quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Homenagem aos meus alunos.

Desde o ano 2006, assim que conclui o MBA em Tecnologia da Informação Aplicada à Gestão Empresarial de Negócios, na Fundação Getúlio Vargas, o que sem fazer apologia, me proporcionou uma nova visão mais do que do mundo, a mudança aconteceu em todo o meu interior, na projeção que alcancei e que me propus, tive a honra de me integrar a um projeto ímpar.

Eu venho de uma parte do mundo onde muitas coisas aconteciam por “tabela”. Se eu não repetia nenhuma série durante todos os anos de ensino fundamental e médio, o próximo passo era ingressar numa faculdade, porque mesmo sem ser a minha inclinação vocacional, estava prevista uma vaga na universidade para todos os jovens, seja qual for a especialidade, depois era quase que obrigatório se formar e por esta razão a conotação de uma formatura, não era nem remotamente a que se tem por estes lados do mundo.

Depois teria garantido um trabalho numa empresa do governo, como todas as que existiam, sendo esta a única opção, com uma remuneração tabelada e que nada teria a ver com a minha capacidade, entusiasmo, resultados, empenho, etc., posteriormente casaria, teria filhos e tudo estava de uma forma ou outra, planejado.

Ou seja, nasce-se e vive-se criando planos de estudos, planos de sobrevivência, planos de emigração, planos de sonhos e anseios, planos de vida em geral, mas não há costume de fazer plano de carreira.

Dentro deste esquema de rotinas, uma delas era o trabalho voluntário, abusava-se tanto do termo, explorava-se ao máximo, tanto assim que era conhecido como “obriguntário” e conseqüentemente perdia-se o idílio, o encanto que acompanha a aquilo que é feito por ordem da alma.

A minha alma foi felizmente acionada, graças a dois anjos que apareceram no meu caminho, que me convidaram e depositaram a necessária confiança na minha pessoa. Eu me integrei a um projeto conjunto entre a FGV (Fundação Getúlio Vargas), BIFGV (Business Institute FGV), FDA (Fundação Douglas Andriani) e o BI Social Quaresma, onde se fornecia um MBA baseado em Valores para uma determinada classificação de graduados de nível superior.

A matrícula nestes cursos estava orientada para profissionais de nível superior com ascendência negra ou índia e que não conseguissem pagar os estudos de pós-graduação, o que era cuidadosamente conferido pela Prefeitura, que é quem faz a seleção preliminar dos estudantes. Também existiam vagas para pessoas sem a citada ascendência, mas que igualmente não tinham recursos para pagar. Para ninguém é segredo que o fato de ter um título e estar empregado, não é suficiente para pagar os elevados custos de um MBA.

Na minha vida eu já tinha me inserido em vários projetos e atividades voluntárias em vários países, mas esta a diferença de todas as que anteriormente eu me incorporei, tinha um significado especial, eu a escolhi, eu fui consultado com liberdade de escolha, eu me entreguei à plenitude a este empreendimento e a maior recompensa que tive e que não a trocaria por nenhuma outra, foi o respeito, o carinho, a consideração, a gratidão de dezenas de alunos, que me acolheram de uma forma, que toda vez que lembro, me emociono.

Até hoje continuo colaborando com esta instituição.

Para aquela turma eu ministrei dois módulos: “Gerenciamento da rotina e auto-realização no serviço” e “Sistemas de Informação e Documentação”.

Eu me preparava com afinco para cada encontro, procurava o melhor que eu poderia oferecer de materiais e didáticas, pensava sempre em como fazer a aula mais amena e fácil de assimilar por todos, naquele horário da noite. O quorum e a participação eram quase totais, massivas.

Passaram alguns meses após finalizar a minha passagem por aquela sala, daquele curso, daquela maravilhosa turma, quando recebo uma ligação da representante da sala, me informando que eu tinha sido escolhido o professor homenageado por unanimidade do grupo e que se eu aceitaria participar da cerimônia de graduação e receber as devidas homenagens?

Lembro que fiquei sem palavras, não atinava a dizer nada. Do outro lado da linha a aluna perguntava: Professor, o senhor está ai? Mas eu não conseguia falar. Com muito esforço consegui dizer sim, agradeço de coração e estarei com todos vocês no teatro.

Chegou o dia da formatura, todos lindamente produzidos para o evento e durante a minha intervenção, mais uma, duas, três e muitas vezes, fui dominado pela emoção e peço desculpas por ter passado a mesma para os presentes. Eu chorei, muitos choraram.



Certa vez alguém me perguntou, qual era o segredo do que ele chamava de excelência das minhas aulas, do resultado da minha entrega e eu respondi com uma máxima que me acompanha siempre que fico na frente dos meus alunos, na sala de aulas.

Quando eu estou ministrando um conteúdo, gostaria de fazer o que teria gostado tivessem feito comigo, todos aqueles que ficaram durante anos na minha frente, explicando e passando conhecimentos e que infelizmente poucos o conseguiram com o grau de exigência e qualidade que requeríamos e precisávamos. Eu tento fazer aquilo que solicitava e que eles não forneciam.

Para mim a sala de aulas é um palco, aliás, eu assumo como o meu palco. Eu não subo nele para cantar porque não sei cantar, bem que gostaria de saber, mas subo nele, repito, não para cantar, senão para tratar de encantar, que é o que eu teria gostado tivessem feito comigo, todos os que subiram nesse palco.


Vou-lhes revelar a essência de um detalhe.

Muitos se surpreendem com essa minha “habilidade” de decorar os nomes de todos na sala, já para o segundo encontro. Isto não é mais do que prática, treino, um simples exercício de associação, independentemente da capacidade que possa ter para decorar nomes e fisionomias, durante o tempo que duram os módulos, mas acima de tudo, eu encaro isso como Respeito, tratamento individualizado.

Pronto! Só peço para não me perguntarem sobre as associações, porque algumas com certeza não seriam muito respeitosas e falar sobre elas me faria ficar com muita vergonha.

A todos os meus alunos desta turma e das outras que lhe sucederam nas diferentes instituições que trabalhei e trabalho, minha mais profunda admiração e gratidão e o reconhecimento que fazem do que lhes ofereço: a minha verdade.

Imensamente agradecido.

2 comentários:

  1. Lino, você realmente é muito especial, um grande abraço de seus eternos amigos Rodrigo, Alessandra e Mateus. Saudades e até um breve encontro.

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  2. Lino,

    A cada palavra, frase formada nesse belíssimo texto me emocionei muito mesmo.Tive que sair de onde estava para lavar meu rosto.É sério!

    Sinto falta das suas aulas, do seu interesse e respeito conosco o tempo todo.

    Esse mercado tão destruidor, que não nos dá oportunidades, mas que graças a Deus conseguimos conhecer pessoas como você, que nos faz somente reerguir a cabeça e ir a luta acreditando que um dia encontraremos um lugar para a gente.

    Amamos você meu eterno professor.

    Alessandra Melo Svizzero
    9134 9305
    2526 2737

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