Hoje terei o indescritível prazer de escrever sobre um grande, - quase que enorme -, entranhável e singular (praticamente plural) amigo.
A nossa amizade surgiu de um instante de empatia, que explodiu em frações de segundos.
Para ele tenho revelado detalhes da minha história, do meu passado, sobre os quais sempre me custou muito conversar, mas nos nossos encontros, eu até aproveitava para exteriorizar, - acredito que até abusava na dosagem de informações e sentimentos que passava -, mas afortunadamente a recepção e a interpretação que ele dava, me proporcionavam um alívio, que tenho procurado de maneira desesperada durante anos e não podia desaproveitar esta oportunidade ímpar.
A amizade, como muitas outras coisas nesta vida, é uma via de mão dupla e ele também me contou muitas coisas interessantes que lhe aconteceram e o mais importante, manifestou pontos de vistas e opiniões, que para mim reportavam uma importância e uma riqueza incalculáveis.
Entre as passagens que relatou sobre sua maravilhosa estória, que se não fosse pelo caráter doloroso dos fatos, seria genial, é o ter se deparado com um cruel preconceito desde que praticamente se entendeu como gente.
Ele é filho de pais normais, mas com uma enorme anormalidade, para viver neste estúpido mundo: eram cegos. Desde pequeno agiu como os olhos dos seus progenitores. Ao saírem para as ruas carregava o peso dos olhares curiosos e cruéis. Contou-me tantas histórias inacreditáveis de preconceito, que na minha infértil imaginação não teriam espaço. Eram horrores do coração, “dignos” de serem recreados por algum genial roteirista e lançar um filme que botasse para refletir a milhões de pessoas, ao redor do mundo. As feridas nunca fecharam. Mesmo assim ele cresceu.
Cresceu ele e crescemos todos, num mundo onde cada vez ficamos menores e inferiores. Onde há preconceito com todo, com negros, com amarelos, com índios, com gordos, com magros, com altos, com baixos, com deficientes, com todo aquilo que é diferente. Eu gostaria de saber: diferente de quê? De qual padrão que a Mãe Natureza não estabeleceu, porque todos somos únicos e desiguais, tanto é assim que criou um DNA, uma marca, um selo distinto e irrepetível para cada um, semelhante esforço e trabalho da criação, não sei para quê. Para que os humanos absurdamente percam o tempo em estabelecer igualdades.
Mesmo assim gastando esse precioso recurso, que é o tempo, em bairrismos de toda índole, aqueles seres que se aproximam do ideal, não ficam isentos de preconceito. Ela é linda, mas é loira, porém deve ser burra. É gostosa, mas é vadia. É inteligente, mas é sapatão. É bunduda, mas é Raimunda. É forte, mas tem cara de crime. É bem apessoado e musculoso, mas deve ser veado. É competente, mas é estrangeiro. Sempre haverá motivos para discriminar e rejeitar. Até quando vamos perder tempo com estas mesquinharias?
Quando o mundo aprenderá a valorizar o que tem de melhor?: a vida, a espécie humana e seus valores.
Certa vez, numa das viagens a trabalho que fizemos juntos, literalmente viajamos com o pensamento e imaginávamos o que faríamos se ficássemos ricos e livres desta vida instável e cansativa de estradas e aviões.
Cogitamos várias possibilidades e formas de dedicar o tempo, até que ele lembrou e sugeriu uma muito sábia frase, que o pai dele sempre dizia: “Vaca é que é bom, meu filho”.
Por um lado se afastaria dos homens que tanta dor lhe provocaram e por outro teve a visão de um negócio geralmente promissor.
Ai eu entendi a sabedoria das palavras do pai do meu amigo, a quem não tive a sorte de conhecer pessoalmente, mas que onde quer que esteja, que Deus o proteja! E gostaria muito de lhe agradecer pelo filho que colocou no mundo.
Grande abraço.
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