sexta-feira, 5 de junho de 2015

Onde está a vaca?

Dias atrás um amigo, contou-me uma história que me deixou estarrecido.

Há alguns meses, ele estava viajando a trabalho, para uma cidade no interior do estado de MG. Andava sozinho de carro pela estrada à noite já de volta para casa, quando subitamente, uma vaca entrou na sua frente e provocou um acidente, que na hora do susto parecia maior, mas felizmente para ele não teve maiores consequências.

O impacto provocou danos significativos na carroceria do veiculo e bastantes escoriações nele, que vieram acompanhadas de sangramentos diversos e abundantes, criando a falsa impressão de ferimentos mais graves e profundos.

Ele foi atingido pelos estilhaços dos vidros, mas afortunadamente, os cortes foram mais superficiais do que aparentavam, tanto é assim que passado poucos meses, restaram quase imperceptíveis vestígios das antigas feridas.

No momento, ele entrou em choque e continuou dirigindo até encontrar uma unidade de saúde, para receber atendimento, mas demorou algum tempo em chegar até uma. No caminho parou em diferentes lugares a procura de informação, alguns deles bem sinistros e onde os moradores o orientavam a tomar cuidados, dados os níveis de violência e a falta de segurança na região.

Mesmo naquele estado, houve quem tentou se aproveitar e trocar as informações por dinheiro.

O amor ao próximo está acabando?

Por encontrar, encontrou até um assaltante do qual conseguiu se livrar usando algumas artimanhas.

O amor ao próximo está acabando?

Enquanto isso, as feridas continuavam a sangrar, até que conseguiu chegar a um pequeno posto e foi atendido.

Ele teve tempo de ligar para o pessoal da empresa em Belo Horizonte que solicitamente tomou as devidas providências e até se deslocou para o lugar indicado pelo meu amigo.

O mais curioso e inacreditável de toda esta história, é que numa média de cada 10 pessoas com as que encontrou, 09 perguntavam pela vaca antes ou sem perguntar ou se importar das sequelas que o impacto teria causado nele.

A curiosidade não era para se condoer com a provável morte do animal, senão que perguntavam pela localização exata ou aproximada do lugar do acidente, para irem abater o animal que estaria morto ou gravemente ferido e assim aproveitarem para ninguém pegar “o butim” antes deles. Já estavam quase prontos com facão e tudo para partir em manadas e esquartejarem o bicho.

O amor ao próximo acabou?

Que horror!

Aproveitando este relato de falta de amor e excesso de praticidade, lembrou-me da antológica luta de MMA, onde o nosso campeão Anderson Silva quebrou o osso da canela.

Mesmo não sendo eu fã dele, mas torcendo pelo Brasil, na hora que foi mostrado pela TV, eu senti dor em dose tripla, pela perda da luta, pela perda do sonho que ele tinha de voltar a ser o campeão de sempre e fundamentalmente pela intensidade da dor física, que deveria estar experimentando no momento.

Mas, outras pessoas que estavam presentes no certame, algumas até do ramo, foram além, mas na direção contrária. Para eles o mais importante não era parar ou ficar perplexo naquelas três dores, isso poderia ser coisa de fracos, de perdedores. O tempo não pode parar em hipótese alguma, registrar o momento para a posteridade foi o ditado do cérebro ou do que restou dele. O que valia era acionar as máquinas filmadoras, fotográficas, os celulares, tudo antes de pensar no socorro, antes de pensar na dor.

O próprio tempo se encarregou de devolver com a mesma moeda, quando outros no lugar de sentir dor e pena perante a derrota e a desgraça deles, daqueles mesmos que registraram a dor e a desgraça do antigo campeão, que a propósito, está nos devendo ainda uma satisfação pelos últimos acontecimentos de dopping, e falo assim porque ele é uma figura pública, exemplo para milhões e que nunca ocultou o orgulho de representar uma nação e o mais puro do espírito esportivo, também correram para registrar os fatos em imagens, desde todos os ângulos possíveis e com certeza a realização estaria naquele que representasse a dor, a vergonha, a derrota e a frustração com maior realismo.

A selvageria dos tempos antigos, feudais, da idade média, voltando (será que alguma vez foi embora?) com outros matizes, com outras manifestações, mas com a mesma cruel essência “humana”.


O amor está acabando?

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