A importância de saber gerenciar o comportamento perante o medo.
A necessidade do autoconhecimento para administrar os recursos de luta contra o medo.
O medo devora a alma. E nós somos em boa medida: alma.
Vantagens da luta para vencer os medos.
Medo de avançar, de lutar, de viver, de se apresentar, de ser, de se defender, de se posicionar.
As máscaras e disfarces do Medo.
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Aprender a gerenciar e administrar os medos, se não for uma das maiores aspirações de cada ser humano, pelo menos deveria estar entre os propósitos mais relevantes.
O gerenciamento do medo não inclui somente a luta contra os mais conhecidos estímulos ou agentes causadores de fobias tais como: a dor acompanhada do alívio, a pena e sua contrapartida o consolo, a morte com a resignação, os mortos com a superstição, as doenças, mas não os doentes, a solidão seguida da procura incessante de companhia, a própria vida como tal passando pelos conflitos bélicos e as diferentes catástrofes naturais.
O medo como constante que aflora no nosso proceder. A necessidade de combatê-lo e vencê-lo.
Experimentar medo e as conseqüências quase que inevitáveis dos resultados desta experiência, provocam comportamentos que em muitas ocasiões são motivos para sermos humilhados, desvalorizados e até auto-censurados, enquanto desprezados pela sociedade. O mundo enaltece aos valentes.
Para muitos, este é resultante da evolução do indivíduo. Partindo da base do desconhecimento que tem o recém nascido de quase tudo, também desconhece esta categoria, se considerar o fato de ter consciência plena ou mínima do mesmo, mas o medo também é catalogado de inibição e está comprovado que os fetos têm respostas inibidoras ou o que também se chama de fisionomia medrosa.
Na medida em que começam a sentir dor por ações próprias ou provocadas por elementos externos, como manifestação de proteção, a mensagem de medo, é enviada ao cérebro, mas nem sempre se traduz em mecanismo ativo de defesa ofensiva, geralmente a ordem que recebemos e executamos não é a de enfrentar senão a de recuar.
Administrar os recursos para se posicionar perante o medo, para encorajarmos é em extremo necessário. A questão não é ir e bater de frente contra o agente que o provoca sem antes analisarmos e fazê-lo em condições de desvantagem, senão termos a astúcia e perspicácia necessária, para que com rapidez consigamos juntar as nossas forças e capacidades e irmos ao confronto em um estado de aparente conforto.
Sentir medo é humano, é mais do que humano, é animal.
Os animais sentem mais medo do que as pessoas. Segundo vão se colocando em níveis mais baixos da cadeia alimentícia, esta sensação adquire dimensões mais consideráveis.
O homem, cada vez mais poderoso e dominador do mundo e de todas as espécies, independentemente de que minúsculos vírus e bactérias consigam abatê-lo e extingui-lo, na mesma proporção em que se fortalece, fica paradoxalmente mais vulnerável e medroso.
O crescimento descomunal das grandes cidades, as aberrações mentais de muitos indivíduos, a exacerbação da violência e a impunidade, fazem com que o medo apareça com mais freqüência e intensidade.
Perdemos o controle das nossas próprias invenções, das quais poderemos nos tornar refém e alvo dos ataques. Não faço referência somente a produtos criados em laboratórios, a armamento, etc., senão também a situações do dia-a-dia criadas por nós mesmos, a manipulações que pretendemos fazer, a cenários que ideamos, a estratégias que traçamos e não dão certo e que nos deixam em estados alterados e instáveis, conduzindo mais cedo ou tarde ao medo.
O medo nem sempre impede dar um passo a frente e irmos à luta. Ele pode constituir o motor impulsor das nossas ações. Às vezes enfrentamos, destruímos e até matamos por medo, quando nem sempre o perigo precisava de ser neutralizado mediante a eliminação física.
À semelhança de todos os seres que experimentamos este sentimento, eu também tenho sei lá ou sei cá, os meus medos e não são poucos, comparando com o que geralmente ouço das outras pessoas.
Indiscutivelmente todos mentem, todos ocultam, até por medo e simples instinto de preservação e predisposição a estimular as ações de quem pretende provocar o pânico.
Mas o meu maior pavor é me colocar numa situação que me provoque insegurança, ou seja, o meu maior medo é sentir medo, tenho medo do medo e para isso, me ocupo em evitar determinadas circunstâncias ou as enfrento no meu raciocínio antes de acontecerem, ou seja, vivo num processo intenso e quase que constante de preparação e proteção.
Para vencer ou administrar certos e determinados medos, requere-se de muito autocontrole, de superação, de emocionalmente elevarmos a planos superiores do pensamento e da análise, compreender na medida exata ou próxima dela, o que representa o agente que o provoca.
Quando se apresenta com sua poderosa aliada: a imaginação torna-se quase que invencível. Não podemos fugir daquilo que nós mesmos temos criado, do que só existe nas nossas cabeças, daí as distorções que fazemos dos poderes dos outros, da nossa incapacidade para enfrentar alguém, do por que alguns temem tanto dos mortos, quando realmente estes são inofensivos e não conseguem no plano físico executar qualquer ação.
O mesmo poderia dizer dos fantasmas que até agora ninguém conseguiu demonstrar sua real existência, mas dão lugar a dúvidas, presságios, suspeitas e finalmente temores.
Você sabia que é possível ter medo e não senti-lo? Mas este enunciado não funcionaria ao contrário, em hipótese alguma, não é possível sentir medo sem tê-lo.
O sofrimento é a cobertura ideal do medo, mas este pode ser evitado com só observar algumas simples normas de conduta, as que não podem ser impostas senão que devem ser criadas e adotadas por cada um de maneira voluntária, na medida em que as ações e experiências te demonstrem a verdadeira dimensão dos fatos e motivos para termos medo.
As pessoas cada vez mais se interessam em entender e estudar o mundo em que vivem chegando a ter uma visão aceitável do entorno, mas inacreditavelmente cada dia têm menos referências do seu próprio universo pessoal, em outras palavras, não se conhecem a si mesmas.
O auto-conhecimento evita extrapolar e "sobre" ou "sub" dimensionar a tua posição perante o ambiente e as diversas situações a resolver. Isto tem seus motivos: a velocidade em que a vida transcorre, a dinâmica com que os processos acontecem, as variações das situações que temos que enfrentar.
O medo tem diferentes disfarces que vão desde os mais leves como a modéstia (auto-limitação voluntária das ambições para não entrar em conflitos e passar inadvertido, não ser foco e objeto a destruir), a prudência (com a por vezes excessiva e nociva cautela) e a preocupação (com sua elevada dose de angustia), até outros que trataremos a seguir.
Dentre as camuflagens mais comuns do medo usadas pelos humanos temos:
- A timidez: companheira inseparável e permanente do sofrimento. É o pavor ante o fracasso ou o ridículo nas relações ou no caminho para o sucesso e a realização. Confundir timidez com ingenuidade é muito comum, mas é errado. Pessoas tímidas sabem bem o que querem. Tímidos, desejam sim, serem reconhecidos e tidos em consideração.
- A meticulosidade: a obsessão, o exagero por deixar tudo bem claro, no seu lugar, em preto e branco escondendo um pequeno covarde que tem medos e quer paralisar os outros, com atitude com requintes de agressividade e solvência. O anseio da perfeição que na prática quase nunca alcança. Esse indivíduo entorpece o curso natural dos acontecimentos e realiza uma ação negativa e destrutiva do seu ambiente.
-O pessimismo: É a personificação da covardia escondida por trás de inúmeras justificativas e razões. Costuma convidar a tristeza para lhe fazer companhia. Ele quer conquistar alguma coisa, mas não se atreve a lutar por ela. Por esta razão, os pessimistas devem ser alocados em funções associadas com a execução dos trabalhos, sem intervir em decisões, sem necessidade de enxergarem e se preocuparem diretamente com as metas e os objetivos.
-O ceticismo: Partimos da base de que a vida não é sempre o que achamos que é. Pode ser e de fato é o resultado da nossa idealização e de quanto conseguimos enfeitar a realidade, sendo esta a razão pela qual não é assimilada e assumida por todos de igual forma. Assim o cético acredita em não acreditar, valoriza a desvalorização, glorifica a anulação, é o culto do nada. Consegue até plantar a dúvida sobre a sua própria existência e a necessidade de continuar neste plano. Tem medo de viver.
Há outras máscaras menos comuns, tais como:
- O aborrecimento: os aborrecidos têm geralmente medo de si próprio, de ficarem sozinhos, de terem que enfrentar a si mesmos, o que requer de muita serenidade e auto-conhecimento para vencer estes momentos.
- A vaidade: Esconde um medroso que tenta não sê-lo. Se as agencia para se reafirmar, para não se sentir inseguro. Precisa se auto-convencer e convencer aos demais de que é melhor estando consciente ou com dúvidas de que não o é. Vaidade e orgulho não são a mesma coisa, mesmo que a segunda possa ser um degrau acima na corrida dos vaidosos.
- A hipocrisia: o hipócrita preserva uma linha de conduta orientada a ganhar a confiança de quem se teme ao tempo que se odeia. Vive em perene angustia por albergar esta dualidade de sentimentos. Ë pobreza de espírito. É fingido e dissimulado. Dificilmente consiga deixar de ser assim.
- E finalmente a mentira, que é a arma mais comum dos hipócritas, mas também dos que não o são. Costuma em ocasiões ser tolerada e entendida por quem a sofreu. A prática indiscriminada pode nos conduzir a um círculo vicioso, sem saída, de incalculáveis efeitos negativos, onde uma mentira só serve para solapar a outra e para ocultar o medo ao surgimento da verdade.
Estas características que foram acima citadas e analisadas convertem-se em problemas quando se manifestam em grau superlativo. É comum apresentarmos um pouco de cada uma ou de algumas, em dependência das circunstâncias, mas fazermos apologia de qualquer uma delas, deverá se chamar à reflexão e a mudança urgente de comportamento.
Estamos falando de medos e não de fobias. Estas últimas constituem patologias e o tratamento é químico e diferente.
Contra o medo podemos lutar e podemos dominá-lo. Para isto recomenda-se seguir as seguintes etapas:
1.- Tirar a máscara, o disfarce para podermos identificar o objeto e descobrir a verdadeira motivação do medo a combater. Reconheço que não é tarefa fácil definir a quê temos medo e muito menos ainda concluir o porquê temos medo. Para superar esta fase devemos fazer uma observação neutra e criteriosa da situação. Saia de si e olhe o seu comportamento desde fora. Ao tempo que analisa os outros, use a mesma escala de valores para se analisar a si mesmo.
2.- Dedique-se a reunir e selecionar as armas que usará para lutar e vencer a este real inimigo, depois chamamos à guerra, ao combate. Lembre-se que a escolha das armas dependerá da circunstância e da envergadura do contrário. Estes recursos dever-se-ão comportar como facas de dois gumes, por um lado atacarão com a razão tentando atingir o núcleo explícito do agente provocador do medo e pelo outro lado atuará a inteligência, a capacidade de desorientar e desvirtuar as intenções do adversário. As armas podem ser remédios indicados por um especialista, a ajuda de amigos e familiares, e acima de tudo: você.
3.- Analisar o porquê ficamos refém e vulneráveis ao medo. Dedicarmos a corrigir nossos erros e falhas de modo a fortalecermos de maneira sustentável e evitar que ele, o medo, retorne e nos possua. Ajustar e reajustar conceitos e esquemas de conduta.
De cabeça quente nunca conseguiríamos fazer um juízo assertivo de uma situação. Esta não é tarefa de um dia e se puder se acompanhar de um especialista, de um psicólogo, provavelmente o caminho para o alcance dos objetivos se encurtará, facilitará e será menos traumático, mas fique atento: a falta de escrúpulos de certos maus profissionais fará com que eles virem a droga e você se torne o eterno dependente.
É bom saber que você venceu certos medos e melhor ainda que se livrou de certos penosos disfarces.
Lute contra os medos, proponha-se acabar com eles, ocupe-se em vencê-los, já que tendem a crescer e se desenvolver como tudo nesta vida. Temos que intervir no nosso próprio destino e lutar, se necessário, contra o nosso temperamento, até esculpirmos com muito esforço e perseverança, uma personalidade superior.
Confesso que tive muito medo para me decidir a escrever sobre este assunto e muito mais para publicá-lo. Tinha medo de ser mal interpretado, de ser cruelmente criticado, de expor de mais o meu Eu interior, mas me documentei, organizei as minhas idéias e vivências, e o melhor de todo, venci o medo.