sábado, 23 de janeiro de 2016

Na horta do Vizinho.

Não sou daqueles que se dedicam e sofrem comparando o sucesso ou insucesso próprios, com as conquistas e frustrações alheias.

Se choveu e floresceu na horta do meu vizinho: Parabéns para ele e gostaria que ele se comportasse da mesma maneira, se fosse ao contrário.

Sobre as coisas das quais eu não tenho controle, não perco meu tempo em me ocupar.

Tudo é o resultado de um esforço e de um comportamento pessoal, incluindo até uma pitadinha de sorte.

Sim, acredito que a sorte exista, ainda que não jogue um papel tão essencial como muitos lhe adjudicam, mas é sempre bom ajuda-la, encaminhando e orientando os fatos, para que aconteçam de alguma maneira.

Mas há uma situação, onde confesso que a comparação é inevitável e é na fila para pagar no mercado. Isto não tem relação alguma com a quantidade de produtos que outros compraram, nem com a qualidade dos mesmos.

Sempre tenho a impressão que o caixa que escolho é mais lento que o do lado ou anda pior que aquele que recusei de ficar. É uma sensação que acho invade a todos ou pelo menos a muitos.

Perto de casa tem uma loja de uma grande rede de hipermercados e ainda que não sou quem costuma fazer as compras em casa, alguma que outra vez já fui.

Comentarei sobre uma situação, que com certeza não se repetirá.

Num dos caixas, há uma senhora trabalhando como atendente, com a qual já tropecei mais de uma vez.

Ela até que é uma das poucas educadas que atendem ao público. A maioria nem te olham. Mas a ¨santa¨ passa uma impressão de paz inacreditável. Sempre tive a imaginação de que ela incorporou o espírito de um bicho preguiça ou ao menos deve ter engolido um filhote deles.

Os seus movimentos e reações são de um gracejo e lentidão assustadoras. Gente, tem que ver para crer!

Quando você se aproxima, ela te dá um "Bom", porque o "Dia" você o escutará na hora que terminou de pagar a conta.

É uma armadilha. Geralmente, a fila dela está menor ou até equiparada a dos outros caixas, mas é porque os assíduos já a tem marcada e fogem dela ou os marinheiros de primeira viagem, entram na emboscada e se cansam e passam para outra fila. É muito comum ver esses movimentos dos clientes, de um lado para outro, abandonando-a. 

Você fica no aguardo com uma aflição, vendo aquele rostinho inexpressivo pegar produto por produto, com extrema calma. 

Aconteceu um fato várias vezes, que me fez apelida-la de Bandida da Luz Amarela.

É simples, a cada três produtos que passa pelo leitor ou a cada pergunta do cliente, ela cuidadosamente aperta o botão que acende a luz e então vem a melhor parte, ter que aguardar até a chegada do menino ou a menina que resolve todos aqueles impasses, montado em cima de patins.

Ela deveria ter um exclusivo e dedicado.

E por enquanto o auxílio não chegar, ela permanece imóvel, impávida, tranquila, despreocupada e alheia aos comentários e expressões faciais dos que ainda persistem na fila. Alguma que outra vez esboça um incipiente sorriso de cumplicidade ou compreensão. Tadinha dela! Tadinhos nós!

Indiscutivelmente,  nestes casos a horta do meu vizinho é melhor que a minha e fico de olho nela. Mas daqui para frente, a Deusa da lerdeza não me pega mais.

Como diria uma velha colega de trabalho: ela está para benzer com a mão esquerda.

Mas, a pesar de tudo, eu gosto dela. Ela é diferente. Na dela! Ela dirá, para que tanta pressa se há mais tempo que vida? O tempo é eterno e o dela, sentada naquela cadeira, ainda está por terminar.

Da próxima vez, te procurarei com a vista, para tentar te entender melhor, para te observar a distância, mas pelo teu caixa, nem o meu carrinho, nem a minha paciência vão passar novamente.

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