quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Você me salvou!

Faz algum tempo, eu trabalhei por alguns anos numa empresa, da qual como sempre o melhor e único que a gente leva são os conhecimentos adquiridos, as experiências que servem para a vida toda e por cima de tudo, as amizades e boas relações que fez.

Toda vez que encontro com eles, é uma festa. Fico muito feliz e o tempo apagou aquelas coisinhas que não valem a pena arrastrar, no que se refere à passagem por aquele lugar, porque não fazem bem para ninguém, não agregam e o mais afetado seria você mesmo, tendo que carregar toda essa tralha de más lembranças, incluindo recordações dos maus indivíduos com os que teve que tropeçar. O tempo sempre se encarrega de dar as devidas lições para eles. Eu não estou aqui no mundo para isso.

O saldo é sempre positivo. A quantidade de boas pessoas que te valorizam, admiram e torcem pelo teu bem, supera os mesquinhos seres desprezíveis, que com o tempo você vai esquecendo. Tanto é assim, que às vezes que encontro por acaso com algum deles, custa lembrar o nome e o lugar da onde os conheci. Só sei que a reação da memória, mesmo que fraca é involuntária ordena rejeitar a aproximação, mudar a vista.

Com a outra imensa maioria acontece o contrário. Sempre nos parece que o encontro foi efêmero demais e ficamos com um gosto de queremos mais, porque foi insuficiente. Mas, andando e andando, a vida via passando, a gente vai se encontrando e...

Num desses encontros casuais e rápidos, estavam vários colegas presentes e um deles, que eu não tinha visto mais, depois que me desvinculei da empresa, falou para mim, na frente de todos e num tom de desbordante alegria: “Você me salvou!” e todos repetiram a mesma frase e me agradeceram muito.

Fiquei emocionado.

Tudo se remonta a uma história que eu pensei que ninguém sabia e que essa pessoa nem tinha ciência dos fatos.

Eu trabalhava na área comercial da empresa multinacional e dadas as dimensões da mesma, organizavam anualmente uma convenção nacional de vendas, onde todos os vendedores, gerentes e outras categorias afins, que atuavam em todo o país, se encontravam durante vários dias num lugar, com hospedagem e condições muito boas e naquela ocasião foi no Guarujá.

Aqueles eventos serviam como rendição de contas, generalização das experiências e das boas práticas, se traçavam novas diretivas e metas para a atividade; o entrosamento entre funcionários que realizavam tarefas comuns se estreitava e até conseguia conhecer aqueles “cabeças de bacalhau”, com os quais incessantemente trocava e-mails e ligações, mas como no caso das cabeças destes peixes, que não conheço ninguém que as tivesse visto, você também nunca antes os tinha visto, ainda que fossem tão próximos, em matéria de trabalho e colaboração virtual.

Uma tarde que as sessões terminaram mais cedo, aproveitamos para irmos até a praia, que ficava a escassos metros do hotel.

Eu lembro ter ouvido um dos colegas dizer que ele não sabia nadar e que por isso não arriscava ir muito longe na água. Achei um pouco insólito, porque sempre pensamos que chegada certa idade, as pessoas já tenham aprendido algumas coisas, das que muitos consideram básicas, mas não é assim e ninguém tem direito de julgar.

Aparentemente, no mar estava tudo tranquilo, mas de repente surgiram algumas correntes e o mar ficou agitado. Aquele meu colega que tinha dito que não sabia nadar, por arte de magia foi levado pela corrente até perto de mim e ai eu lembrei que ele não sabia nadar, estava lutando, mas não dizia nada. Eu não sei da onde eu tirei forças, mas peguei-o por um braço, e literalmente o atirei para mais próximo da areia. Depois vi que ele conseguiu chegar até a beira em segurança.

Mal sabia ele que eu tinha entrado em maus bocados. O mar não me deixava voltar e me levava cada vez mais longe. Nessa hora eu me chamei a ficar mais tranquilo e calmo. Não perdi forças lutando em vão e quando a situação melhorou, depois de poucos minutos, nadei com todas as minhas forças para sair da praia e consegui.

Depois daquele incidente comentamos que o mar estava revolto. Não falei com o meu colega sobre o que tinha acontecido. A vida continuou com a sua habitual correria e todos decidimos que era melhor irmos para a piscina do hotel e fomos, onde brincamos, pulamos, rimos, bebemos cerveja até o Sol se pôr.

Eu pensei que ele não tinha reparado no fato de eu ter ajudado ele a viver e ter comprometido a minha vida por ajuda-lo. Mas, não fiz questão alguma de dizer e contar a história para ele.

Várias vezes depois daquilo, eu pensei sobre o meu gesto e as consequências que poderia ter tido. Fico entristecido de imaginar se o desenlace não tivesse sido bom, mas ao mesmo tempo fico tão feliz porque ajudei a uma boa pessoa, porque estou vivo e porque tenho a convicção de que a minha primeira reação seria ajudar a qualquer pessoa em qualquer circunstância, sempre que as minhas forças o permitam.

Ver a alegria, o agradecimento e o sorriso eterno dele não tem preço.

Só sei que numa das atividades de fim de ano da empresa, eu conheci a família dele, incluindo a descendência. Eu tive que me conter emocionalmente e em silêncio, só de pensar que ele poderia ter faltado para aqueles que mais o queriam, para aqueles que mais o necessitavam.

Peço para o meu colega italiano de nome, baiano de coração e mineiro por adoção, que aprenda a nadar, que nunca é tarde para aprender e mais, sendo um recurso saudável e útil, mas que sempre tome muitos cuidados com o mar.


Grande abraço para todos! 

Nenhum comentário:

Postar um comentário