Minha cunhada, a Regi, uma pessoa maravilhosa, espetacular,
um daqueles seres que a gente sempre agradece por terem entrado nas nossas
vidas, costumava sempre que possível, nos convidar para um almoço, um jantar ou
uma simples merenda como ela dizia, que de simples só tinha a modéstia dela.
Num dos nossos encontros, dentre todas as iguarias,
ela serviu um prato acompanhado de tomates maduros, mas com uma peculiaridade,
estavam sem pele, coisa bastante inerente a alta cozinha.
Geralmente as pessoas consumem a pele, ou por costume,
por falta de tempo para retirá-la ou por acharem que e mais saudável, contém
fibra podendo ajudar no bom funcionamento dos nossos intestinos e na digestão
como um todo.
A minha reação, que hoje confesso foi muito bem
pensada e calculada e que não foi a minha primeira espontânea resposta, foi começar
a zoar, rir sem chegar a ferir ao respeito de tamanha delicadeza.
Toda vez que como tomates, não consigo deixar de
lembrar daquele momento, daqueles tomates.
Passado já muito tempo ela me revelou que nunca
esqueceu o que eu falei naquele dia ao respeito dos tomates e do prato que ela
serviu.
Eu também nunca esquecerei.
Mal sabe ela, que ao ver aqueles tomates, senti uma vontade
repentina e imensa de chorar.
Com certeza, ela nunca imaginaria o que realmente
estava acontecendo.
Aquilo era uma referência direta aos meus dias de infância,
dias que ficaram para trás há muitas décadas, mas que formam parte do meu
tesouro de vida.
Fui uma criança carregada de padeceres e padecimentos.
Um deles foi ter nascido com deficiência significativa de HCL (ácido clorídrico)
segundo os reportes médicos, e mal conseguia digerir os alimentos mais básicos.
Os que continham celulose, casca, não podia consumi-los.
Por exemplo, o feijão, somente muito batido e as
frutas sem casca, dentre elas, o tomate sem pele.
Caso contrário, as dores pouco tempo depois de ingerir
esses alimentos, seriam bem fortes, agudas e me provocavam uma espécie de medo
a comer.
Fiquei órfão de mãe muito novo. Na época era minha mãe
quem se dedicava a providenciar todos esses cuidados.
Lembro até o jeito, os seus movimentos ao preparar
minhas refeições.
Naquele momento da nossa comida na casa dos meus cunhados
senti uma mistura de tantos sentimentos e lembranças que me fizeram aflorar a
tristeza, mas para não estragar o clima e contando que tinha outros convidados,
preferi chorar por dentro e exagerar o riso por fora.
Nunca pensei revelar o segredo, mas você também tem
direito a sabê-lo.
Obrigado por existir.