terça-feira, 29 de dezembro de 2015

CUBA

Após quase 08 anos sem retornar ao meu país, onde há 54 anos vi a luz e também a escuridão, onde aprendi a viver (segundo o canta-autor Donato: "Tão mal que, todavia não sei viver" respeitando todo o contexto da música e sem tentar desvirtuar a frase pelo seu carácter isolado), onde adquiri conhecimentos e valores que me acompanharam para toda a vida, assim como uma extensa carga de emoções e sofrimentos, entendo que não vale a pena escrever sobre as minhas impressões sobre o lugar, pois não deixariam de ser só isso, impressões sobre um lugar ambíguo e confuso. 

Um olhar para uma fotografia amarelada pelo tempo, que tenta ser restaurada, mas, ... 

Um cenário sobre o qual só existem opiniões desencontradas, parcializadas, muitas vezes hipócritas e sem sinceridade. Onde a minha seria mais uma, Não teria porque ser a melhor, nem necessariamente a certa, ainda que criteriosa, por ter vivido aquela realidade, mas me reservo esse direito, ao menos hoje.

Como dissera o poeta:
Desde una mesa repleta cualquiera decide aplaudir
la caravana en harapos de todos los pobres.
Desde un mantel importado y un vino añejado 
se lucha muy bien.
Desde una mesa gigante y un auto elegante
se sufre también.”

Em outras palavras: Sentado ao redor de uma mesa bem farta, qualquer um decide aplaudir uma caravana esfarrapada de pobres. Desde uma mesa com uma toalha importada e bons vinhos, há quem consegue lutar também. Mesmo contando com uma mesa gigante e um carro elegante, também se sofre.

O que importa é que os meus objetivos se cumpriram, que encontrei bem a família, amigos e vizinhos, que consegui andar novamente sobre a minha história e que pese a todas as adversidades fui MUITO FELIZ, muito bem recebido, muito amado.

Uma coisa ficou clara: não precisei me questionar o sentimento de se eu pertenço ou não a aquele lugar.

Foram ótimos dias e não devo demorar tanto em voltar. Assim eu o senti. Assim o pediram para mim, com os olhos marejados, as pessoas que me amam. Com isso bastou e sobrou!

Só desejo uma longa, uma melhor e mais digna vida para todos.

 Na Praça da Revolução. No fundo o Monumento a José Marti.

Na Praça da Revolução. No fundo a imagem do heroi nacional Camilo Cienfuegos.

Nas escadas da Universidade de Havana. Ao fundo a estátua da Alma Mater.

 Uma vista da Rua San Lázaro no dia da comemoração do Santo Milagroso, no 17 de dezembro de 2015

No Cemitério da Havana. No fundo a Capela Principal, (esclarecendo, é o prédio em amarelo e branco. Os intrusos são inevitáveis em lugares públicos. Ainda que este seja um lugar habitado por mortos, o que está se aproximando por trás de mim não é um fantasma)

 Entrada Principal do Cemitério da Havana

Na frente da entrada do Hotel Riviera em Havana. O calor da cidade em pleno inverno de 31ºC, não permite dispensar a solidária garrafinha de água, que aparece na foto por direito próprio. Bem que o pessoal do Caribe costuma dizer que só existem duas estações: Inverno e Inferno.


Na frente dos Coco-Táxis. Vista parcial de la Bibliteca Nacional à esquerda


Vista do Teatro Garcia Lorca


Numa Praça restaurada da Havana Velha


Ao fundo o famoso e tradicional restaurante El Patio


Na Praça da Catedral de La Habana.

Ciranda da Bailarina

Poderiam até parecer recorrentes as minhas postagens sobre as dificuldades e confusões de compreensão da língua, típicas de um gringo ao chegar e tentar se inserir numa outra cultura, mas é a minha realidade e não farei o menor esforço por me afastar deste tipo de crónicas, sem descuidar outros assuntos do meu interesse.

Tudo se remonta aos começos, aos inícios da minha vida neste país.

Uma excelente e por sinal bela colega de trabalho, me auxiliou muito nos primeiros tempos. Sem ela perceber, me apresentou o país, a idiossincrasia das pessoas e as formas precisas de me conduzir neste novo ambiente. Era uma colaboração muito boa, onde o trabalho de um era complementado pelo do outro e que pese aos conhecimentos que eu poderia lhe passar, aprendi muito com ela e o sucesso do meu trabalho dependia dos esforços e dos resultados do trabalho dela.

Ela casou com o homem da sua vida, saído diretamente do clássico de Alexandre Dumas. Fui ao seu casamento, que esteve muito bom por sinal e ainda que nos distanciamos pela minha transferência para outra empresa, sempre tive notícias. Hoje sei que está fora do ramo se dedicando a outras atividades que sempre desejou, que tem uma linda família com dois filhos e inevitavelmente lembrou-me dos difíceis momentos quando perdeu a primeira filha logo depois do nascimento quebrando tantas expectativas. Fiquei muito triste. Ela estava arrasada, mas logo, Deus deu a dádiva que ela precisava.

Dentre outas características, ela era muito educada, longe de vulgaridades.

Eu sempre fui admirador da extensa obra de Chico Buarque, da genialidade das composições e da singularidade da interpretação. Ainda que outros excepcionais cantores se apropriem de suas músicas e letras, quando cantadas por ele, têm um sabor especial.

Tive até a oportunidade de presenciar dois shows dele no meu país antes da minha vinda para o Brasil e conhecia bastante das suas canções.

Devo esclarecer que admirar a obra de alguém, não é equivalente a admirar esse alguém.

Um grande amigo, o J, quem não vejo há algum tempo e temo que alguma coisa não muito boa tenha acontecido com ele para sumir desse jeito, me presenteou com um disco da autoria do Edu Lobo com a participação do Chico, que eu desconhecia: O Grande Circo Místico.

Bastaram poucos acordes para gostar do que estava ouvindo. Como não delirar perante músicas como “Beatriz”, “A História de Lily Braun”? Mas, uma das músicas chamou de maneira singular a minha atenção: Ciranda da Bailarina. Uma vez mais a engenhosidade do compositor aflorou, ao se pôr no lugar daquilo que não é: uma criança, no seu mundo de ingenuidades, no seu universo de dúvidas e imaginações.

Ela sempre me informava gentilmente, explicando o significado das palavras que desconhecia. A canção da Ciranda da Bailarina tem muitas palavras difíceis para quem não conhece bem a língua e está acostumado com termos convencionais e do dia a dia, tais como: pereba, frieira, bexiga, piriri, lombriga, futucando, zarolho, remela, bigode de groselha, etc., que pelo contexto em ocasiões dá para acertar.

Outra das palavras que aparece na letra da música é: pentelho e lá fui eu perguntar para ela o significado. Ela começou ficar vermelha que nem o padre da canção e um cara bem sacana que estava por perto, o grande amigo V, falou para ela: “agora sim que ficou difícil” e começou dar gargalhadas, ao tempo que ela ficava quase roxa da vergonha.

Ele resolveu o impasse, dizendo que era o mesmo que pêlos púbicos, também fez alguns gestos e para variar me propôs mostrar e presentear com alguns caso eu estivesse interessado. Por suposto que isso não aconteceu.

Mas a história não termina ai. Assim que a minha dúvida ficou aparentemente esclarecida, eu tive a infeliz ideia de perguntar se recebiam o mesmo nome estando perto da genitália masculina ou da feminina. Ai ela não aguentou e começou rir também. Todos riram.

Hoje não preciso mais de esclarecimentos. O pentelho virou objeto raro, ou tiram ou retiram o excesso. Com a evolução da espécie deve sumir. Se foram criados para proteger alguma coisa, hoje, as roupas fazem essa função e se foram criados para esconder alguma coisa, a pornografia e a febre de exibicionismo virtual e real, vão na contramão. O importante é que se veja tudo e os pentelhos, só atrapalham.

Lembrar vocês, minha amiga C, o meu amigo V e o meu amigo J, me faz muito bem. Viajo no tempo. Nos bons tempos.

CANIBALISMO!

Depois de tantos anos morando no Brasil, com a certeza de que entendo praticamente tudo o que me falam e com a convicção de que não se entende quase nada do que digo, ainda acontecem situações inusitadas, por desconhecimento não tanto da palavra, como do contexto, da situação e o uso dado à mesma.

Voltando ao assunto da fala e não da comunicação e honrando o título deste, o meu espaço de desabafo, já ouvi até comentários atrozes, mal intencionados, ao respeito, mas isso e nada para mim são a mesma coisa. Certo é que devo tomar mais cuidados, me dedicar mais. 

Como em todo nesta vida há verdades, subjetividade, relatividade e até alguma que outra miséria humana, às vezes oculta. Ainda que não seja o mesmo, é quase igual, ou seja, dá na mesma e a vida continua. Estou “assim” de preocupado com isso. Mas eu reconheço as minhas insuficiências, das dificuldades da compreensão, mais do que as minhas habilidades em outras esferas e até no campo da comunicação.

Retomando o tema principal. Por questões de trabalho, proximamente devo me deslocar para uma região remota do país, onde está em andamento uma das poucas obras de grande porte que sobreviveu a esta crise, que já entrará no ano de 2016 e ninguém sabe até quando durará.

No fundo, não estou muito curioso por saber sobre as condições do lugar, nem mesmo sobre as regulamentações da viagem, moradia, retornos à cidade onde resido, opções de lazer, etc., porque não tenho escolha. Não há empregos e temos que aceitar o que vier. Faz parte.

Mas às vezes, os que já visitaram o lugar ou estão trabalhando por lá, fazem alguns comentários que desanimam qualquer um.

Dias atrás, estávamos conversando um grupo de colegas e as notícias sobre as características do "lugar", não poderiam fugir. O amigo D, que já é veterano de muitas pré-operações e comissionamentos, que tem bagagem e experiência suficientes como para estabelecer comparativos, já adiantou alguns detalhes preocupantes sobre o nosso próximo destino.

Por outro lado, o seu jeito otimista e simples de ser, de encarar as coisas com leveza, ajudam a diminuir os efeitos negativos. Ao mesmo tempo, ele sempre fala sobre outros aspectos menos negativos que permitem levar a vida de uma maneira menos pesada, incorporando uma pitadinha de safadeza no cardápio diário, o que é característico nele.

Dentre as questões que falou, fez referência ao fato de já terem começado as primeiras manifestações de canibalismo, segundo as suas próprias palavras.

No início, não dei muita importância, achando que seria mais uma das brincadeiras dele para assustar a gente, mas continuou falando do tema com seriedade e aos poucos comecei ficar preocupado.

Pensei: “não basta estar longe, num lugar inóspito, por cima topar com animais peçonhentos e perigosos, senão que também estarei exposto à “seres humanos” selvagens que podem me preparar uma cilada, pegar um objeto contundente, me esquartejar e colocar num tabuleiro”.

Continuei ouvindo com certo pavor dissimulado, quando ele começou rir e esclareceu após eu perguntar sobre o assunto: Canibalismo, na gíria, é macho que come macho, homem que gosta de homem, e já houve alguns casos entre o pessoal das empreiteiras, que foram pegos in fragrante.

Ai eu respirei fundo e fiquei calmo. Nenhumas das duas modalidades de canibalismo me preocupariam então.

Lá, a civilização chegou e não seria caçado como uma presa como parte da cadeia alimentícia.

Lá, tanto como aqui e em qualquer outro lugar, não corro o risco de me envolver nessa outra forma de canibalismo. Isso é para quem gosta e topa.

Abração amigo D, a gente se encontra por lá!

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Chef de Cozinha

Nos últimos tempos tem proliferado uma “nova” modalidade de reality show, que a pesar das variações nos nomes, a finalidade é mostrar as habilidades culinárias dos participantes (será?) ou talvez exaltar o “carisma” dos condutores, constatando a imensa riqueza e variedade de paladares que existem, ao menos as mais famosas dentro da cozinha internacional e local.

Eles ecoam na tv aberta e por assinatura também. Alguém me comentou que virou uma espécie de commodity, de curinga, para salvar / elevar a audiência em muitos canais, porque caiu no gosto popular.

O certo, ao meu modo de ver, é que esta avalanche, esta hemorragia incontrolável de programas similares, está trazendo à tona algumas questões, com as quais não me identifico.

Durante anos ministrei cursos e ouvi falar sobre novos paradigmas nas relações humanas, na gestão de pessoas e dentre os postulados que existem, nenhum chega próximo dos exageros e na generalização das humilhações, que constantemente acontecem nos episódios televisados em alguns destes programas.

Será que os consumidores desses produtos da mídia gostam, sentem prazer ao ver os participantes sendo humilhados, esculhambados daquele jeito?

Será que para elevar a competitividade, a competência, o compromisso e o alcance dos objetivos de alguém ou do coletivo, precisamos de tanta aspereza e desrespeito?

Ninguém se rebela ou bota um freio por orgulho e amor próprio nesses comportamentos?

O objetivo destes programas é habilitar um espaço para o show de um renomeado Mestre de Cozinha?

Ao mesmo tempo, praticamente nunca a sumidade convidada ou o centro das atenções é de origem tupiniquim. Para o sucesso da proposta, é importante que o anfitrião ou anfitriões tenham um sotaque peculiar e quanto mais carregado, mas estará garantido o sucesso. Longe de mim qualquer manifestação ou sintoma de xenofobia. Ninguém menos do que eu para ser suspeito de semelhante aberração ou discriminação, mas a fórmula já cansa.

A mensagem subliminar seria que nós nunca seremos celebridades na área? Seria este um espaço reservado para os nascidos no primeiro mundo? Teremos que sentir sempre que o fatalismo geográfico nos persegue?

Que à semelhança do tempo da colônia, teremos que baixar a cabeça, dizer sim Chef e obedecer, sem a menor oportunidade de revidar, porque a tua voz nunca será ouvida. Você nunca terá a menor chance de se explicar e convencer, porque você é um ser inferior e a estrela tem tanta luz, que o teu fulgor se perde.

Toda esta situação, todo este ambiente o acho no mínimo estranho e desconfortável.

Desde o alto do orgulho da minha raça, do orgulho da minha ascendência tercermundista, da minha condição de homem e ser humano, nunca me submeteria a semelhantes berros e desrespeitos.

Por sorte, toda esta mercadoria tem prazo de validade e virarão lembranças, que para muitos trarão lucros, dinheiro, etc., mas o legado, considerando o acima descrito, não seria motivo para se sentir satisfeito.

Para ser justo, confesso que não sou fã, nem persigo este tipo de programas e nenhum outro. Aqueles que levantaram a bandeira do respeito ao próximo: Parabéns. Aqueles que dentro das repetitivas abordagens encontraram propostas diferentes e melhores: Parabéns.

Casualmente, algum tempo atrás esbarrei num canal, com uma competição do ramo, onde uma dona de casa concorria com 06 Chefes de Cozinha e o formato da produção era bem ameno, a participação do condutor era agradável e o disfrute do público aparentava ser bom. A gente embarcava nas emoções da participante.


É só um ponto de vista. Se você não se importar com isso ou enxergar de outra forma: Parabéns também!

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

A Galinha d’Angola

Há vários dias está nos visitando em casa uma galinha d’Angola, que parece que está perdida ou procurando alguma coisa, que não chega, que não encontra.

Na minha terra é conhecida como Guineo. São bem ariscos e ágeis, mas esta, ao parecer, está acostumada com o convívio, a presença dos humanos e dos animais domésticos.

Ela, ou talvez ele, fica nas áreas externas da residência e passa longas horas no mesmo lugar, entoando um peculiar cântico, que por vezes te faz desviar a atenção, dependendo da intensidade. Ainda bem que à diferença do galo da vizinha, não tem o despertador desregulado.


Várias pessoas me comentaram sobre crenças populares ligadas à existência e aparecimento súbito destes animaizinhos, mas até agora, ninguém soube elaborar uma frase completa ou lógica sobre o assunto.

Só sei que eles me remetem à minha infância, quando viajava ao interior do país e ficava distraído acompanhando com a vista, bandos destas aves.

A principal e mais recente lembrança que guardo relacionada com eles, é a dos meus filhos, quando eram crianças, no maternal, onde lhes ensinavam canções lindas, antológicas músicas. 

A homenagem que o Vinícius de Moraes fez para esta criatura, nunca saiu da minha cabeça, junto com a maravilha de ver a aqueles pequenos seres, felizes, possuídos pela toada e imersos na vasta imaginação, que afortunadamente, a pouca idade lhes propiciava.

Coitada, coitadinha
Da galinha-d'Angola
Não anda ultimamente
Regulando da bola

Ela vende confusão
E compra briga
Gosta muito de fofoca
E adora intriga
Fala tanto
Que parece que engoliu uma matraca
E vive reclamando
Que está fraca

Tou fraca! Tou fraca!
Tou fraca! Tou fraca! Tou fraca!

Coitada, coitadinha
Da galinha-d'Angola
Não anda ultimamente
Regulando da bola

Come tanto
Até ter dor de barriga
Ela é uma bagunceira
De uma figa
Quando choca, cocoroca
Come milho e come caca
E vive reclamando
Que está fraca

Tou fraca! Tou fraca! Tou fraca!

Aleatoriamente, ora a galinha estava no nosso lote, ora ficava em cima do muro ou andava pela rua, exposta aos carros e outros perigos. Então tivemos a ingênua ideia de gravar o som do canto que emitia e uma vez, quando ela esteve mais afastada, colocamos a gravação feita com o celular, para atrai-la.

De repente, a galinha se disparou a correr na nossa direção e atacou a gente. Tivemos que correr e entrar às pressas em casa, para protegermos das investidas. 

Foi muito engração ver vários adultos correrem por causa da bichinha, além de termos que aguardar um bom tempo, para podermos abrir portas e janelas e sairmos de casa novamente.

Ninguém esperava aquela reação. Quem sabe ela imaginou que a gente estava zoando-a e ficou zangada. Mas, essa não foi a nossa intenção.


Só sei que ela pode estar fraca, mas fraca não é, não!

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Uma saída do desespero chamada Groupon.

Usarei o Groupon, não mais que como símbolo de sites de compras coletivas. Indiscutivelmente, um dos mais populares e bem sucedidos por estas bandas.



Toda vez que recebo uma oferta via e-mail, de alguma promoção, fundamentalmente as relacionadas com convites para restaurantes e similares, não posso deixar de lembrar os meus tempos de dono de restaurante e de como tive que me render aos “encantos milagrosos” para poder subsistir ou para me afundar ainda mais, iniciando o derradeiro e penoso caminho para o fim.

Os representantes não precisam de muito para te convencer a participar. Com a adesão terá garantido um número de clientes superior a quantidade acostumada, fundamentalmente para os dias de mais baixa afluência; mas a quê preço?

É uma relação longe de ser ganha-ganha.

O “ganha” só é garantido para os detentores dos direitos da promoção. Às vezes, os donos dos bares e restaurantes também ganham, dependendo de vários fatores, dentre eles, contarem com uma equipe de atendentes comprometida, entusiasmada, que saiba extrair o máximo do cliente sem abusar, sem ser inconveniente, de apresentar pratos com qualidade, do cardápio da casa. Condições que podem parecer muito próximas de ideais, mas alguma coisa bem próxima, às vezes é possível conseguir.

Para os leigos no assunto devo dizer que os preços originais dos pratos, conferidos no Menu do estabelecimento,  deverão ser reduzidos pela metade, para atender os requerimentos do contratante. Da parte que restou, o 50% encherá o bolso do site de compras coletivas. Ou seja, o dono da casa poderá contar com ¼ ou o 25% do preço anunciado para a iguaria. Há diferentes modalidades de negociação, mas o que sim é certo, é que o restaurante fica somente com a metade do que você pagou.

Muitas vezes a avalanche de clientes, a coincidência no mesmo dia e momento de muitos compradores da promoção provocam desconfortos e acarretam outros problemas de incapacidade de atendimento, onde o efeito esperado se triplica ao contrário, ou seja, afugenta os futuros frequentadores e a aqueles que conheceriam a casa pela primeira vez. A partir dai, você como dono, com frequência terá que escutar a dolorosa frase: ”nunca mais boto os pés neste lugar”.

Por outro lado, os frequentadores fiéis, acostumados com outro tipo de ambiente, se espantam, pois não desejam se misturar muitas vezes, com pessoas de má educação, que não sabem se comportar, que não têm costume de visitar restaurantes, que sentem prazer em fazer virar tudo num boteco-buteco ou até num "copo-sujo" e que em condições normais, nunca teriam aparecido naquele lugar.

Exigir marcar data e hora de comparecer, nem sempre funciona e muitas pessoas nem compram por encontrarem nisso uma dificuldade a mais. As pessoas querem fugir do planejamento e das obrigações.

Há comerciários que recorrem a estratégias tais como oferecer “promoções capengas”, ou seja, pratos que quase obriguem aos clientes a pedir guarnições e outros acompanhamentos. Isso pode até funcionar se o que estiver sendo ofertado não chegar a ser completamente esdrúxulo, senão pode causar a ira e a reclamação instantânea do cliente.

O restaurante deve criar um clima agradável para que o cliente permaneça e consuma. Nisso pode influenciar desde a decoração, limpeza, passando pelo conforto, as condições de compartilhar com as pessoas que te acompanham. 

Até os cheiros e sons do ambiente podem exercer influência negativa ou positiva. Devo salientar um detalhe curioso: não existe uma regra, não é questão nem tão sequer de bom senso, porque o que é bom para uns, não necessariamente terá que ser bom para todos. Pelo mesmo motivo que uns elogiam, outros criticam sem medida.

Há pessoas que só comparecem aos lugares quando arrumam uma destas promoções. Aquela ideia de fazer com que eles voltem e realizem um consumo normal, não surte também o efeito almejado. Eu experimentei isso com alguns clientes.

Outros acham que têm direito a tudo. Perante o menor incômodo ameaçam chantageando com que vão publicar nas redes sociais e publicam o que é e o que a maldade da imaginação lhes permite alcançar. Oportunistas de toda laia. 

Mas quando se sentem bem, à vontade e todos os seus desejos foram atendidos, dificilmente usariam um minuto das suas vidas para agradecer e enaltecer o lugar naquelas mesmas redes sociais, o que representa em ocasiões, a fronteira entre continuar funcionando ou fechar o restaurante, alegando que "o restaurante não fez mais que o que tinha que fazer; esse era o seu dever, cumpriu a sua obrigação, ou seja, me servirem como a um rey ou rainha, porque estou pagando, porque eu mereço".

Às vezes, você como dono é orientado a cobrar de maneira opcional dos clientes, a taxa de serviço pelo valor do prato íntegro, o famoso 10%, o que pode fazer com que se tenha um pouco mais de retorno pelo “investimento”, mas ao mesmo tempo, geralmente não é bem visto, nem bem recebido pelos usuários, que na maioria das vezes pagam, mas o consideram esquisito, sendo este mais um motivo para não voltarem.

A situação de desespero e desesperança é tal, que famosas e tradicionais casas entraram nesta ciranda, caíram nesta armadilha. O teu restaurante estará prestes a se tornar um dependente irreversível, mas se não o fizer, vai ver o teu vizinho com a casa cheia, com aparente sinal de prosperidade e a tua vazia.




Dias atrás comprei uma dessas promoções para visitar e conhecer uma hamburgueria no meu bairro, onde sempre reparava que o lugar tinha boa “cara”, mas ao mesmo tempo, me resultava uma opção um pouco “cara” comparando com os preços praticados por outras similares.

Chegou o dia. Qual não seria minha surpresa ao ver o diminuto do que eu tinha pagado, em comparação com a quantidade e qualidade do que foi servido e do atendimento. Um lugar ameno, agradável, com a comida bem apresentada, o tratamento dos garçons e donos foi impecável.

Não consumi nada mais, porque estava para lá de satisfeito.

Ao sair, não me cobraram um centavo a mais, agradeci e desejei muita boa sorte. Não pôde evitar sentir muita vergonha porque estava ciente de que o que tinha comido valia muito mais, atendendo às práticas do mercado. Senti muita dor daquelas pessoas, cheias de esperanças no meu e no retorno de todos os presentes.

Coloquei-me no lugar deles. Eu estava nessa mesma situação há poucos anos atrás.

Felizmente, voltei para a área técnica, para a engenharia, para o que me deu o pouco ou o muito que tenho e aquilo são só lembranças e experiências.

Em tempos de crise, para as pessoas não deixarem de desfrutar e não diminuírem o padrão de vida, esta é uma alternativa, mas os donos, se não acontecer uma improvável guinada, empreenderão o caminho do: “Aluga-se”, “Passa-se este ponto”, "Vende-se" e toda variedade daqueles tristes anúncios, que já atinge até os mais tradicionais lugares.

Tenho o compromisso moral de voltar ao lugar, assim que as minhas finanças o permitam.

Dor!

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Você me salvou!

Faz algum tempo, eu trabalhei por alguns anos numa empresa, da qual como sempre o melhor e único que a gente leva são os conhecimentos adquiridos, as experiências que servem para a vida toda e por cima de tudo, as amizades e boas relações que fez.

Toda vez que encontro com eles, é uma festa. Fico muito feliz e o tempo apagou aquelas coisinhas que não valem a pena arrastrar, no que se refere à passagem por aquele lugar, porque não fazem bem para ninguém, não agregam e o mais afetado seria você mesmo, tendo que carregar toda essa tralha de más lembranças, incluindo recordações dos maus indivíduos com os que teve que tropeçar. O tempo sempre se encarrega de dar as devidas lições para eles. Eu não estou aqui no mundo para isso.

O saldo é sempre positivo. A quantidade de boas pessoas que te valorizam, admiram e torcem pelo teu bem, supera os mesquinhos seres desprezíveis, que com o tempo você vai esquecendo. Tanto é assim, que às vezes que encontro por acaso com algum deles, custa lembrar o nome e o lugar da onde os conheci. Só sei que a reação da memória, mesmo que fraca é involuntária ordena rejeitar a aproximação, mudar a vista.

Com a outra imensa maioria acontece o contrário. Sempre nos parece que o encontro foi efêmero demais e ficamos com um gosto de queremos mais, porque foi insuficiente. Mas, andando e andando, a vida via passando, a gente vai se encontrando e...

Num desses encontros casuais e rápidos, estavam vários colegas presentes e um deles, que eu não tinha visto mais, depois que me desvinculei da empresa, falou para mim, na frente de todos e num tom de desbordante alegria: “Você me salvou!” e todos repetiram a mesma frase e me agradeceram muito.

Fiquei emocionado.

Tudo se remonta a uma história que eu pensei que ninguém sabia e que essa pessoa nem tinha ciência dos fatos.

Eu trabalhava na área comercial da empresa multinacional e dadas as dimensões da mesma, organizavam anualmente uma convenção nacional de vendas, onde todos os vendedores, gerentes e outras categorias afins, que atuavam em todo o país, se encontravam durante vários dias num lugar, com hospedagem e condições muito boas e naquela ocasião foi no Guarujá.

Aqueles eventos serviam como rendição de contas, generalização das experiências e das boas práticas, se traçavam novas diretivas e metas para a atividade; o entrosamento entre funcionários que realizavam tarefas comuns se estreitava e até conseguia conhecer aqueles “cabeças de bacalhau”, com os quais incessantemente trocava e-mails e ligações, mas como no caso das cabeças destes peixes, que não conheço ninguém que as tivesse visto, você também nunca antes os tinha visto, ainda que fossem tão próximos, em matéria de trabalho e colaboração virtual.

Uma tarde que as sessões terminaram mais cedo, aproveitamos para irmos até a praia, que ficava a escassos metros do hotel.

Eu lembro ter ouvido um dos colegas dizer que ele não sabia nadar e que por isso não arriscava ir muito longe na água. Achei um pouco insólito, porque sempre pensamos que chegada certa idade, as pessoas já tenham aprendido algumas coisas, das que muitos consideram básicas, mas não é assim e ninguém tem direito de julgar.

Aparentemente, no mar estava tudo tranquilo, mas de repente surgiram algumas correntes e o mar ficou agitado. Aquele meu colega que tinha dito que não sabia nadar, por arte de magia foi levado pela corrente até perto de mim e ai eu lembrei que ele não sabia nadar, estava lutando, mas não dizia nada. Eu não sei da onde eu tirei forças, mas peguei-o por um braço, e literalmente o atirei para mais próximo da areia. Depois vi que ele conseguiu chegar até a beira em segurança.

Mal sabia ele que eu tinha entrado em maus bocados. O mar não me deixava voltar e me levava cada vez mais longe. Nessa hora eu me chamei a ficar mais tranquilo e calmo. Não perdi forças lutando em vão e quando a situação melhorou, depois de poucos minutos, nadei com todas as minhas forças para sair da praia e consegui.

Depois daquele incidente comentamos que o mar estava revolto. Não falei com o meu colega sobre o que tinha acontecido. A vida continuou com a sua habitual correria e todos decidimos que era melhor irmos para a piscina do hotel e fomos, onde brincamos, pulamos, rimos, bebemos cerveja até o Sol se pôr.

Eu pensei que ele não tinha reparado no fato de eu ter ajudado ele a viver e ter comprometido a minha vida por ajuda-lo. Mas, não fiz questão alguma de dizer e contar a história para ele.

Várias vezes depois daquilo, eu pensei sobre o meu gesto e as consequências que poderia ter tido. Fico entristecido de imaginar se o desenlace não tivesse sido bom, mas ao mesmo tempo fico tão feliz porque ajudei a uma boa pessoa, porque estou vivo e porque tenho a convicção de que a minha primeira reação seria ajudar a qualquer pessoa em qualquer circunstância, sempre que as minhas forças o permitam.

Ver a alegria, o agradecimento e o sorriso eterno dele não tem preço.

Só sei que numa das atividades de fim de ano da empresa, eu conheci a família dele, incluindo a descendência. Eu tive que me conter emocionalmente e em silêncio, só de pensar que ele poderia ter faltado para aqueles que mais o queriam, para aqueles que mais o necessitavam.

Peço para o meu colega italiano de nome, baiano de coração e mineiro por adoção, que aprenda a nadar, que nunca é tarde para aprender e mais, sendo um recurso saudável e útil, mas que sempre tome muitos cuidados com o mar.


Grande abraço para todos! 

terça-feira, 6 de outubro de 2015

Desemprego entre Profissionais de Nível Superior

Uma reflexão sobre algumas situações relacionadas com o mercado para profissionais de nível superior, nestes difíceis tempos.


Faca um simples teste:

Pergunte para um daqueles sujeitos ultra, mega experientes em gerenciar equipes multidisciplinares e ambientes afins, qual dessas disciplinas ele conseguiria assumir, digamos em situações emergenciais, tais como indisponibilidade de um dos recursos (entenda-se ativo humano) ou uma repentina necessidade de redução de custos?

Geralmente, ele sabe delegar, distribuir tarefas, se comportar como um moderno Capitão do Mato, o que não deixa de ser importante e necessário, mas nas condições atuais, você começa a sobrar e mais quando estes especialistas, sob o teu dispensável comando, conseguem se auto gerenciar. A tua importância e presença diminuirão significativamente.

Você terá que esperar a que outro achegado igual a você, o indique e como é lógico, para uma posição abaixo da dele ou aguardar até o mercado se recuperar um pouco ou um bastante e voltarem a nomear "Aspones" para todo quanto é função.

É só ter paciência, mas por enquanto o bolso está ficando murcho e vai fazer o que?

Definitivamente, não podemos generalizar. Cada caso é um caso.

A realidade é uma: Se a situação não melhorar o quanto antes e não se tomarem providências que aqueçam a economia, surgindo novos projetos, vai sobrar para os que sabem pouco, para os que sabem muito e para todos.

Reitero. Afortunadamente, não estamos no fim dos tempos.

Favor, acessar o link abaixo para ler o texto íntegro do artigo publicado.

Obrigado.

http://www.administradores.com.br/artigos/carreira/desemprego-entre-profissionais-de-nivel-superior/90803/

domingo, 13 de setembro de 2015

Reflexões - O Alheio.

A única coisa que você precisa saber para não usufruir de uma coisa que não é sua, é saber que isso não é seu.

Saber quem é o dono, é só um detalhe, que não deverá ir além de uma simples curiosidade, sem te dar o mais mínimo direito de dispor sobre aquilo que não te pertence.

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Garoto de Programa

Quando cheguei ao Brasil há alguns anos, eu era bastante jovem, inexperiente, menos vivido do que sou hoje e passei por algumas experiências inesquecíveis, por vezes engraçadas, como a que contarei a seguir, mas que me deixaram com a cabeça cheia de minhocas durante um bom tempo.

A empresa que me contratou me orientou a procurar um lugar para morar numa região nobre da cidade, visando a minha segurança e conforto.

O colega que veio comigo na “missão” e eu, alugamos um apartamento num bairro muito bom de Belo Horizonte, tranquilo, calmo, de bom nível, onde todas ou a maioria das pessoas se movimentavam em condução própria, mas nós, simples engenheiros que estaríamos supostamente por aqui durante um período consideravelmente curto e sem recursos para adquirir carro, fazíamos todas as nossas viagens usando o transporte público.

Aquelas ruas do bairro, que durante o dia esbanjavam calmaria, à noite se transvestiam. Eram bem escuras, solitárias e o lugar idôneo para se aglomerarem muitos travestis e seus múltiplos clientes.

Antes da minha vinda a este país, ainda que já tivesse visitado outros países, nunca fiquei próximo de nenhum travesti. Sinceramente, não tinha uma noção certa do que eram. No meu país no existiam.

Também, nunca tive aproximação nem contato com prostituição de rua. Era outra coisa que no meu país de origem, não era usual, para não dizer que não existia.

Sempre que voltava a noite para casa, procurava faze-lo de táxi, porque eram frequentes os assaltos noturnos e não pretendia me relacionar ou misturar com aquelas pessoas, naquele ambiente, que sem o intuito de criticar, estava com a certeza de que nada tinha a ver com os meus interesses e o meu estilo de vida.

Um dia, quando já estava começando a escurecer, eu voltava para casa. Estava vindo de ônibus e o mesmo me deixava a pouco mais de dois quarteirões de casa e percebi que uma daquelas meninas, estava fazendo xixi na rua, em pé e com um “membro” masculino para fora. Só sei que fiquei surpreso. Se houve algum outro sentimento paralelo como raiva, medo, constrangimento, não saberia dizer. Apressei a marcha e me enfiei dentro do meu apartamento.

Mais tarde comentei com o meu colega na residência, que por sinal era um senhor mais velho e queria saber o que ele achava daquilo tudo. Ele, com muita naturalidade me disse que já sabia que eram homens vestidos de mulheres e que se dedicavam a se prostituir com outros homens, que tinham fantasia por um gênero inexistente, complexo e integrado, por denominar de alguma maneira.

Falou ademais que já tinha conversado com alguns deles e que eram bacanas.

Eu não questionei suas observações, por respeito aos anos e a opinião alheia, mas o tempo encarregou-se de corroborar as minhas suspeitas sobre a qualidade humana das pessoas que ele catalogava de legais, sem querer ser absolutista, generalizando e dizendo que todo travesti é uma má pessoa.

Dias depois, quando cheguei a casa e sem ser ainda muito tarde, estava só começando a escurecer, encontro meu colega em casa, assustado, acuado, tremendo e ao perguntar o que tinha acontecido me informou que um daqueles sujeitos legais, junto com outro cara vestido de homem o “abordaram”, machucaram e tiraram todo o dinheiro dele.

A partir daquele dia, tomou a decisão, provavelmente sábia para ele, de não conversar com estranhos na rua e sair só com o dinheiro necessário para as atividades fundamentais.

Uma semana depois, foi novamente atacado e ingenuamente debochou na cara de assaltante que não tinha dinheiro e que dessa vez não se aproveitaria dele. Aquela atitude foi funesta. Ele apanhou muito e ameaçaram que se da próxima vez não levasse dinheiro, iriam feri-lo mais.

O senhor que morava e trabalhava comigo entrou em pânico e me implorou para começarmos a procurar outro lugar para morar. Duas semanas depois já estávamos instalados em outro apartamento, na região central da cidade.

Mas antes da retirada, uma tarde, quase noite, estava passando por aquelas ruas para poder chegar a casa quando um daqueles cidadãos me propõe: “E ai, bonitão, quer fazer um programa”?

Aquela proposta deixou-me paralisado, dentre outros motivos, porque não me acho bonitão e também porque nunca na minha vida, alguém com voz grossa e confusa ao mesmo tempo, teria-me abordado desse jeito. Só atinei a acelerar o passo e abrir o portão de acesso ao prédio.

Na época, eu tinha pouco domínio da língua portuguesa e praticamente nenhum das gírias.

Eu sou engenheiro de automação e a minha atividade fundamental naqueles tempos era programar. 

Daí, eu fiquei grilado pensando que aqueles travestis tinham indagado sobre mim e sabiam que eu fazia programas e por esse motivo pediu-me para fazer um programa, querendo puxar papo e entrar em confiança.

Durante vários dias me mantive preocupado e me perguntando, como eles souberam sobre mim. Até fiquei de mal com o síndico, pensando que era fofoqueiro e tinha passado as informações para alguém. Passados alguns dias comentei com um colega da firma, que era mais próximo da gente e subitamente começou rir.

Ele me explicou que na fala popular, a expressão fazer programa, distava muito do que eu fazia e me passou o significado exato e a intenção da proposta.

Fiquei mais calmo.

Depois soube que eu era um garoto de programa, mas ao mesmo tempo não era um “garoto de programa”.

Sempre que conto essa história para as pessoas e depois de terem passado tantos anos, sinto um arrepio lembrando o desconforto daqueles dias e a vergonha pelo meu desconhecimento.

Hoje, numa nova fase dentro da engenharia, como resultado da experiência acumulada e do perfil da vaga que ocupo, não costumo programar, mas ocupo parte do meu tempo em ensinar a programar a especialistas mais jovens.

Em tom de brincadeira, alguém (o amigo VP) me disse que eu não era mais um garoto de programa, senão um aliciador, um cafetão da vida.

Por cima disso, tenho que rir.

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Gonzaguinha. Guerreiro.

Estava escutando esta música do Gonzaguinha na peculiar interpretação do Fagner e fiquei muito triste.

"Um homem se humilha
Se castram seus sonhos
Seu sonho é sua vida
E vida é trabalho.


E sem o seu trabalho
O homem não tem honra
E sem a sua honra
Se morre, se mata.
Não dá pra ser feliz
Não dá pra ser feliz"
Conheço muitos homens e mulheres em situações similares.

Sei desse sofrimento.

Gonzaguinha, quem diria, que transcorridos tantos anos, tua música teria tão cruel vigência.

Depois de tantas promessas, talvez eleitoreiras e de perpetuação no poder, de uma infinidade de números e índices de progresso econômico-social que ninguém consegue conferir e que não são mais que dados sem sugerir informação alguma, de várias conquistas, mas com pouca ou duvidosa sustentabilidade, o quê restou?

Após reiteradas grandes palavras, de milhões de miseráveis saindo da pobreza, provavelmente material, porque de espírito poucos saíram, sem sabermos quantos milhões voltarão e quantos outros a enfrentarão pela primeira vez.

Depois de tantas esperanças que desembocaram em megaroubos e megacorrupção, não sei como empreenderemos o caminho ascendente.

Cair é muito fácil e rápido.

Subir é difícil, dolorido e nem sempre se consegue chegar, pese a que só o cume possa interessar.

A dizer verdade, eu não albergava esperanças.

Seria muito pueril e ingênuo da minha parte, saindo de onde eu sai, passando por onde eu passei e vivendo como eu vivi, acreditar em semelhantes projetos de sucessivas, dolorosas e sofridas quedas livres com destino certo, seguro e previsível: O Tudo do Nada.

Este Guerreiro que está aqui, não é de chorar e chorou.

Que Deus nos livre e Guarde!

"Eu vejo que ele sangra
Eu vejo que ele berra
A dor que tem no peito
Pois ama e ama"


Sim, ama os seus filhos, seus pais, sua esposa, ama a si mesmo e não pode ajudar a viver a ninguém.

Mas mesmo assim, o compositor Alberto Tosca me ensinou que não cabe desesperança, o imenso está por vir. Não cabe desesperança, pois já não vou esperar a que alguém traga para mim a vida, porque sairei a busca-la.

Continuamos na luta. Construiremos uma sociedade melhor. Um país de pessoas mais cientes da responsabilidade cidadã e cívica que corresponde a cada um.

Tempos melhores virão!

segunda-feira, 29 de junho de 2015

DISCUSSÃO

Numa reunião de trabalho, entre empresas, clientes e fornecedores, onde as coisas não transcorriam tão tranquilamente e onde os ânimos estavam um pouco ou até bastante alterados, eu senti necessidade de amenizar o ambiente, porque estava muito pesado.

Um dos chefes presentes de súbito perdeu a compostura e pouco faltou para balbuciar algum palavrão.

Tudo ficou em silêncio, mas eu não consegui me conter e comentei em voz entre alta e meio alta, como quem quer falar consigo mesmo, mas ...: “e eu pensei que estavam extintas”

Ele escutou e perguntou num tom menos exaltado, mas preocupado: O quê você disse? O quê isso significa?

Eu gelei, mas tinha que ir em frente e tentar surtir o efeito esperado de zoação, para aliviar as tensões.

Ai, eu falei: “O problema é que tu ficou feito uma arara, e não é uma arara qualquer, senão uma arara azul. Parece que o espírito de uma arara azul baixou em você. As pessoas acham que elas estão extintas e você demonstrou para  a gente, que não é bem assim”.

Todos riram ... até ele.

Graças a Deus, senão ia sobrar para mim também.

É uma daquelas ações espontâneas, que a gente faz sem pensar.


Vou tentar me controlar para a próxima. Quem sabe também ele aprenda a se controlar, para evitar os engraçadinhos de plantão e constatar que só fez o ridículo com aquela gritalhada toda.

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Tropeçando

Está me perguntando se lembro de você?

É lógico! Te conheço bem!

Cheia das fantasias.

Criativa.

Malandrona!

Sempre pronta para o crime.

Como se esquecer de você?, se foi o mais parecido comigo que encontrei andando por esta vida.

Sempre de galho em galho.

Pulando que nem cabrito.

Procurando sua cara-metade, sua meia laranja?

Quem disse!

Eu não perdi nada e por cima, nem gosto de cítricos.

Num galho qualquer, encontrar uma folha, para mim está de bom tamanho.

E você foi isso, uma boa folha. Em outras palavras, fomos isso, duas folhas que se encontraram, ficaram juntas até que o vento as separou e cada uma seguiu o seu caminho.

Quê foi da tua vida?

Deve ter sido alguma coisa bem parecida com a minha.

Uma sequencia infinita de momentos bons e outros nem tanto.

O que será?

O mesmo, uma sequencia, talvez não tão infinita de momentos bons e outros nem tanto.

Encontrei várias pessoas.

Lembra daquilo que sempre a gente dizia depois das safadezas: lavou, tá novo!

É assim, hoje sujou, mas tarde lavou e sempre pronto para o dia seguinte.

Às vezes não é o dia seguinte, passa uma semana, duas ou até se chega a perder a conta, mas sempre é bom.


E ai? Tá afim?