sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Um dos meus amigos (7)


Da história a seguir eu me apoderei. Ela, felizmente não aconteceu comigo, mas eu tomei as dores do meu amigo, uma excelente pessoa, que eu quero de uma forma ou outra homenagear.

Dizer que a desonestidade é a “qualidade” mais marcante do brasileiro ou concluir em que a “Lei do Gerson” sintetiza magistralmente o proceder e o comportamento deste povo, seria meio injusto ao tempo que meio benévolo.

A citada lei poderia ter infinidade de nomes, desde os mais comuns passando pelos menos assustadores até chegarmos ao precioso estágio de aqueles nomes, que não só são aberrações da língua e a imaginação – criatividade, como que são carregados, em muitos casos, por seres bizarros, revoltantes, em fim, repugnantes.

Um dos meus amigos faz jus a este sagrado princípio da falta e/ou inversão de valores, onde o fim sempre justificaria os meios. Ele faz questão de se autoproclamar um experto urbano, um catedrático da vida e por esta razão, acredita que todos são e somos tolos, que ele sempre está um passo, quando não vários, a frente de nós.

Em certa ocasião, eu precisei vender um carro, mas não estava com tempo, nem com vontade de procurar compradores. Ele, que é um clássico busca-vida, que mexe com tudo o que é possível de imaginar, para ganhar qualquer “10 real”, também tinha a sua faceta de corretor de automóveis e alardeava de lucros na compra e revenda de carros.

Não deu outra, o meu carrinho, praticamente novo e muito pouco rodado, coloquei-o nas mãos dele, que a primeira coisa que fez, foi aplicar uma limpeza inaudita e o deixou lustroso.

Até aqui, tudo bem.

Mas, quão ingênuo seria eu ao pensar que aquela limpeza só serviria, para dar uma aparência ainda melhor ao carro, quando de fato, não precisava de lero-lero.

O meu amigo, aliás, chega de ironia e hipocrisia: o meu falso amigo, esteve fazendo um profundo estudo das vantagens que poderia tirar, caso não pudesse obter muitos dividendos com a venda ou se a mesma não acontecesse nunca. Perder, nem no campeonato de cuspo!!!

Todos os dias, o sujeito me perguntava quanto iria ganhar com a venda, ou seja, o percentual, etc., e eu tinha que ouvir os cálculos em voz alta, que o personagem fazia assim como as reações de inconformidade / satisfação que manifestava.

Entre a crise econômica que vive o mundo e da qual o Brasil não ficou fora, assim como da oferta crescente de veículos novos incluindo, condições de pagamentos a se perderem de vista e desconsiderando a “boa” gestão do pilantra, o carro algum tempo depois voltou a minha garagem, para ficar empoeirado por mais algumas semanas, até que decidi vender para uma concessionária.

Já poderão imaginar o quanto recebi e o bem avaliado que foi, mas eu não tinha muitas alternativas e afortunadamente, naquela época, a diferença entre o que não me pagariam com pouco esforço e o que me pagariam com um desgaste maior, não se transformaria naquele conforto.

Confesso-lhes que pulei a parte que provocou esta minha atual reflexão, mas agora eu contarei.

Quando o carro retornou à minha garagem, eu sempre semanalmente o ligava, para mantê-lo em boas condições operacionais, como fazia antes de entrega-lo para o elemento, que viabilizaria a venda do mesmo e a partir deste retorno, toda vez que queria ligar o carro, a bateria estava arriada, o que era inverossímil e inaceitável para um carro novo, logicamente com uma bateria nova.

Eu, que pouco ou nada sei de mecânica de carro, questão que o meu falso amigo sabia, pesquisei com a concessionária a marca das baterias com que estes carros saiam de fábrica e qual não seria a minha surpresa ao constatar que “o coisinha”, trocou a mesma, pensando que eu não repararia e a final, se eu vendesse o veiculo, o problema passaria para frente, mas a esta altura ele já teria se dado bem e obtido um troco pelo serviço que não executou, nem concluiu, mas deu o golpe e se saiu bem, obedecendo ao seu modus operandi.

Não perdi meu tempo em tirar satisfação dele. Certamente o prejuízo seria repassado, ainda que isto não tenha nada a ver com a minha índole.

 A minha falsa amizade é com ele. Os outros integrantes da família são boas pessoas e não mereciam passar por este constrangimento.

Eu desfruto toda vez que o encontro e compartilhamos um pouquinho.

Por um lado, ele se achando o máximo por ter me passado para trás e eu nem ter reparado, segundo a sua pobre e limitada conceição da vida e do outro lado eu, fingindo de bobo, mas agindo atentamente, sem que ele perceba que estou antenado.

É o jogo da vida. É o jogo entre o Bem e o Mal.

Quem sabe, agora que estamos em época de comemorações, a gente junta as panelas um dia, como costumávamos dizer e cada um será feliz pelo seu lado e a sua maneira.

O macabro pode-se tornar ridículo e o ridículo, pode-nos provocar satisfação. É só um problema de ponto de vista e da parte em que você se encontra.

Quer ser feliz por uns instantes? Deixe os outros acreditarem, que você não sabe, que você está por fora, que você está com nada, finja de bobo!

E você, meu querido amigo: esqueça-o. Você ganhou um aprendizado e isso, não tem preço.

Feliz Ano Novo para você meu amigo, para tua companheira e para as tuas filinhas também.