segunda-feira, 4 de julho de 2011

Crônica: No Laboratório

Uns tempos atrás, o filhinho do Vinícius, vulgo “Piruetas”, andou passando mal e teve alguns piripaques  na Escola Pública que freqüenta e decidiu levar o menino até a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) mais próxima da comunidade, um dia que estava passando mal.
Eles têm que se virar sozinhos, porque a mãe está “guardada”, vendo o sol nascer diariamente quadrado.
Quando foi atendido e examinado pelo médico, apesar dos visíveis sintomas de verminose, ele decidiu fazer uma checagem mais ampla e após os exames de sangue feitos no local e de ter medicado o rapaz, indicou alguns outros exames complementares de fezes (coprocultura)  e seriados de urina.  Passou todas as indicações, os recipientes e as guias.
- Você está dizendo que o meu filho tem parasitas? -Perguntou o Piruetas-.
- Sim, é exatamente isso, só que temos que conferir qual e em que proporção.
- Mas na merda dele não tem lombriga não. Não é assim pirralho? Você já viu alguma? – Perguntou o Piruetas referendo-se ao filho -.
- Não pai. Nunca vi.
- Então doutor?
- Lombrigas, não é a única manifestação de verminose, -esclareceu o Doutor- há outra extensa variedade que não se manifesta da mesma forma e muitos são imperceptíveis, são microscópicos.
- Tá bom, esse negócio não doe e é de graça. A gente faz. Falou!
No dia seguinte em casa, de manhã, na hora do menino colher o material.
O Piruetas fala para o filho:
- Lembra de lavar bem o “animal” e de secá-lo como o médico falou, antes de mijar.
- Ok pai e como faço com o outro?
- O outro que?
- O cocô papai.
- Há duas formas: ou você caga num papel e depois com aquela colher de plástico pega um pedaço da parte de cima e enfia no pote, ou coloca o pote na “porta”, deixando o esquilo literalmente sair da toca, judiando da louça e já vai direto.
- E se eu fizer num papel, quem limpa o negócio depois?
- Com certeza você.
- Então vou sentar no vaso e pôr o pote próximo para que caia direto.
Mas a criança, inocente ao fim, não calculou a quantidade de excremento que estava saindo considerando a capacidade do potinho.
- Ô Pai.
- O que foi filho? O urubu bicou?
- Pai: bicou demais, sujou! Não está cabendo no trem aqui, está ficando russo, desbordou. –Clamou o menino desesperado por ajuda-
- Dá o seu jeito aí meu filho, retira um pedaço do que está sobrando e coloca a tampa!

O menino estava naquele trance de se limpar, aquele nojo das mãos borradas e na situação de ter que colocar ainda a tampa no pote. Aconteceu o mais lógico, a tampa caiu no vaso e agora?
- Pai: a tampa caiu dentro do vaso sujo, você pega para mim?
- Sem chance filhote, deixa assim, a gente entrega sem tampa, - entrando o Piruetas pela porta do banheiro-, pega esta sacola e enfia tudo lá dentro, mas com jeito.
O sujeito chega ao laboratório de análises químicas com a sacolinha "premiada".
Passa pelo vigia da porta e nem tchum, nem olha para o fardado, não dá idéia nenhuma.
Mas o guardinha o aborda, depois de um estrondoso “Bom dia” lhe pergunta se ele vai fazer "colheita" (vou dar um desconto para o fardado, que tem 8 anos na porta do laboratório e não aprendeu até agora, que o termo correto seria "coleta", o mesmo que é usado para o lixo) e o nosso cara se detém e fica emburrado, tipo assim, sem entender:
- Como assim? Aqui é lavoura ou é aquele negócio de picada na veia, sangue e esses troços?
- Sim você está certo, só perguntei para lhe estender uma senha.
- Ok, dá aqui! O meu filho obrou hoje de manhã e eu vim para entregar este negócio.
O cara dá uma olhada de maus amigos para os presentes na sala de espera, abre bem as pernas ao se sentar como se fosse o sujeito mais bem dotado do universo, dá aquela coçada básica, abre os braços ocupando mais de uma cadeira e aguarda impaciente até ser chamado pelo número.
Minutos depois no painel aparece o número da senha dele, se levanta e se aproxima do guichê indicado.
Ao chegar se depara com um dos acostumados rapazzzes que às vezes ficam nestas posições de atendentes.
- Bom dia. -Falou o atendente todo-todo-
O nosso amigo torceu o nariz e não deu muita bola, pegou a sacola e a colocou em cima da pedra de granito no balcão.
- Esse é o material? –Pergunta gentilmente o rapaz do laboratório.
- Bom! Aqui o que eu trago é bosta e mijo. Vem cá brow, se não for isto, vai ser o que então?
- Tudo bem, é outra forma de se referir ao mesmo assunto. Trouxe as guias?
- Estes são os papéis. Toma!
- Muito obrigado. Mas, o que aconteceu com a tampa da vasilha das fezes.
- Olha, a tampa do pote caiu no vaso e você tem que entender que nem eu e nem o meu filho, íamos enfiar a mão no vaso para pegá-la. Entendeu?
O atendente abaixa o tom da voz e fala em tom de cumplicidade.
- De acordo, só que o material pode ter se contaminado e perder a esterilidade do pote.
- Me diga uma coisa. Por que você está falando com essa voz de rato?
- Senhor, pelo que eu sei ratos não falam.
- Ok, mas com certeza, se falassem seriam muito parecido com isso que tu estás fazendo ai.
- Voltando ao assunto, eu não poderei receber o material nestas condições e lhe repassarei uma nova guia para que o traga de volta, assim como fornecerei um pote devidamente esterilizado para repetir o exame. O exame de urina sim será realizado. Aguarde-me um minuto, por favor.
O atendente levantou-se, afastou-se a procura do recipiente e da nova guia. O tempo fechou, o nosso amigo, não entendeu nada da verborréia, só deduziu que a merda que a essa altura estava fedendo bastante, não ficaria no laboratório e ...
- Ô, olha aqui, eu não vou vir outra vez e também não vou para casa com essa bosta novamente.
- Não precisa voltar para casa com ela, você pode jogar a sacolinha na primeira lixeira que encontrar na rua.
E assim o Piruetas, falou outra dúzia e ½ de palavrões, alguns para o atendente, outros para si mesmo e outros para quem estiver ouvindo, saiu pela porta, jogou a sacola fedorenta no lixo próximo da saída e o que aconteceu depois, veremos numa próxima postagem.
Só peço para você tomar os devidos cuidados, quando estiver fazendo as suas necessidades matinais e tiver que fazer uma daquelas ou destas "colheitas".

Cá entre nós. Mesmo que o fato esteja associado à uma atividade fisiológica comum, é complicado e primitivo o processo da coleta e que dizer do constrangimento, na hora de entregar o potinho ao antendente?
Desculpem, mas nem sempre dá para falar de coisas bonitas e cheirosas.
Com certeza o Piruetas diria: que desculpas nem que nada, todo o mundo caga, mija e fede pra caramba! Desde aquela ninfetinha arrebitada até aquele velho caindo aos pedaços e que fica com a boca sempre aberta.
Are you with me?

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