sábado, 24 de junho de 2017

Florida. Estados Unidos.

Muitas vezes, pelo menos todas as vezes que escutei a canção, daquele que tentou escrever a canção mais bonita do mundo, o cantor e compositor Joaquin Sabina e que sem dúvidas o conseguiu, tentei me explicar o porquê da frase: “...não sabia que a primavera durava um segundo...”. Este é um simples símbolo, uma bela metáfora, que só quem experimentar alguma coisa muito intensa e muito boa, poderia compreender o significado exato dessas palavras.

Foram duas semanas, mas pareceram breves instantes. A minha primavera consistiu em visitar a minha esposa, que há algum tempo está nos Estados Unidos e fazia meses que não nos encontrávamos pessoalmente. Nem a chuva da estação conseguiu mermar o brilho destes dias.

Além do que representou para o casal o reencontro, para mim era importante constatar que estava tudo bem com ela e que fora da questão sentimental de distanciamento familiar, o que é bastante pesado para todos no nosso lar, o processo de adaptação e progressão andava conforme previsto. Isto é só uma fase das nossas vidas.

Durante esta viagem compartilhei com vários amigos que fazia em alguns casos, trinta anos que não nos encontrávamos. Foi como andar numa trilha do passado, uma volta ao mais prezado da minha história. Foi bom lembrar. Há muita coisa que não merece ser esquecida. 

Fiquei gratamente impressionado pelo que vi naquele lugar, que além de ser genuinamente americano, para muitos a Florida é o norte da América Latina. Respira-se latinidade por todo quanto é lado, mas o selo americano impera em todo, inclusive no mais autenticamente latino.



Não fiquei iludido pela variedade de produtos, nem pelos preços convidativos. Por sorte, a minha fase altamente consumista já foi superada. Hoje sou mais seletivo, mas adepto ao desapego ainda que magnetizado pelo belo necessário.




Ao retornar ao Brasil, era das poucas pessoas que estava com uma mala só. Acumular objetos não faz parte das minhas vontades, das minhas prioridades.

Fiquei impressionado pelo modo de vida, pelo que sempre ouvi falar como American Way of Life. Dá a impressão que a maioria das coisas por lá e muito bem pensada, ações planejadas. A limpeza é extrema, o respeito ao espaço alheio, o cuidado e o capricho nos restaurantes, lojas e lugares públicos em geral, é admirável.

Menção aparte para a segurança e a não violência.


Pelas ruas de Miami Beach.
Não é menos certo que atos delitivos acontecem, mas a probabilidade e a frequência dos mesmos é bem baixa. Pessoas grossas, mal educadas, de mal com a vida, encontram-se em todas partes, inclusive lá. Miseráveis que carregam misérias como discriminação, racismo, achismo, diversos tipos de preconceitos também existem, mas a tolerância ao delito e a proporção do aparecimento dos mesmos, são significativamente menores.

O mundo todo deveria fazer um processo de preservar o bom que tem cada país e importar as coisas positivas que se praticam em outros lugares. Fazer uma combinação do melhor que a idiossincrasia regional produziu com os avanços alheios e assim não seria um mundo uniforme, monótono, mas com certeza mais justo, mas humano, mais de todos.

Eles têm muito para progredir, para aperfeiçoar, mas em muitos aspectos, estão lá na frente e não reconhecê-lo seria tolice.

Dá dor saber que temos condições para usufruir das mesmas bondades nos nossos cantos, mas falta uma vontade expressa e concreta para alcançar patamares superiores. Tem que ser um projeto de vida, um projeto de gerações, um projeto de nação e não a ambição de um partido, o capricho de um homem e muito menos uma sequencia vergonhosa de manipulações para se perpetuar no poder, que venham a destruir a esperança e o direito à dias melhores.



Merecemos uma passagem mais digna e decorosa, para nós e para os que virão depois. Ninguém consegue viver o tempo tudo numa bolha, isolado num país onde há tantas mazelas pensando que nunca será prejudicado por elas.

Se quisermos construir um mundo melhor, teremos que formar seres humanos melhores. Criar leis não é suficiente. Tem que existir fiscalização rigorosa.

sexta-feira, 17 de março de 2017

MILAGRE!


Eu sempre brinco com os meus filhos, dizendo que quando eu morrer, eu gostaria que eles entrassem com um processo de canonização, me intitulando Santo Lino, o Santo protetor dos Pecadores.

Eu mesmo nem sei da onde surgiu essa ideia maluca, essa intenção brincalhona, essa pretensão tão absurda, mas analisando até no meu próprio subconsciente, isso eu o faço para que quando chegar o momento da minha despedida deste mundo, o possam associar com um fato jocoso e ajuda-los a deixar um pouco menos pesada, a tristeza do momento.

Todo processo de canonização, precisa de uma boa argumentação, de evidências de curas, da associação com fatos, que se não fosse pela ocasião, seriam considerados inverossímeis, etc., ainda que de por vida os incrédulos nunca acreditem em tais milagres.

No meu processo estaria faltando este quesito.

Remexendo na memória, lembrei-me de um fato.

E não é gente que eu fiz um milagre?

Vou contar e quero que prestem atenção.

Na década dos anos 1990, eu já estava casado e morava no Brasil, só que ainda não tínhamos filhos. Certo fim de semana, fomos convidados por uns bons entranháveis amigos de Itabirito para visitar, conhecer e pernoitar na cidade de Mariana, uma cidade histórica mineira de importância para o Estado e para o todo o país, sendo a Primeira vila, cidade, primeira capital, sede do primeiro bispado e primeira cidade a ser projetada em Minas Gerais.

Com todos estes atributos, esperávamos que a visita prometesse e reservasse lindas surpresas.

E foi assim, sim. Fizemos um interessante roteiro e todos ficamos satisfeitos com a visita.

A cidade também se caracteriza, ao igual que muitas outras cidades do estado, pela topografia montanhosa, a culinária deliciosa e uma carga expressiva de religiosidade, que vem desde as antológicas igrejas até os costumes atuais dos seus moradores, que preservam ou lutam por não deixarem morrer, tradições interessantes e valiosas.

Na hora de descansarmos, fomos convidados a ficar na casa de um casal que conhecemos lá e que são amigos do pessoal que nos convidou ao passeio. Com eles, durante o dia, também compartilhamos e desfrutamos daquilo com que a cidade presenteia os visitantes e aos seus próprios filhos.

O casal tinha uma filha pequena, de aproximadamente 03 ou 04 anos: a Leti como a chamarei carinhosamente, de agora em diante. Na verdade era um amor de pessoinha, uma doçura de anjo, muito ávida, porém tinha um pequeno distúrbio para o qual já tinha sido tratada, mas os médicos diziam que subitamente o problema desapareceria.

O transtorno de natureza psíquica consistia em que a princesinha não dormia, não conseguia conciliar o sono e passava toda a madrugada tranquila, acordada, brincando, fazendo alguma coisa. 

A casa estava estruturada para oferecer o conforto necessário, para lidarem com esta anomalia e evitar que a menina se acidentasse no seu périplo costumeiro. Ela ficava na dela e ninguém se incomodava e ninguém a incomodava.

Naquela noite, como em tantas outras noites naquele lugar, fez muito frio e ainda que a casa estivesse preparada para tais condições, o aspirante a santo aqui, estranhou.

Santos também temos problemas e em mim não poderiam faltar. Eu nunca consegui lembrar nenhum sonho ao acordar, mas tenho a impressão de ter tido lindos sonhos ou terríveis pesadelos, ao longo da minha vida,  todos eles associados ao meu primeiro humor do dia. Se acordo agitado, muito suado ou até com dor de cabeça, é sintoma de que a minha madrugada não foi das mais calmas.

A minha esposa já me acordou várias vezes ao ouvir os meus gritos e reações em geral, durante as noites onde a malvadeza viaja do subconsciente à realidade indiscutível, de quem passou por esses contratempos.

Aquela histórica e milagrosa noite não foi diferente, mas ao parecer eu estava inspirado, fui um tom acima da nota que costumava dar em outras ocasiões e eis ai que aconteceu o milagre.

A Leti estava passando coincidentemente por perto da porta do quarto onde dormíamos, ela foi atraída por alguma curiosidade, eu estava prestes a realizar minha obra e segundo contam, ela acompanhou o meu grito com outro alarido de espanto.

Simplesmente, correu para os braços da mãe e diz: “Mãe, o moço gritou” e estava bem assustada.

Só sei que depois daquele dia, lindas noites de sono e descanso finalizam os dias da Leti e se livrou do trauma.

Hoje já deve ser uma mulher e espero que continue com bons sonos.

Espero também que o desastre ambiental, ainda recente, nas proximidades da região e que tristemente elevou a celebridade da cidade a nível mundial, não tire o brilho, o esplendor, a luz deste cantinho do mundo.



Esta, mais que uma justificativa para um fictício processo de canonização, é uma homenagem e um agradecimento a aquelas pessoas que nos acolheram e que com certeza não viverei o suficiente para professar a minha gratidão, mas se me eternizarem como santo, certamente receberão as minhas mais sinceras bênçãos, todas as manhãs e todas as noites do mundo.


terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

One decision! An abnormal and almost foolish goal.

During all these years that I’ve writing in this blog, some people ask me to post in English. Usually, those persons understand a little Spanish and /or Portuguese, but they would like to feel the words in a language closer to them.

I stopped of feeding my blog, because I was waiting for the time to achieve the properly and better knowledge of English language. I think that I should start right now, to stimulate the fluency speaking, writing and to lose the fear.

That was a goal. For some people could be a bit silly, but for me, it was very necessary.

Actually, I have been very busy recently and the tiredness has not allowed me to dedicate myself to writing, which is one of my hobbies. I confess, I do not have many, but the few that I recognize to have, give me infinite pleasure and wellness.

I’ll try to preserve some of the marks that characterize my way of expressing, where fancy words do not prevail, but I like to provoke the thought, to make you re-read for comprehension. Perhaps this is one of the reasons that have limited me until today to take this step, which will allow me to reach more people.

Basically, today, this is a sincere and simple homage to someone I love very much, who is far away, but that much sooner than later, the life will unite us again and we will be very happy as we have been during all these beautiful years, for everything what we have created and for our most beautiful creation: Our children.



In a couple days I’ll try to write on real and simple history.

Hope you enjoy it!

I count on your support.

It is very likely that in a few years I will be laughing at my English today.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

VOCÊ NA FRENTE, SEMPRE!

Há uns tempos atrás, depois de mais de 30 anos de engenharia, de participar de incontáveis comissionamentos e pré-operações, pela primeira vez tive que ficar hospedado em um alojamento, que pertence a uma empresa, cujo nome até faz não muitos anos era um pouco extenso e acompanhado de “água com açúcar”, mas que depois decidiu simplificar e ficou só numa palavra, o que lhe daria maior facilidade de pronuncia nas diferentes línguas que a receberiam.

A estratégia de MKT deu certa e o nome, bastante conhecido internacionalmente, torna-se fácil de decorar e repetir por todos.

Hoje, essas quatro letras estão salvando o Brasil, que está submerso em uma crise económica, política, social, institucional, ... moral, sem precedentes, como nunca antes na história deste país.

Confesso não ter  visitado antes um alojamento de obras. Por sorte, sempre fiquei em hotéis, apart-hotéis ou apartamentos alugados. A vida dá muitas voltas. Eis eu aqui na Terra Prometida. 

Ao chegar ao lugar, me senti chocado, mas o aceitei em silêncio. Vim com uma carga de indisposição e predisposição impressionantes. Só consegui sentir semelhanças com campos de concentração que teria visitado mundo fora, mas nas condições económicas do momento, somente me restava agradecer à aquela empresa de quatro letras, por ter gerado empregos, subcontratar a empresa onde trabalho e permitir pagar minhas contas e dar uma condição de vida melhor para minha família.



Com o decorrer dos dias comecei a ver as vantagens de estar naquele lugar e reparei que não era nada de ruim. Tinha mais aspectos positivos do que negativos. Muita área verde, campos para a prática de atividades esportivas, salas de jogos, academia bem equipada. As construções eram rústicas, mas a empresa nossa, visando dar o melhor conforto, mobiliou os quartos que eram individuais e com banheiro, de uma maneira que não havia motivo algum para reclamar.



O ambiente que se respirava em aquele lugar era bem sadio. A maioria das pessoas se cumprimentava ou fazia por responder a um "bom dia" ou 'boa noite", ainda que de forma tímida ou peculiar.

Era fácil fazer amizades e com pessoas de extrações sociais bem diferentes, indivíduos com os quais a gente não se relaciona com frequência e começar a descobrir novos mundos e novas realidades, interessantes, necessárias.

Pelo fato de não ser permitida a ingestão de bebidas alcoólicas, nem a entrada de pessoal alheio, problemas de brigas, relacionamentos difíceis, etc., não eram comuns, nunca presenciei ou tive conhecimento de algum, pese a que o 95% ou mais das várias centenas de pessoas que habitávamos o lugar, éramos homens.

Quando fiz o check-out senti um pouco de nostalgia. Reconheço que lá eu fui feliz.

Agora teria que morar num hotel na cidade, com incomparavelmente melhores condições, mas estaria exposto a outras situações que no alojamento, ao que carinhosamente apelidamos de “Muquifo” pela primeira impressão que passou, tinha esquecido, tais como violência, discriminações, problemas com a segurança, etc.

A quantidade de gastos pessoais aumentaria. No “Muco” a alimentação, lavanderia, academia, água para beber, etc., estavam incluídos. Agora isso todo ficaria pela minha conta.

Falei sobre a facilidade de fazer amizades naquele lugar, mas curiosamente, só um senhor gordinho, baixinho e de cara fechada, costumava me encarar e nunca respondia quando o cumprimentava. Me observava de longe.

Não atinava a entender qual era o problema dele, mas também não dava importância. Era um, dentre tantos, que se tornava insignificante, mas não deixava de ser estranho o comportamento dele.

A nossa empresa instalou em todos os quartos dos funcionários um sistema de televisão por satélite, para o lazer de cada um dos colaboradores. Quando o representante do provedor chegou, disse que não precisava instalar uma nova antena porque havia outras próximas ao meu quarto e as mesmas tinham sido instaladas pela companhia onde ele trabalhava.

Não concordei com essa posição e repassei este parecer para minha empresa, mas não tomou nenhuma providencia pese a estar pagando por uma antena também, segundo rezava no contrato.

O sujeito foi lá, de uma antena que já existia, puxou um cabo até o meu quarto, furou a parede e horas depois o mundo se abriu para mim na tela da TV.

Até ai, tudo bem.

Os dias continuavam passando e toda vez que coincidia ou topava com aquele individuo gordinho, baixinho, de cara fechada, de abdômen pronunciado e de pele no rosto pouco lisa, era recebido com um olhar atravessado.

Um bom dia, o sinal de TV deixou de chegar até o meu receptor e pedi ajuda a um dos bons amigos que fiz por lá, que se entendia com esses assuntos de antenas e descobriu que alguém tinha soltado o meu cabo.

Lá foi o meu amigo, ao qual uma vez apresentei o meu projeto de auto-canonização sem pararmos de rir, reestabeleceu a conexão e a felicidade voltou.

E o senhor continuava a me olhar com cara feia.

Até que um bom ou mal dia, alguém bateu na minha porta tirando satisfação por eu estar usando de maneira indevida ou roubando o sinal de TV dele.

Adivinhem quem era o agraciado?

Acertaram, era ele, o senhor gordinho, baixinho, de cara fechada, de abdômen pronunciado e de pele no rosto pouco lisa.

Ai eu expliquei o que vocês já conhecem sobre que os dois éramos vítimas de uma empresa pouco séria e que fez a instalação paga, como se fosse um clássico “gato”.

Ele não soube como me pedir desculpas. Ficou visivelmente constrangido.

A falta de comunicação, a ausência de diálogo teria provocado situações bem desconfortáveis.

Os dias passaram e continuei assistindo televisão sem problemas.

Agora entendi porque me olhava daquele jeito. Talvez pensava que eu seria um neguinho safado e ladrão.

O dia que apareci no alojamento para fechar o meu contrato e cancelar o crachá, o senhor se aproximou de mim e me disse: há dias estou-te procurando, peço para me dizer quando for sair do alojamento, para não cancelar o meu contrato de TV por satélite antes e não te prejudicar.

Agora a gente se cumprimenta e sorri.