quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

As Perdas do Coração.

Hoje aconteceu uma coincidência curiosa de fatos, que fizeram com que retomasse as letras, depois deste período de descanso nas atualizações no blog, que esteve acompanhando as maravilhosas férias que desfrutei junto a minha família e sobre as quais postarei em breve.

Mas antes de chegar a casa, pouco antes de começar a escrever, no caminho, estive pensando sobre o matiz que teria o resultado. Seria um mix de alegria com tristeza e não queria me submeter a este debate.

Com os anos, o surgimento de pensamentos tristes provoca sensações bem marcantes, lacerantes e não estava a fim de passar por elas, mas decidi não me preocupar tanto pelo final e ir para o início.

Dirigindo para o serviço, como de costume, vou ouvindo música e gosto nesses momentos, ouvir ritmos estridentes, com cadência forte. Ouvia uma daquelas rádios com o tipo de música que procuro, mas também cheia de bla, bla, bla.

Era um programa com ativa participação do público, onde cada dia é lançado um tema e as intervenções versam sobre o assunto anunciado. O de hoje era: “se você tivesse a possibilidade de voltar no tempo, a qual etapa da sua vida se remeteria, qual gostaria de viver novamente?”

Fiquei assistindo mais do que tudo, por aquele instinto que temos os humanos de nos testarmos e compararmos o tempo todo e assim concluir, o quão semelhante ou diferente eram os meus pensamentos, com relação à média dos ouvintes.

Durante o  período que escutei a programação fui testemunha das mais inacreditáveis criações do cérebro. Fiquei literalmente espantando ouvindo as vontades e anseios das pessoas. Com algumas me identifiquei bastante.

A coincidência da qual fiz referência no início da presente reflexão, deu-se durante a jornada de trabalho, quando uma colega que fará anos amanhã e cumprirá mais de 30 (é impossível descobrir a idade exata das mulheres), questionou-se se ela teria vontade de voltar no tempo. Taxativamente disse: Não.

Ela raciocinou que nunca antes se sentiu como nos tempos atuais, que não trocaria a vida de hoje pela que teve anteriormente, que física e espiritualmente não tem nada a dever aos seus 18 anos, - confesso: não sei quantos anos terá a aniversariante, mas está com uma aparência muito boa -, e que decididamente não voltaria ao passado.

Em silêncio, comecei a pensar no me caso, que proximamente estarei prestes a cumprir  ½ século de vida, que estou em plenitude de faculdades mentais, físicas e espirituais, pronto para começar de novo ou simplesmente iniciar novos propósitos (não são meras palavras) e também experimento esse orgulho de saber que a minha vida hoje é melhor que antes, pela sua qualidade e riqueza e não pelo fato de ter acumulado objetos e experiências.

Mas mesmo assim, gostaria por instantes regressar à minha infância, aos tempos em que ninguém estava morto, onde todos estávamos presentes e reinava a felicidade de sermos e estarmos juntos. Onde não tinha grandes responsabilidades para com a vida e me dava o luxo de ter perenes olhos atentos a cada passo da minha vida.

Depois conclui que não, que à semelhança da minha amiga, prefiro que o passado fique onde está.

Sofri muito com as perdas do coração. Agora sofro, mas aprendi a lidar com esta realidade de outra forma.

Já passou muito tempo.  Já se foram muitos seres queridos e não desejo experimentar a intensa dor daqueles instantes.  O tempo não curou todas as feridas e acredito que algumas delas não dará tempo para fechá-las, mas a dor assumiu novos formatos.

Para minha amiga, desejo um Feliz Aniversário, de coração.

Para mim posso dizer que pese aos meus mortos e as minhas dores, fui, sou e pretendo ser feliz.

Para mim posso dizer que ainda que fui, sou e que continuarei me esforçando por ser feliz, penso neles.

Obrigado à vida!

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