Nos últimos tempos tem proliferado uma “nova”
modalidade de reality show, que a pesar das variações nos nomes, a finalidade é
mostrar as habilidades culinárias dos participantes (será?) ou talvez exaltar o
“carisma” dos condutores, constatando a imensa riqueza e variedade de paladares que existem, ao menos as mais famosas dentro da cozinha internacional e local.
Eles ecoam na tv aberta e por assinatura
também. Alguém me comentou que virou uma espécie de commodity, de curinga, para
salvar / elevar a audiência em muitos canais, porque caiu no gosto popular.
O certo, ao meu modo de ver, é que esta
avalanche, esta hemorragia incontrolável de programas similares, está trazendo à
tona algumas questões, com as quais não me identifico.
Durante anos ministrei cursos e ouvi falar
sobre novos paradigmas nas relações humanas, na gestão de pessoas e dentre os
postulados que existem, nenhum chega próximo dos exageros e na generalização das
humilhações, que constantemente acontecem nos episódios televisados em alguns destes
programas.
Será que os consumidores desses produtos da
mídia gostam, sentem prazer ao ver os participantes sendo humilhados, esculhambados
daquele jeito?
Será que para elevar a competitividade, a
competência, o compromisso e o alcance dos objetivos de alguém ou do coletivo,
precisamos de tanta aspereza e desrespeito?
Ninguém se rebela ou bota um freio por orgulho
e amor próprio nesses comportamentos?
O objetivo destes programas é habilitar um espaço
para o show de um renomeado Mestre de Cozinha?
Ao mesmo tempo, praticamente nunca a sumidade
convidada ou o centro das atenções é de origem tupiniquim. Para o sucesso da
proposta, é importante que o anfitrião ou anfitriões tenham um sotaque peculiar
e quanto mais carregado, mas estará garantido o sucesso. Longe de mim qualquer
manifestação ou sintoma de xenofobia. Ninguém menos do que eu para ser suspeito
de semelhante aberração ou discriminação, mas a fórmula já cansa.
A mensagem subliminar seria que nós nunca seremos celebridades na área? Seria este um espaço reservado para os nascidos no primeiro mundo? Teremos que sentir sempre que o fatalismo geográfico nos persegue?
Que à semelhança do tempo da colônia, teremos
que baixar a cabeça, dizer sim Chef e obedecer, sem a menor oportunidade de
revidar, porque a tua voz nunca será ouvida. Você nunca terá a menor chance de
se explicar e convencer, porque você é um ser inferior e a estrela tem tanta
luz, que o teu fulgor se perde.
Toda esta situação, todo este ambiente o acho
no mínimo estranho e desconfortável.
Desde o alto do orgulho da minha raça, do
orgulho da minha ascendência tercermundista, da minha condição de homem e ser
humano, nunca me submeteria a semelhantes berros e desrespeitos.
Por sorte, toda esta mercadoria tem prazo de
validade e virarão lembranças, que para muitos trarão lucros, dinheiro, etc.,
mas o legado, considerando o acima descrito, não seria motivo para se sentir
satisfeito.
Para ser justo, confesso que não sou fã, nem
persigo este tipo de programas e nenhum outro. Aqueles que levantaram a bandeira
do respeito ao próximo: Parabéns. Aqueles que dentro das repetitivas abordagens
encontraram propostas diferentes e melhores: Parabéns.
Casualmente, algum tempo atrás esbarrei num canal,
com uma competição do ramo, onde uma dona de casa concorria com 06 Chefes de
Cozinha e o formato da produção era bem ameno, a participação do condutor era
agradável e o disfrute do público aparentava ser bom. A gente embarcava nas emoções
da participante.
É só um ponto de vista. Se você não se importar
com isso ou enxergar de outra forma: Parabéns também!
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