segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Chef de Cozinha

Nos últimos tempos tem proliferado uma “nova” modalidade de reality show, que a pesar das variações nos nomes, a finalidade é mostrar as habilidades culinárias dos participantes (será?) ou talvez exaltar o “carisma” dos condutores, constatando a imensa riqueza e variedade de paladares que existem, ao menos as mais famosas dentro da cozinha internacional e local.

Eles ecoam na tv aberta e por assinatura também. Alguém me comentou que virou uma espécie de commodity, de curinga, para salvar / elevar a audiência em muitos canais, porque caiu no gosto popular.

O certo, ao meu modo de ver, é que esta avalanche, esta hemorragia incontrolável de programas similares, está trazendo à tona algumas questões, com as quais não me identifico.

Durante anos ministrei cursos e ouvi falar sobre novos paradigmas nas relações humanas, na gestão de pessoas e dentre os postulados que existem, nenhum chega próximo dos exageros e na generalização das humilhações, que constantemente acontecem nos episódios televisados em alguns destes programas.

Será que os consumidores desses produtos da mídia gostam, sentem prazer ao ver os participantes sendo humilhados, esculhambados daquele jeito?

Será que para elevar a competitividade, a competência, o compromisso e o alcance dos objetivos de alguém ou do coletivo, precisamos de tanta aspereza e desrespeito?

Ninguém se rebela ou bota um freio por orgulho e amor próprio nesses comportamentos?

O objetivo destes programas é habilitar um espaço para o show de um renomeado Mestre de Cozinha?

Ao mesmo tempo, praticamente nunca a sumidade convidada ou o centro das atenções é de origem tupiniquim. Para o sucesso da proposta, é importante que o anfitrião ou anfitriões tenham um sotaque peculiar e quanto mais carregado, mas estará garantido o sucesso. Longe de mim qualquer manifestação ou sintoma de xenofobia. Ninguém menos do que eu para ser suspeito de semelhante aberração ou discriminação, mas a fórmula já cansa.

A mensagem subliminar seria que nós nunca seremos celebridades na área? Seria este um espaço reservado para os nascidos no primeiro mundo? Teremos que sentir sempre que o fatalismo geográfico nos persegue?

Que à semelhança do tempo da colônia, teremos que baixar a cabeça, dizer sim Chef e obedecer, sem a menor oportunidade de revidar, porque a tua voz nunca será ouvida. Você nunca terá a menor chance de se explicar e convencer, porque você é um ser inferior e a estrela tem tanta luz, que o teu fulgor se perde.

Toda esta situação, todo este ambiente o acho no mínimo estranho e desconfortável.

Desde o alto do orgulho da minha raça, do orgulho da minha ascendência tercermundista, da minha condição de homem e ser humano, nunca me submeteria a semelhantes berros e desrespeitos.

Por sorte, toda esta mercadoria tem prazo de validade e virarão lembranças, que para muitos trarão lucros, dinheiro, etc., mas o legado, considerando o acima descrito, não seria motivo para se sentir satisfeito.

Para ser justo, confesso que não sou fã, nem persigo este tipo de programas e nenhum outro. Aqueles que levantaram a bandeira do respeito ao próximo: Parabéns. Aqueles que dentro das repetitivas abordagens encontraram propostas diferentes e melhores: Parabéns.

Casualmente, algum tempo atrás esbarrei num canal, com uma competição do ramo, onde uma dona de casa concorria com 06 Chefes de Cozinha e o formato da produção era bem ameno, a participação do condutor era agradável e o disfrute do público aparentava ser bom. A gente embarcava nas emoções da participante.


É só um ponto de vista. Se você não se importar com isso ou enxergar de outra forma: Parabéns também!

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

A Galinha d’Angola

Há vários dias está nos visitando em casa uma galinha d’Angola, que parece que está perdida ou procurando alguma coisa, que não chega, que não encontra.

Na minha terra é conhecida como Guineo. São bem ariscos e ágeis, mas esta, ao parecer, está acostumada com o convívio, a presença dos humanos e dos animais domésticos.

Ela, ou talvez ele, fica nas áreas externas da residência e passa longas horas no mesmo lugar, entoando um peculiar cântico, que por vezes te faz desviar a atenção, dependendo da intensidade. Ainda bem que à diferença do galo da vizinha, não tem o despertador desregulado.


Várias pessoas me comentaram sobre crenças populares ligadas à existência e aparecimento súbito destes animaizinhos, mas até agora, ninguém soube elaborar uma frase completa ou lógica sobre o assunto.

Só sei que eles me remetem à minha infância, quando viajava ao interior do país e ficava distraído acompanhando com a vista, bandos destas aves.

A principal e mais recente lembrança que guardo relacionada com eles, é a dos meus filhos, quando eram crianças, no maternal, onde lhes ensinavam canções lindas, antológicas músicas. 

A homenagem que o Vinícius de Moraes fez para esta criatura, nunca saiu da minha cabeça, junto com a maravilha de ver a aqueles pequenos seres, felizes, possuídos pela toada e imersos na vasta imaginação, que afortunadamente, a pouca idade lhes propiciava.

Coitada, coitadinha
Da galinha-d'Angola
Não anda ultimamente
Regulando da bola

Ela vende confusão
E compra briga
Gosta muito de fofoca
E adora intriga
Fala tanto
Que parece que engoliu uma matraca
E vive reclamando
Que está fraca

Tou fraca! Tou fraca!
Tou fraca! Tou fraca! Tou fraca!

Coitada, coitadinha
Da galinha-d'Angola
Não anda ultimamente
Regulando da bola

Come tanto
Até ter dor de barriga
Ela é uma bagunceira
De uma figa
Quando choca, cocoroca
Come milho e come caca
E vive reclamando
Que está fraca

Tou fraca! Tou fraca! Tou fraca!

Aleatoriamente, ora a galinha estava no nosso lote, ora ficava em cima do muro ou andava pela rua, exposta aos carros e outros perigos. Então tivemos a ingênua ideia de gravar o som do canto que emitia e uma vez, quando ela esteve mais afastada, colocamos a gravação feita com o celular, para atrai-la.

De repente, a galinha se disparou a correr na nossa direção e atacou a gente. Tivemos que correr e entrar às pressas em casa, para protegermos das investidas. 

Foi muito engração ver vários adultos correrem por causa da bichinha, além de termos que aguardar um bom tempo, para podermos abrir portas e janelas e sairmos de casa novamente.

Ninguém esperava aquela reação. Quem sabe ela imaginou que a gente estava zoando-a e ficou zangada. Mas, essa não foi a nossa intenção.


Só sei que ela pode estar fraca, mas fraca não é, não!