domingo, 26 de outubro de 2014

Oscar Pistorius – O Monstro sem pernas?

O que aconteceu naquele fatídico dia de 2013, só ele e a Reeva o sabem. Melhor dito: somente ele o sabe.

Talvez algum advogado ou familiar saiba exatamente o que aconteceu.

Talvez a perícia saiba realmente o que aconteceu,

Será o Pistorius lembrado como uma glória esportiva, vencedor do Laureus, o Oscar do esporte, que nos ensinou sobre superação e aceitação das diferenças, como um atleta que ganhou inúmeras medalhas e que achou que deveria ganhar muitas das que não ganhou, como o incidente com o velocista paraolímpico brasileiro Alan Fonteneles, durante as Paraolimpíadas de Londres 2012, na final dos 200 m T44?

Será o Pistorius lembrado como o Monstro sem pernas e quem sabe, sem coração, que cometeu semelhante atrocidade e que como diria a mãe da namorada assassinada, culposa ou dolosamente, catalogando-o de ser "arrogante, louco, lunático, explosivo, possessivo, distraído e sorrateiro".

Será o Pistorius lembrado?

Para aqueles que acham que onde houve fogo, cinzas ainda restam, estabelecendo o paralelo com as reminiscências de um Apartheid, que ainda não saiu, nem sairá das lembranças de uma população negra dizimada, que compara e considera leve, a pena de 05 anos pelo crime cometido por um sul-africano branco, quando esta quantidade de anos é bem inferior a que receberia um cidadão, preferencialmente negro, por matar um rinoceronte e outros animais selvagens. Não é menos certo que alguns desses animais estão em perigo de extinção.

Nenhum dos dois fatos têm justificativa.

Seriam estes, fatos comparáveis?

Em fim, as minhas palavras só albergam tanta dúvida como comportou todo o processo em torno deste incidente, que infelizmente teve tanta ou até mais cobertura da imprensa do que os funerais dos doze dias da morte de Nelson Mandela, segundo algumas estatísticas.


Será que a vida de Pistorius é mais importante que a Vida e a morte de Nelson Mandela? Mas, aqui terminam as minhas dúvidas: NUNCA.

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Reflexões de um emigrante – imigrante

No mundo de hoje, a emigração e, por conseguinte a imigração deixaram de ser fenômenos, para se tornarem “commodities” do dia a dia e da realidade de milhões de seres humanos, cada um com suas especificidades, sucessos, riscos e detalhes comuns e diferentes.

É uma decisão gigantesca, que envolve muitas incertezas, rodeada de interrogantes.

A mesma pode ser tomada em circunstâncias diferentes.

Posso dizer que fui um afortunado. Não tive que enfrentar as peripécias de centenas dos meus conterrâneos, que se lançaram a um mar infestado de tubarões, com ondas significativas, sob um sol escaldante, famintos, sedentos, achando que aliviariam suas penas no lugar, que desde que nascem, se lhes inculca que é o pior lugar do mundo, onde vivem os maus.

Também há muitas histórias terrivelmente tristescruzando fronteiras, guiados por coiotes, estafadores, atacados por zetas e amparados por muitas e muitas incertezas. É o momento onde você entende que só pode contar com a fé, a sorte e os surtos de boa vontade dos homens. Que além do milagre da vida existe o da sobrevivência. Que pese a que às vezes nos sentimos esquecidos por Ele, há sempre um Deus velando, zelando ou ao menos torcendo por nós.

A parte que consegue chegar descobre que a realidade sempre é mais ou menos, do que imaginamos, mas que é lá ou ali no reduto dos maus, onde a maioria encontra a felicidade ou o que estavam procurando e nem por isso viraram maus, nem piores, nem indignos.

Outros tiveram que vender, não só seus corpos, senão suas almas, para tentar uma saída (fugida) menos complicada do país.

Eu não vendi, nem troquei, nem trai nada. Só exerci o meu direito à liberdade, a minha vontade suprema e soberana de escolher. Eu não escolhi esperar. Eu escolhi: agir.

Existem relatos mil de manifestações contrárias contra imigrantes, vistos como usurpadores.

Explicitamente, reitero: explicitamente, durante minha permanência neste país, só tive no ambiente de trabalho, uma manifestação de xenofobia e a mesma foi denunciada por mim, para a diretoria da empresa, que ficou do meu lado e não compactou com a atitude do indivíduo, que albergava uma mistura de sentimentos ruins e insanos. Confesso que esqueci o nome do sujeito. Só lembro-me daquela cara gorda e desagradável dele, que parecia que sempre estava chupando limão e com uma expressão diarreica no rosto. Nunca consegui olhar muito para ele, mas sei que nunca o vi rir.

Outras manifestações encobertas e disfarçadas existiram, mas fundamentalmente por outros miseráveis que não se adaptaram ao meu visual não saxão, a minha ascendência tercermundista, ao meu sotaque não europeu e principalmente, que não entenderam a minha dignidade, o meu orgulho, os meus valores, os meus princípios, mas eu as tirei de letra, como administro as que persistem e as que virão.

Durante muitos anos, as minhas saudades estiveram associadas à pessoas, à familiares que perdi ou que ainda me esperam, à amigos, à algumas atividades que preenchiam minha vida, vinculadas com a proximidade do mar, o estádio de beisebol, uma vida cultural mais diversificada e intensa, o amor pela leitura. Todas elas me faziam esquecer temporariamente, os motivos que me forçaram a emigrar: a asfixiante situação em que sobrevivia, no meu país de origem.

Retornava de visita, com certa frequência, ao lugar onde nasci, mas sempre voltava com uma carga de insatisfações e dores ao mesmo tempo, mas com a convicção e o compromisso da missão que me tocou: viver e ajudar a viver aos meus.

As sequelas do abandono, da renúncia.

Nunca me senti abandonado. Eu não renunciei a nada.

Os meus filhos desde que conheceram o lugar que deu vida aos seus pais e quando voltam a visita-lo ficam felizes, porque lá eles sentem o peso e a alegria de terem família aumentada. De saberem que são queridos e bem recebidos por muitas pessoas, que estão curiosas por se relacionar e sentir que são próximos, como deveriam ser, se o destino não tivesse traçado outro derradeiro para eles.

A felicidade, a alegria, o bem estar, as conquistas, não apagam as nostalgias, que vão se transformando.

Ora não me importava com o lugar como tal, as minhas saudades tinham uma fonte, essencialmente humana. Hoje almejo poder passear por aquelas ruas onde o vento batendo no meu rosto me trazia só calmaria e lembranças da minha infância, de quando era um menino feliz, quando ninguém estava morto, de quando a possiblidade de emigrar, nem chegava perto dos meus pensamentos. Nunca pensei em emigar, simplesmente emigrei. Não tive que passar por aquele calvário mental, aquela angústia que rodeia aos emigrantes da minha ilha.

Poder ir: posso. Poder fazê-lo: posso, mas a beleza literária das recordações esbarraria com uma realidade nua e crua e temo quebrar o idílio da minha imaginação, que às vezes não acordou deste maravilhoso sonho que é viver, desta inigualável realidade que é a vida.

Independentemente, do que alguns possam pensar e inferir, eu não sofro tanto assim, eu me divirto muito, eu sou feliz, sou muito grato a tudo de bom que aconteceu comigo, ao que aprendi, ao que agreguei e a todos os que tiveram algo para me ensinar inclusive até quando aparentemente, era eu quem estava ensinando-os.

Esses são os ingredientes dessa enorme iguaria, que é a vida e que eu aprendi a saborear: Alegrias e Tristezas.

Que seja do jeito que for, mas é bonita, é bonita e é bonita!