terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Ciranda da Bailarina

Poderiam até parecer recorrentes as minhas postagens sobre as dificuldades e confusões de compreensão da língua, típicas de um gringo ao chegar e tentar se inserir numa outra cultura, mas é a minha realidade e não farei o menor esforço por me afastar deste tipo de crónicas, sem descuidar outros assuntos do meu interesse.

Tudo se remonta aos começos, aos inícios da minha vida neste país.

Uma excelente e por sinal bela colega de trabalho, me auxiliou muito nos primeiros tempos. Sem ela perceber, me apresentou o país, a idiossincrasia das pessoas e as formas precisas de me conduzir neste novo ambiente. Era uma colaboração muito boa, onde o trabalho de um era complementado pelo do outro e que pese aos conhecimentos que eu poderia lhe passar, aprendi muito com ela e o sucesso do meu trabalho dependia dos esforços e dos resultados do trabalho dela.

Ela casou com o homem da sua vida, saído diretamente do clássico de Alexandre Dumas. Fui ao seu casamento, que esteve muito bom por sinal e ainda que nos distanciamos pela minha transferência para outra empresa, sempre tive notícias. Hoje sei que está fora do ramo se dedicando a outras atividades que sempre desejou, que tem uma linda família com dois filhos e inevitavelmente lembrou-me dos difíceis momentos quando perdeu a primeira filha logo depois do nascimento quebrando tantas expectativas. Fiquei muito triste. Ela estava arrasada, mas logo, Deus deu a dádiva que ela precisava.

Dentre outas características, ela era muito educada, longe de vulgaridades.

Eu sempre fui admirador da extensa obra de Chico Buarque, da genialidade das composições e da singularidade da interpretação. Ainda que outros excepcionais cantores se apropriem de suas músicas e letras, quando cantadas por ele, têm um sabor especial.

Tive até a oportunidade de presenciar dois shows dele no meu país antes da minha vinda para o Brasil e conhecia bastante das suas canções.

Devo esclarecer que admirar a obra de alguém, não é equivalente a admirar esse alguém.

Um grande amigo, o J, quem não vejo há algum tempo e temo que alguma coisa não muito boa tenha acontecido com ele para sumir desse jeito, me presenteou com um disco da autoria do Edu Lobo com a participação do Chico, que eu desconhecia: O Grande Circo Místico.

Bastaram poucos acordes para gostar do que estava ouvindo. Como não delirar perante músicas como “Beatriz”, “A História de Lily Braun”? Mas, uma das músicas chamou de maneira singular a minha atenção: Ciranda da Bailarina. Uma vez mais a engenhosidade do compositor aflorou, ao se pôr no lugar daquilo que não é: uma criança, no seu mundo de ingenuidades, no seu universo de dúvidas e imaginações.

Ela sempre me informava gentilmente, explicando o significado das palavras que desconhecia. A canção da Ciranda da Bailarina tem muitas palavras difíceis para quem não conhece bem a língua e está acostumado com termos convencionais e do dia a dia, tais como: pereba, frieira, bexiga, piriri, lombriga, futucando, zarolho, remela, bigode de groselha, etc., que pelo contexto em ocasiões dá para acertar.

Outra das palavras que aparece na letra da música é: pentelho e lá fui eu perguntar para ela o significado. Ela começou ficar vermelha que nem o padre da canção e um cara bem sacana que estava por perto, o grande amigo V, falou para ela: “agora sim que ficou difícil” e começou dar gargalhadas, ao tempo que ela ficava quase roxa da vergonha.

Ele resolveu o impasse, dizendo que era o mesmo que pêlos púbicos, também fez alguns gestos e para variar me propôs mostrar e presentear com alguns caso eu estivesse interessado. Por suposto que isso não aconteceu.

Mas a história não termina ai. Assim que a minha dúvida ficou aparentemente esclarecida, eu tive a infeliz ideia de perguntar se recebiam o mesmo nome estando perto da genitália masculina ou da feminina. Ai ela não aguentou e começou rir também. Todos riram.

Hoje não preciso mais de esclarecimentos. O pentelho virou objeto raro, ou tiram ou retiram o excesso. Com a evolução da espécie deve sumir. Se foram criados para proteger alguma coisa, hoje, as roupas fazem essa função e se foram criados para esconder alguma coisa, a pornografia e a febre de exibicionismo virtual e real, vão na contramão. O importante é que se veja tudo e os pentelhos, só atrapalham.

Lembrar vocês, minha amiga C, o meu amigo V e o meu amigo J, me faz muito bem. Viajo no tempo. Nos bons tempos.

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