Faz algum tempo, eu trabalhei por alguns anos
numa empresa, da qual como sempre o melhor e único que a gente leva são os
conhecimentos adquiridos, as experiências que servem para a vida toda e por
cima de tudo, as amizades e boas relações que fez.
Toda vez que encontro com eles, é uma festa.
Fico muito feliz e o tempo apagou aquelas coisinhas que não valem a pena
arrastrar, no que se refere à passagem por aquele lugar, porque não fazem bem
para ninguém, não agregam e o mais afetado seria você mesmo, tendo que carregar
toda essa tralha de más lembranças, incluindo recordações dos maus indivíduos
com os que teve que tropeçar. O tempo sempre se encarrega de dar as devidas
lições para eles. Eu não estou aqui no mundo para isso.
O saldo é sempre positivo. A quantidade de boas
pessoas que te valorizam, admiram e torcem pelo teu bem, supera os mesquinhos
seres desprezíveis, que com o tempo você vai esquecendo. Tanto é assim, que às
vezes que encontro por acaso com algum deles, custa lembrar o nome e o lugar da
onde os conheci. Só sei que a reação da memória, mesmo que fraca é involuntária
ordena rejeitar a aproximação, mudar a vista.
Com a outra imensa maioria acontece o
contrário. Sempre nos parece que o encontro foi efêmero demais e ficamos com um
gosto de queremos mais, porque foi insuficiente. Mas, andando e andando, a vida
via passando, a gente vai se encontrando e...
Num desses encontros casuais e rápidos, estavam
vários colegas presentes e um deles, que eu não tinha visto mais, depois que me
desvinculei da empresa, falou para mim, na frente de todos e num tom de
desbordante alegria: “Você me salvou!” e todos repetiram a mesma frase e me
agradeceram muito.
Fiquei emocionado.
Tudo se remonta a uma história que eu pensei
que ninguém sabia e que essa pessoa nem tinha ciência dos fatos.
Eu trabalhava na área comercial da empresa
multinacional e dadas as dimensões da mesma, organizavam anualmente uma
convenção nacional de vendas, onde todos os vendedores, gerentes e outras
categorias afins, que atuavam em todo o país, se encontravam durante vários
dias num lugar, com hospedagem e condições muito boas e naquela ocasião foi no
Guarujá.
Aqueles eventos serviam como rendição de
contas, generalização das experiências e das boas práticas, se traçavam novas
diretivas e metas para a atividade; o entrosamento entre funcionários que
realizavam tarefas comuns se estreitava e até conseguia conhecer aqueles “cabeças
de bacalhau”, com os quais incessantemente trocava e-mails e ligações, mas como
no caso das cabeças destes peixes, que não conheço ninguém que as tivesse visto,
você também nunca antes os tinha visto, ainda que fossem tão próximos, em
matéria de trabalho e colaboração virtual.
Uma tarde que as sessões terminaram mais cedo,
aproveitamos para irmos até a praia, que ficava a escassos metros do hotel.
Eu lembro ter ouvido um dos colegas dizer que
ele não sabia nadar e que por isso não arriscava ir muito longe na água. Achei
um pouco insólito, porque sempre pensamos que chegada certa idade, as pessoas
já tenham aprendido algumas coisas, das que muitos consideram básicas, mas não
é assim e ninguém tem direito de julgar.
Aparentemente, no mar estava tudo tranquilo, mas
de repente surgiram algumas correntes e o mar ficou agitado. Aquele meu colega
que tinha dito que não sabia nadar, por arte de magia foi levado pela corrente até
perto de mim e ai eu lembrei que ele não sabia nadar, estava lutando, mas não
dizia nada. Eu não sei da onde eu tirei forças, mas peguei-o por um braço, e
literalmente o atirei para mais próximo da areia. Depois vi que ele conseguiu
chegar até a beira em segurança.
Mal sabia ele que eu tinha entrado em maus
bocados. O mar não me deixava voltar e me levava cada vez mais longe. Nessa
hora eu me chamei a ficar mais tranquilo e calmo. Não perdi forças lutando em
vão e quando a situação melhorou, depois de poucos minutos, nadei com todas as
minhas forças para sair da praia e consegui.
Depois daquele incidente comentamos que o mar
estava revolto. Não falei com o meu colega sobre o que tinha acontecido. A vida
continuou com a sua habitual correria e todos decidimos que era melhor irmos
para a piscina do hotel e fomos, onde brincamos, pulamos, rimos, bebemos
cerveja até o Sol se pôr.
Eu pensei que ele não tinha reparado no fato de
eu ter ajudado ele a viver e ter comprometido a minha vida por ajuda-lo. Mas,
não fiz questão alguma de dizer e contar a história para ele.
Várias vezes depois daquilo, eu pensei sobre o
meu gesto e as consequências que poderia ter tido. Fico entristecido de
imaginar se o desenlace não tivesse sido bom, mas ao mesmo tempo fico tão feliz
porque ajudei a uma boa pessoa, porque estou vivo e porque tenho a convicção de
que a minha primeira reação seria ajudar a qualquer pessoa em qualquer circunstância,
sempre que as minhas forças o permitam.
Ver a alegria, o agradecimento e o sorriso eterno
dele não tem preço.
Só sei que numa das atividades de fim de ano da
empresa, eu conheci a família dele, incluindo a descendência. Eu tive que me
conter emocionalmente e em silêncio, só de pensar que ele poderia ter faltado para
aqueles que mais o queriam, para aqueles que mais o necessitavam.
Peço para o meu colega italiano de nome, baiano
de coração e mineiro por adoção, que aprenda a nadar, que nunca é tarde para
aprender e mais, sendo um recurso saudável e útil, mas que sempre tome muitos
cuidados com o mar.
Grande abraço para todos!
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