quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Roma

Sempre tive vontade de voltar, conhecer um pouco mais, após uma fugaz passagem de poucas horas por aquela cidade anos atrás e mesmo depois de uma mala perdida no aeroporto, felizmente recuperada um dia depois e de ser “recebido” na chegada por um oficial de alfândega, que não respondeu ao cumprimento e nem se tomou o trabalho de levantar a vista, para ver quem era o portador do passaporte, carimbando a primeira página que encontrou com espaço em branco, não posso dizer que as minhas expectativas não se cumpriram.
Geralmente, sou bem objetivo e não vou com muita sede ao poço. Talvez por isso, consiga me surpreender positivamente, mais do que ao contrário.
Aguardados por um moderno e funcional aeroporto, onde não há nada que perguntar, onde não há a quem perguntar e onde é melhor nem perguntar e depois de ser abordado por todo tipo de ofertas para chegar até a cidade, qual delas mais convidativas, quando certamente a mais idônea e com melhor relação custo/benefício, não seria ofertada, entramos aos poucos naquela viagem ao passado.
Antes, já no avião, na TV local, passaram reportagens sobre a penosa notoriedade da ilha de Lampedusa, aonde chegam, quase que a diário, dezenas de seres humanos, vindos da África, que vivem em precárias condições em seus países de origem e emigram com a esperança de uma vida melhor, mas na imensa maioria dos casos, os anseios terminam no fundo do Mar Mediterrâneo ou no melhor dos casos, são vítimas cruéis das piores manifestações de racismo da sociedade contemporânea.
Chegam a um lugar onde os nacionais não ocultam a vontade nula de recebê-los, nem de conviver com eles, onde sempre terão que se dedicar a atividades menores, de baixa renda, ilegais e até perigosas e andarão por aquelas ruas e becos, sob o olho acusador dos nativos, que esqueceram que um dia saquearam as terras daqueles peles-escuras.

Lampedusa, o lugar onde a esperança e a desesperança choram.
Não é menos certo, que uma premissa fundamental, para o desenvolvimento é ter recursos e saber como explorá-los, mas este processo assim como muitas coisas na vida, dependem muito de tomar atitude. África precisa ganhar dignidade, tomar uma atitude e cessar de mendigar, de culpar o passado e correr para o futuro com o esforço mancomunado da sua gente e daqueles de fora, que sim têm vontade de ajudar e entendem que o mundo é um só. Se todos avançarmos, será melhor para todos.

Façamos história. Que da mesma forma que as pessoas desejam conhecer Paris, Roma, New York, Barcelona, Madri, Amsterdam, Budapest, Praga, Viena, ... se disponham para visitar Nairóbi, Lagos, Accra, Dakar, Maputo, Luanda, Praia, ... 
Em Roma, primeira visita e quase que obrigatória: o Coliseu. Fazia muito frio e a entrada é um pouco desorganizada e conturbada, além das constantes pressões de cidadãos locais, tentando ganhar a vida, guiando aos turistas por aqueles recintos. Uma vez dentro, você torna-se testemunha de um lugar que outrora foi colossal. Hoje, bastante deteriorado pelo passo do tempo e descaracterizado pela incorporação de elementos fora do contexto original, como grades para impedir as passagens aos lugares que não se devem acessar, não perde sua magnanimidade.

Da arena, restou pouco, ficando ao descoberto as masmorras ou antessala da barbárie que aconteceria lá em cima e para a qual se dava cita toda a elite da sociedade romana, para vibrar com o sangue derramado por escravos.



De lá pra cá, pouco mudou, com uma pequena diferença, que os lutadores não são escravos, senão até milionários, mas as celebridades, subcelebridades e falsas celebridades gabam-se e se deslocam milhares de quilômetros, para vivenciar os gladiadores do mundo contemporâneo. Esforçam-se em registrar, eternizar todos os momentos de dor, de ossos quebrados e de sangue derramado, sem o menor constrangimento. A inversão de valores continua. Em breve teremos novamente as lutas de homens contra feras existentes e outras que criaremos, para enfrenta-los e assim não quebrar o “feitiço” do espetáculo. Vergonha. Há tanta coisa boa, para fazer e mostrar ao mundo! Há tantas formas do bem, para fazer dinheiro e crescer!

É inegável que Roma, respira história, passado, fundamentalmente na parte velha da cidade. Cada olhar, cada andada até o lugar desejado, seja até a Fontana de Trevi, o Monumento da Pátria, o Monumento de Rômulo e Remo ou até qualquer Praça, você viaja no tempo. É o prazer de Olhar.



Gastronomia boa. Hotelaria boa. Pessoas? ... também encontram-se boas, como em todas partes do mundo, mas ...

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