domingo, 4 de setembro de 2011

Um dos meus amigos (5)

Sempre costumo brincar com a minha esposa, fazendo uma confusão entre os termos "hipocondríaca" e "hidropônica", o que é motivo para risos e alegrias, mas eu, que a "acusava" de ser em extremo cismada com problemas de doenças e de achar, que tinha tudo o que ouvia dizer que acontecia em pessoas conhecidas e em nem tão conhecidas assim, tive recentemente uma imensa surpresa, do tamanho da largura do largo dos ombros do amigo, que me inspirou a escrever esta crônica.

Ele é o protótipo de alto astral, mas quando topamos hoje de manhã, qual não seria a minha surpresa ao perceber que por trás daquele sorriso, rondava uma enorme tristeza, uma preocupação que o abalava.

Custou um pouco, mas depois de insistir, ele confessou-me, que estava aguardando com certa ansiedade, os resultados de um exame médico de laboratório e que estava com suspeita de uma doença, daquelas que alarma e que supostamente só dá nos outros, mas que quando bate na tua porta, o mundo desaba e a realidade do triste e perverso, converte-se em inseparável companheira, cuja única alternativa é cuidar dela para continuar vivendo, com a melhor qualidade possível.

Tentei indagar um pouco sobre o assunto, mas na medida em que mais avançava, mais me perdia. A confusão das ideias reinava e mesmo sem entender muita coisa, comecei a ficar preocupado, pela probabilidade improvável de meu amigo adoecer e pela improvável provável reação ao conhecer os resultados.

A minha amizade com ele é bastante recente, mas às vezes tenho a sensação de que o conheço desde sempre, tem sido uma empatia, daquelas que um diminuto instante consegue apreciar, uma sintonia perfeita, que permite ler no ar a palavra: AMIGO.

No finalzinho da hora do almoço, ele me ligou dizendo que nem tinha conseguido almoçar, porque estava ligando para o laboratório, para saber se já tinham liberado os resultados e a angústia aumentava, porque todos os outros exames estavam disponíveis, excepto “aquele”, mas que já estava pronto e me pediu para acompanhá-lo.

Eu não tinha almoçado ainda por questões do workalcoolismo e sem pensar, me dispus a acompanhá-lo e a dar uma força, ao tempo que pensava na melhor maneira de aplacar a situação.

A tensão durante o caminho foi crescendo e nem a música da rádio, nem a introdução de temas para aliviar tensões, resolviam muita coisa. Decidi então encarar o assunto e analisar diferentes ópticas, mas com aquela condição de não querer aceitar o adverso.

A situação tornou-se em extremo complicada, porque a essa altura, eu também já não estava conseguindo ser o suficientemente forte e tinha sido absorvido pela circunstância e pelo estado do meu amigo.

Chegamos ao balcão e a odisséia, que esperávamos estivesse ao ponto do desenlace, ganhou matizes quase dramáticos, porque a atendente não encontrava os papéis e saiu e voltou várias vezes. Já o meu amigo chorava por fora, eu chorava por dentro … comecei a chorar por fora.

Até que em fim, entregaram os resultados e temendo uma reação inesperada, pedi para abrirmos os resultados só dentro do carro, onde ninguém percebesse e ficássemos alheios aos olhos dos curiosos.

Chorando, respiramos fundo e sentimos o prazer de chorar de alegria.

Depois daqueles intermináveis momentos o meu amigo contou que era hipocondríaco, que tinha certeza de que os sintomas que “experimentava”, estavam mais na cabeça dele do que em outro lugar, mas que não sabia lutar contra isso.

Aí, respirei aliviado e no lugar de ficar chateado, o abracei e desde esse momento entendi que a nossa amizade estaria só crescendo.

Sou muito grato pela tua confiança.

Sou eternamente feliz por ter te encontrado.

Mas a historinha do lobo e as ovelhas, não vai se repetir. Da próxima vez serei o teu antídoto, a tua cura.

A tua qualidade humana marcou férrea presença. Em todo momento só pensava na afetação que poderia causar nos seres queridos. Muitos, nessa hora, só pensam neles. 

Grande abraço meu caro! Não é todo dia que alguém se preocupa com a gente e isto tem que ser preservado.

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