Muitas vezes, pelo menos todas as vezes que
escutei a canção, daquele que tentou escrever a canção mais bonita do mundo, o
cantor e compositor Joaquin Sabina e que sem dúvidas o conseguiu, tentei me
explicar o porquê da frase: “...não sabia que a primavera durava um segundo...”.
Este é um simples símbolo, uma bela metáfora, que só quem experimentar alguma
coisa muito intensa e muito boa, poderia compreender o significado exato dessas
palavras.
Foram duas semanas, mas pareceram breves
instantes. A minha primavera consistiu em visitar a minha esposa, que há algum
tempo está nos Estados Unidos e fazia meses que não nos encontrávamos
pessoalmente. Nem a chuva da estação conseguiu mermar o brilho destes dias.
Além do que representou para o casal o
reencontro, para mim era importante constatar que estava tudo bem com ela e que
fora da questão sentimental de distanciamento familiar, o que é bastante pesado
para todos no nosso lar, o processo de adaptação e progressão andava conforme
previsto. Isto é só uma fase das nossas vidas.
Durante
esta viagem compartilhei com vários amigos que fazia em alguns casos, trinta
anos que não nos encontrávamos. Foi como andar numa trilha do passado, uma
volta ao mais prezado da minha história. Foi bom lembrar. Há muita coisa que
não merece ser esquecida.
Fiquei gratamente impressionado pelo que vi naquele
lugar, que além de ser genuinamente americano, para muitos a Florida é o norte
da América Latina. Respira-se latinidade por todo quanto é lado, mas o selo
americano impera em todo, inclusive no mais autenticamente latino.
Não fiquei iludido pela variedade de produtos, nem pelos preços convidativos. Por sorte, a minha fase altamente consumista já foi superada. Hoje sou mais seletivo, mas adepto ao desapego ainda que magnetizado pelo belo necessário.
Ao retornar ao Brasil, era das poucas pessoas
que estava com uma mala só. Acumular objetos não faz parte das minhas vontades,
das minhas prioridades.
Fiquei impressionado pelo modo de vida, pelo
que sempre ouvi falar como American Way of Life. Dá a impressão que a maioria
das coisas por lá e muito bem pensada, ações planejadas. A limpeza é extrema, o
respeito ao espaço alheio, o cuidado e o capricho nos restaurantes, lojas e
lugares públicos em geral, é admirável.
Menção aparte para a segurança e a não
violência.
Não é menos certo que atos delitivos acontecem,
mas a probabilidade e a frequência dos mesmos é bem baixa. Pessoas grossas, mal
educadas, de mal com a vida, encontram-se em todas partes, inclusive lá. Miseráveis
que carregam misérias como discriminação, racismo, achismo, diversos tipos de
preconceitos também existem, mas a tolerância ao delito e a proporção do
aparecimento dos mesmos, são significativamente menores.
Pelas ruas de Miami Beach. |
O mundo todo deveria fazer um processo de preservar
o bom que tem cada país e importar as coisas positivas que se praticam em outros
lugares. Fazer uma combinação do melhor que a idiossincrasia regional produziu com
os avanços alheios e assim não seria um mundo uniforme, monótono, mas com
certeza mais justo, mas humano, mais de todos.
Eles têm muito para progredir, para
aperfeiçoar, mas em muitos aspectos, estão lá na frente e não reconhecê-lo seria
tolice.
Dá dor saber que temos condições para usufruir das
mesmas bondades nos nossos cantos, mas falta uma vontade expressa e concreta
para alcançar patamares superiores. Tem que ser um projeto de vida, um projeto
de gerações, um projeto de nação e não a ambição de um partido, o capricho de
um homem e muito menos uma sequencia vergonhosa de manipulações para se perpetuar
no poder, que venham a destruir a esperança e o direito à dias melhores.
Merecemos uma passagem mais digna e decorosa,
para nós e para os que virão depois. Ninguém consegue viver o tempo tudo numa
bolha, isolado num país onde há tantas mazelas pensando que nunca será prejudicado
por elas.
Se quisermos construir um mundo melhor, teremos
que formar seres humanos melhores. Criar leis não é suficiente. Tem que existir
fiscalização rigorosa.