega-lo para o elemento, que viabilizaria
a venda do mesmo e a partir deste retorno, toda vez que queria ligar o carro, a
bateria estava arriada, o que era inverossímil e inaceitável para um carro novo,
logicamente com uma bateria nova.
Eu, que pouco ou nada sei de mecânica
de carro, questão que o meu falso amigo sabia, pesquisei com a concessionária a
marca das baterias com que estes carros saiam de fábrica e qual não seria a
minha surpresa ao constatar que “o coisinha”, trocou a mesma, pensando que eu
não repararia e a final, se eu vendesse o veiculo, o problema passaria para
frente, mas a esta altura ele já teria se dado bem e obtido um troco pelo
serviço que não executou, nem concluiu, mas deu o golpe e se saiu bem,
obedecendo ao seu modus operandi.
Não perdi meu tempo em tirar
satisfação dele. Certamente o prejuízo seria repassado, ainda que isto não tenha
nada a ver com a minha índole.
A minha falsa amizade é com ele. Os outros
integrantes da família são boas pessoas e não mereciam passar por este
constrangimento.
Eu desfruto toda vez que o
encontro e compartilhamos um pouquinho.
Por um lado, ele se achando o
máximo por ter me passado para trás e eu nem ter reparado, segundo a sua pobre
e limitada conceição da vida e do outro lado eu, fingindo de bobo, mas agindo
atentamente, sem que ele perceba que estou antenado.
É o jogo da vida. É o jogo entre
o Bem e o Mal.
Quem sabe, agora que estamos em
época de comemorações, a gente junta as panelas um dia, como costumávamos dizer
e cada um será feliz pelo seu lado e a sua maneira.
O macabro pode-se tornar ridículo
e o ridículo, pode-nos provocar satisfação. É só um problema de ponto de vista
e da parte em que você se encontra.
Quer ser feliz por uns instantes?
Deixe os outros acreditarem, que você não sabe, que você está por fora, que
você está com nada, finja de bobo!
E você, meu querido amigo:
esqueça-o. Você ganhou um aprendizado e isso, não tem preço.
Feliz Ano Novo para você meu
amigo, para tua companheira e para as tuas filinhas também.