Numa das tantas manhãs que me desvivo por
chegar bem cedo ao serviço, para deixar o carro estacionado na rua, próximo ao
prédio onde trabalho e estando já na área da Copa da empresa, fazendo o social
da manhã, um dos colegas, o "A", para quem sempre canto uma canção do grande Ismael Silva, muito ouvida na voz da Gal Costa: "Ôh Antonico vou lhe pedir um favor / Que só depende da sua boa vontade / , ..." e que mesmo estando cansado de todos os dias eu lhe cantar e zoar com a mesma musiquinha, não hesitou em me ajudar.
Ele acabava de entrar no escritório e me alertou sobre o fato de eu ter deixado os vidros do meu auto sem fechar.
Ele acabava de entrar no escritório e me alertou sobre o fato de eu ter deixado os vidros do meu auto sem fechar.
Eu me recuso a pagar um preço absurdo por
estacionamentos privados, sem garantia de nada, com tratamento sempre deixando
a desejar e outras agravantes. Muito menos iria pagar rotativo para o governo,
que já se encarrega de pegar os meus impostos de maneira desmedida e que ainda
por cima é acusado constantemente de roubos e desvios de fundos.
Eram dias de
chuvas ocasionais e por cima vivemos num país com ladrões não tão ocasionais,
como gostaríamos que fosse. A preocupação não me permitia procrastinar o
assunto.
Fiquei preocupado e descrente porque é um
reflexo incondicionado, uma ação rotineira de fechar o carro, que era difícil imaginar alguma coisa errada no procedimento.
Nessa hora desci o mais rápido que consegui e
ao mesmo tempo já ia pensando nas dores de cabeça que me traria, nestes tempos
de crises e de abusos dos prestadores de serviço, os que usam a extrema necessidade
dos azarados para lucrar e descontar os prejuízos, um conserto do provavelmente
danificado sistema elétrico do carro, do antigamente chamado trio elétrico,
além do tempo de espera nas oficinas, que ninguém pode calcular com precisão,
que todos conseguem informar com absoluta imprecisão e onde os orçamentos
geralmente ficam além do pagamento final.
Fui e fiz várias tentativas de fechar com o controle
remoto do alarme, as janelas do carro, como é de praxe acontecer. Tentei também,
de individualmente, fechar os vidros e não obtive os resultados esperados.
Fiquei desconcertado. Muito desapontado.
Decidi pedir ajuda ao amigo C, que sabe de
muitas coisas e especificamente, automóveis é um dos seus pontos fortes, mas desta vez caiu na
mesma armadilha que eu, ainda que por pouco tempo.
Ele desceu comigo, olhou em vários pontos, retiramos
e trocamos fusíveis e não houve alterações positivas.
Decidi então abrir a mão, deixar o carro num
estacionamento e solicitar do pessoal, um lugar próximo ao vigia por causa da
vulnerabilidade do veiculo.
O meu amigo não se dava por vencido. Alguma
intuição lhe fazia crer que estávamos diante de um problema de solução bem
simples, mas que não aflorava a inspiração.
Eu já tinha pensado em largar o serviço mais cedo para
ir até uma oficina e deixar as coisas nas mãos do Senhor.
Mais tarde, o meu amigo se aproximou de mim já
dentro do escritório e me fez a pergunta do século: “O teu carro, por acaso não
tem um botãozinho que bloqueia os vidros, como item de segurança para evitar
que as crianças regulem os mesmos e fiquem expostas a perigos?”.
Quase que nem o deixei terminar e disse para
ele que me lembrava desse dispositivo, mas que os meus filhos eram já grandes, bastante
crescidinhos e o mesmo nunca se usava.
Mas, subitamente lembrei-me de um fato e que
tinha a ver com os meus filhos.
Eles tinham acabado de fazer 18 anos e concluíram a autoescola, tiraram a carteira de motorista e costumam usar os nossos
carros, o meu e o da minha esposa, para sair às vezes, aos sábados e domingos.
Aquela era uma segunda-feira e no dia anterior, um
deles o tinha usado.
Liguei para ele e perguntei se tinha acontecido
alguma coisa diferente e ele me contou que estando na rua, começou chover e depois
parou. Ele por desconhecimento e curiosidade apertou alguns botões e se não
percebia reação, para ele estava tudo OK.
Em casa, a garagem é privativa e os carros não
precisam estar fechados completamente.
Resumindo, o problema não era fusível nenhum,
nem trio elétrico, nem carnaval. O problema foi o dedinho curioso de um
aprendiz de motorista, que tirou o sossego da gente por algumas horas.
Deixou o famoso botão de bloqueio dos vidros traseiros na posição "pulsado" e deu no que
deu!
Só restou para eu agradecer ao amigo C e dizer
para o meu filho "Di", que estava nos devendo essa.
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