Recentemente, tive a oportunidade de ser apresentado à parte da obra do Artista, Diretor de Arte, Fotógrafo e Ilustrador brasileiro Cláudio Antônio Alves de Souza, radicado em São Paulo, em cuja cidade já tem exposto seus trabalhos, em diferentes eventos. No mês de outubro de 2018 participou da feira PARTE, através do Ateliê Alê, com a série Locomobilidade, onde contou com a presença e os olhares de um público ávido, sedento de novidades e naquele espaço se respirava fundamentalmente isso: algo novo.
Seus trabalhos têm um nexo, às vezes muito sutil, quase imperceptível.
Ele criou um personagem, um simpático bonequinho de aproximadamente 08 cm de altura de roupas listradas, de expressão neutra e que por ter vida, tem até Instagram (@jobinho_24_7), ele também quer aparecer, aparentar um modo de vida vazio em conteúdo e repleto de imagens, que supostamente deveriam falar por ele. Ele nasceu e vive preso à pobreza espiritual que a riqueza material deste mundo lhe tem proporcionado.
Jobinho é bem próximo das personas que representa. Mesmo tendo uma expressão característica, torna-se quase inexpressivo pelo fato de sempre mostrar a mesma expressão facial em todas as fotos em que aparece, nada mais parecido ao que acontece com as intermináveis vistas e fotos que recebemos e apreciamos a diário. É uma pena que o personagem não consegue bater selfies, sendo assim, seria praticamente humano.
Outra curiosidade das fotos nos posts do Jobinho é a necessidade desmedida de ser o centro visual, de aparecer mais do que o entorno. O foco é ele e não a paisagem, o contexto. As vistas de fundo, só servem como meros coadjuvantes de um improvisado, mas ao mesmo tempo bem estudado e intencionado estilo de vida, para vender uma imagem de si próprio, para aparentar, para atrair.
Jobinho pode até não ser visto como uma crítica gritante dos tempos atuais, senão como um simples reflexo do complexo e também monótono universo das redes sociais. Do desejo-necessidade para alguns de expor a sua intimidade, a sua vida nos mais mínimos detalhes e depois reclamarem se alguém usurpar a sua privacidade, quando de fato, em seu afã de aparecer, arriscou tanto que até o conceito de privacidade pairou e foi para aquela mesma nuvem, para onde vão tuas lembranças, a tua vida, a tua identidade, o teu prestígio.
Dentro daquele contexto viajando pela obra do artista, me chamou a atenção uma sessão dedicada à bandeira LGBTQ+. Aquilo, de cara me resultou chocante, gratuito e até oportunista por parte do criador, do montador da exposição. Pensei que era um evidente gancho para captar público marginalizado segundo o ponto de vista de algumas mentes limitadas, chamado de minoria, mas que dependendo do ambiente, pode constituir maioria. Depois reparei que fui leviano e que ainda eu me mostrando como aberto a todo o que vier e tolerante a quase tudo, o meu viés preconceituoso falou mais alto.
Feliz de mim por ter tido tempo de refletir e observar a proposta com mais cuidado. Era algo bem simples, uma bandeira multicolor, aquela que simboliza o citado movimento, com vários retângulos subtraídos. Cada uma destas figuras geométricas representava uma das mortes acontecidas no país num período de tempo determinado. De se manter esta projeção, a bandeira perderia todas as cores, ficaria uma coisa única, bem longe do que o mundo como tal é. Nada justifica semelhante violência. Não há motivos para suportar comportamentos abusivos.
Por outro lado, devemos tentar não agredir a sociedade sem necessidade. Tudo chega, só temos que saber esperar. Muitos atos e manifestações não têm melhor locação que entre quatro paredes.
É como pensar que toda praia para ser bonita tem que ter palmeiras, coqueiros ou areia branca finíssima. A realidade nos mostra constantemente a presença da beleza na diversidade, na diferença, nas cores, nos contrastes, na alegria e no movimento.
Não há motivos para o mundo perder as cores, apagar a alegria, para imperarem intolerâncias de qualquer índole ante fatos que não prejudicam a ninguém.
É inegável que há toda uma apologia do sexo, da orientação sexual, da opção sexual das pessoas, que até nos faz sentirmos com direito a saber destes detalhes de todos ao nosso redor, desde as celebridades, subcelebridades, até os nossos mais próximos colegas, amigos, achegados, vizinhos, etc. Para estes caçadores de informações supérfluas, ninguém escaparia desta infundada curiosidade.
Não nos é suficiente conhecer as futilidades alheias, queremos é mais. É como se as pessoas chegarem a sentir que estão vivendo a vida dos outros, quando de fato não há nada mais longe de semelhante suposição. Chega a ser doentio. Entrar naquele domínio que não nos compete, bem fora do que as pessoas têm para oferecer: sua obra, sua arte, suas habilidades, suas capacidades, sua inteligência.
Mais um expoente da tônica dos trabalhos do autor, de não ser especificamente uma crítica senão uma evidência da atualidade em que nos desenvolvemos, o constitui a sessão de Termo de Uso. Em síntese, um reflexo daqueles intermináveis panfletos, geralmente escritos com letra miúda, que a gente não lê e vai até o fim do mesmo, destaca, aceita e assina.
Estes termos de uso podem conter elementos bem perigosos, tais como autorizar o acesso a sua câmera, ao seu microfone, aos seus contatos, permissão para lhe enviar publicidade, entre outras coisas, concedendo-lhes o direito de ver, ouvir, falar, de decidir por você. São questões que nos podem lesar profundamente, mas hoje é tudo tão imediato, urgente, para ontem, não há tempo para se deter para ler, analisar, estudar algo que supostamente nada agrega e é irrelevante.
Depois, quando precisamos acudir ao documento para defendermos, iremos reparar em que temos concordado e assinado coisas absurdas, que não nos apoiam, que não nos protegem. Mas a vida continua, o planeta que é a nossa casa maior segue o seu curso e continuamos batendo na mesma pedra. A dinâmica da nossa realidade não nos permite determo-nos para pensar nas consequências do que virá. O conceito do futuro se perdeu inconscientemente um pouco, ainda que por vezes nos comportamos como se de fato fôssemos imortais.
Outra série na obra do autor é Locomobilidade, onde nos apresenta um diálogo entre a paisagem e o transporte, resultando a partir de registros gerados pelo GPS, numa obra artística bem interessante. Uma arte plástica digna de se ver e apalpar para se ter as dimensões do tamanho e da técnica usada para obter os resultados que apreciamos.
Citarei aqui as próprias palavras do artista, para entendermos melhor o sentido da sua obra: “Minha necessidade é me posicionar da forma criativa na qual eu me reconheça, e reconheça também o outro. Que me leve a tomar consciência do mundo interior e exterior. Aprender com o mundo”.
Os convido a visitar a página www.claudioaasouza.com e lhes antecipo que ficarão gratamente impressionados.
Hoje e keu aniversário. Escolhi ler esse texto hoje.Vi muito mais nas imagens atrás dos bonecos.Percebi com o texto a riqueza nos detalhes.Sou contra a exposição extremr nas redes sociaas. Não me habituei a isso. BrolhabBr visão do artista e a sua pelo relado.
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