quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Eternidade

Um dia como hoje, mas há 39 anos, perdi a Maravilha.
Falo em singular, mesmo sendo ela de muitos, mas para mim, era, é e será só minha, só posso ter ela, só poderia ser ela.
É egoismo?: Sim. 
Ela foi embora e com ela interrompeu-se a infância, para nunca mais voltar.
Período do qual restaram escassas lembranças, algumas distorsidas, como a das flores de páscoa vermelhas do jardim da entrada, que eu, quase quarenta anos depois, transformei em rosas, e não foi só literalmente; ou daquele mesmo portão alto, que não lembro ter traspassado. Será que eu nunca sai daquele lugar?
A alegria tornou-se triste, incompleta.
Uma renûncia inconsciente à felicidade, pese a ter tido muitos momentos felizes, Graças a Deus.
O tempo passou, mas a dor não.
Quanto daria para te ter comigo, para te ver, para.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Refletindo (5)

Sou a favor da democracia em tudo, desde o pensamento até a ação, mas às vezes nas redes sociais e em outros recursos de midia em geral, me deparo com postagens feitas, disseminando frases ditas por “celebridades” atuais ou famosos pensadores de outros tempos.

Os porta-vozes das mesmas, sentem orgulho e convicção da “genialidade” do que estão reproduzindo.

Vamos pensar um pouco, que nem sempre tudo o que foi dito pelos sábios antigos, tinha o melhor fundamento e por vezes carece de aplicabilidade nos nossos tempos.

E para as “celebridades”atuais, vamos deixar que elas sejam boas naquilo que se destacam, no dom que Deus lhes deu, mas aquelas asneiras que costumam dizer, melhor é fazer de conta que não foi dita e vamos fazer uma faxina na rede e nas nossas cabeças, nutrindo o cérebro do que realmente aporta.

Mas, se você quiser continuar ocupando o seu tempo e a sua capacidade de armazenar informações com …, seja feliz!

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Refletindo (4)

Hoje, dando uma passada obrigatória pela internet, descubri uma frase, que talvez seja bem antiga e conhecida de muitas pessoas, mas para mim foi uma descoberta, aplicável a tantas pessoas que conheci e a outro tanto que pessoalmente nunca encontrei, mas de cujos procederes obtive a maior decepção.

"A luz é mais rápida que o som. Por isso há pessoas que brilham antes de abrirem a boca"

Algumas continuam irradiando, outras caem no eterno apagão.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Um dos meus amigos (6)


Os fatos que originaram esta crônica são bem recentes e como no caso das anteriores, também preservarei a identidade daquele que atiçou a minha inspiração.

Este meu amigo é recém saído de uma relação amorosa, que se alastrou por vários anos.

Durante todo este tempo, ele teve uma vida sexual ativa, mas sempre com a mesma namorada e estava acostumado com a dinâmica do ato sexual, que mesmo que digam e que algumas pessoas se esmerem em trazer coisas novas para o momento, o leque é finito e geralmente as ações são preconcebidas, pre-imaginadas e farto conhecidas.

Acabou, logicamente, de forma conturbada, a relação depois de tanto tempo e para variar a menina sentiu que perdeu todos estes anos, albergando uma ilusão, uma esperança.

O meu amigo estava no início, logo após a separação, um pouco - bastante abatido, mas com ajuda dos achegados, levantamos o ânimo (lembrem que o ânimo dos homens muitas vezes está situado entre as pernas) e ajudamos a que levantasse outras coisas também, como a auto-estima, a alegria, etc.

Pouco depois, acostumado com a proximidade feminina constante, se envolveu num novo relacionamento, com uma garota que teve um passado similar ao dele, ou seja, saída de um relacionamento longo e os dois começaram uma linda história de amor, com saídas para comer, passeios, cinemas, mas “daquilo” nada, até que surgiu o tema e combinaram um dia, após um determinado evento, para irem a um motel e ..”pimba”.

Ele estava apreensivo pela novidade, queria fazer o seu melhor, depois de tanto tempo acostumado com o B A BA, queria causar uma boa impressão. Estava imaginando se ela iria gostar dele sem roupas e coisas do gênero.

Bom. Chegaram a o lugar do “Crime” e tudo rolou muito bem. Ele gostou dela. Ficou meio impressionado com a exuberância das curvas, já que a ex era mais reta e a atual por sinal era bastante fogosa e isto o animou bem, até o ponto de elevá-lo até as nuvens.

Ela parece que gostou do que viu, não sei se foi do cumprimento o da grossura, mas me poupe destes detalhes, não fazem parte da minha preocupação, nem imaginação, mas em se falando de imaginação, ao parecer, ela gostava de alimentá-la e saberão por quê.

Há pessoas que mesmo se sentindo satisfeitas com o sexo com o parceiro ou parceira, estão acostumadas a se auto-satisfazerem e a nossa amiguinha era destas. O meu amigo foi até o frigobar e pegou uma garrafinha de água com gás e a colocou perto da cama, continuaram na brincadeira, que não eram mais preliminares e sim posliminares.

Num momento determinado ele precisou ir ao banheiro e a deixou sozinha na cama e ai ela deu rendas soltas à imaginação, começou a se masturbar e conseguiu finalizar antes do meu amigo retornar. Quando ele voltou, ela estava “desfalecida” na cama, extasiada e próximo dela havia muito líquido por cima dos lençóis.

O meu amigo, que teve poucas experiências com diferentes mulheres, desconhecia que algumas delas conseguem liberar, tanto ou mais fluido do que certos homens, como resultado da ejaculação, é uma dádiva que não muitas conseguem e na ingenuidade, ele comentou para ela que a garrafinha de água tinha se derramado.

Aquele foi um grande mico!

A relação não superou este encontro. Alguma coisa falhou, fundamentalmente, do lado dele. Acredito que agora ele quer só experimentar e se libertar daquela opressão que viveu durante anos.

Hoje liguei para ele e perguntei se tinha encontrado outras garrafinhas de água mineral, ou seja, esta era uma contra-senha entre nós para falarmos do tema de ter “arrumado” alguma coisa e respondeu que depois daquele caso, já teve “finalmente” com duas, mas que nestes casos não encontrou regadoras, senão que a irrigação ficou só pela parte dele.

Grande abraço meu caro jardineiro.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Desabafo no Desabafo

Recentemente recebi um e-mail do meu amigo "Coelhinho", que costuma enviar curiosidades que vasculha na net e achei interessante compartilhar esta em específico, mesmo sendo eu, um aliado da modernidade e dos avanços tecnológicos, mas há comportamentos, que valeria a pena ...

DESABAFO

"Na fila do supermercado, o caixa diz a uma senhora idosa, que deveria trazer suas próprias sacolas para as compras, uma vez que sacos de plástico não eram amigáveis ao meio ambiente. A senhora pediu desculpas e disse: “Não havia essa onda verde no meu tempo.”

O empregado respondeu: "Esse é exatamente o nosso problema hoje, minha senhora. Sua geração não se preocupou o suficiente com  nosso meio ambiente. "

"Você está certo", responde a velha senhora, nossa geração não se preocupou adequadamente com o meio ambiente.Naquela época, as garrafas de leite, garrafas de refrigerante e cerveja eram devolvidos à loja. A loja mandava de volta para a fábrica, onde eram lavadas e esterilizadas antes de cada reuso, e eles, os fabricantes de bebidas, usavam as garrafas, umas tantas outras vezes. Realmente não nos preocupamos com o meio ambiente no nosso tempo.

Subíamos as escadas, porque não havia escadas rolantes nas lojas e nos escritórios. Caminhamos até o comércio, ao invés de usar o nosso carro de 300 cavalos de potência a cada vez que precisamos ir a dois quarteirões.
Mas você está certo. Nós não nos preocupávamos com o meio ambiente. Até então, as fraldas de bebês eram lavadas, porque não havia fraldas descartáveis. Roupas secas: a secagem era feita por nós mesmos, não nestas máquinas bamboleantes de 220 volts. A energia solar e eólica é que realmente secavam nossas roupas.

Os meninos pequenos usavam as roupas que tinham sido de seus irmãos mais velhos, e não roupas sempre novas.

Mas é verdade: não havia preocupação com o meio ambiente, naqueles dias. Naquela época só tínhamos somente uma TV ou rádio em casa, e não uma TV em cada quarto. E a TV tinha uma tela do tamanho de um lenço, não um telão do tamanho de um estádio; que depois será descartado como?

Na cozinha, tínhamos que bater tudo com as mãos porque não havia máquinas elétricas, que fazem tudo por nós.

Quando embalávamos algo um pouco frágil para o correio, usamos jornal amassado para protegê-lo, não plastico bolha ou pellets de plástico que duram cinco séculos para começar a degradar.

Naqueles tempos não se usava um motor a gasolina apenas para cortar a grama, era utilizado um cortador de grama que exigia músculos. O exercício era extraordinário, e não precisava ir a uma academia e usar esteiras que também funcionam a eletricidade.
Mas você tem razão: não havia naquela época preocupação com o meio ambiente. Bebíamos diretamente da fonte, quando estávamos com sede, em vez de usar copos plásticos e garrafas pet que agora lotam os oceanos.

Canetas: recarregávamos com tinta umas tantas vezes ao invés de comprar uma outra.

Abandonamos as navalhas, ao invés de jogar fora todos os aparelhos 'descartáveis' e poluentes só porque a lámina ficou sem corte.Na verdade, tivemos uma onda verde naquela época.

Naqueles dias, as pessoas tomavam o bonde ou de ônibus e os meninos iam em suas bicicletas ou a pé para a escola, ao invés de usar a mãe como um serviço de táxi 24 horas.

Tínhamos só  uma tomada em cada quarto, e não um quadro de tomadas em cada parede para alimentar uma dúzia de aparelhos.

E nós não precisávamos de um GPS para receber sinais de satélites a milhas de distância no espaço, só para encontrar a pizzaria mais próxima. Então, não é risível que a atual geração fale tanto em meio ambiente, mas não quer abrir mão de nada e não pensa em viver um pouco como na minha época?

(Agora que voce já leu o desabafo, envie para os seus amigos, e especial para os que têm mais de 50 anos de idade.)

domingo, 2 de outubro de 2011

Havaneando

Ontem, 01/10/2011, o Butiquim da Carne organizou um evento singular para o espaço: a inauguração de uma exposição de fotos, do fotógrafo Hector Falcón Rodríguez.

Havaneando é o nome sugerido pelo autor. É um conceito, um olhar nostálgico, quase decadente, de uma cidade perdida num tempo velho, ou talvez saída de um velho tempo, a qual viveu dias de esplendor e hoje perpetua o passado, para assombro e admiração de muitos e também, para pesar de muitos.

Uma interessante, cuidadosa e sutil passagem pelas suas tradicionais ruas, mostrando ademais o melhor que elas têm: os seus moradores e visitantes.

Um presente com muito amor.

Por uns instantes, parecia que a alegria do momento estaria comprometida. Foi quando o meu amigo, o fotógrafo, aproximou-se e me confessou que teria sido muito bom, se a família dele estivesse presente, compartilhando com todos e junto a ele. Um ar de tristeza.

Este é um dos preços da emigração, mas para quem já teve que lidar com a saudade e virar mestre na arte de procurar saídas, aquilo foi uma inevitável fraqueza, que conseguiu resolver de maneira muito curiosa. Numa área da exposição, que bem que poderia se chamar de álbum de família, apareciam todos os seres queridos, aqueles que a distância e as leis impostas pelos humanos não conseguem ter por perto, sempre ou quando se quer e até aqueles que, infelizmente,  só podem ser vistos em imagens.

Havana: uma cidade onde até as esquinas são diferentes, de tudo o que alguém possa ter imaginado.

Com Havaneando me senti, como se estivesse caminhando, andando pela própria Havana, a cidade que me viu crescer, a cidade abandonada, a cidade que abandonei, porque nela também me senti abandonado.

Venha conhecer esta maravilha, vista e criada pela lente do fotógrafo, que morreu de dor com cada flash e que renasceu com a impressão, de cada uma das fotos.

Muito obrigado amigo. Sucesso em tua caminhada.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Crônica: Uma nova realidade.

Na altura dos meus atuais 50 anos, depois de ter feito em matéria de profissão como engenheiro, ..., tudo o que me propus e até um pouco (bastante) mais do que imaginava, do que pretendia e precisava para me sentir realizado, decidi me lançar a percorrer outros caminhos profissionais.

Uma vez mais para muitos pode parecer surto ou loucura, a pesar de não ter absolutamente nada perto destas categorias. É uma decisão muito bem pensada e almejada há muito tempo. Estranharia-me que alguém o visse desde esta óptica. Seguramente é porque não me conhece.

Acostumado estou a ser visto como um intruso, por aqueles que querem cortar as asas de quem gostaria de voar junto com eles.

Dentro da própria engenharia, quando desejava me adentrar em terrenos comumente dominado por outros, a negativa e as travas nunca deixaram de marcar presença e pese a tudo,...

Quando recebi o convite para ministrar aulas em cursos de pós-graduação e MBA, a situação não foi diferente.

Toda uma vida acostumado a andar e desandar num âmbito diferente do atual, ao qual devo me acostumar.

A minha realidade hoje é outra.

Dias atrás, quando estava andando pela rua até a porta da instituição do governo, aonde me dirigia para resolver alguns problemas, um senhor desde a calçada oposta me chama e me disse: “Você é dono de um boteco. Semana passada, eu estive lá, gostei muito e fui muito bem atendido. Vocês estão de parabéns”.

É isso, hoje não sou mais o engenheiro (ninguém tira de mim os meus anos de estudo, trabalho e conquistas), o professor (que a base de muito esforço conseguiu os seus objetivos e passar o seu melhor para os alunos). Sou dono de um Bar / Restaurante, mas para facilitar, sou um butequeiro....... sou feliz.

domingo, 4 de setembro de 2011

Um dos meus amigos (5)

Sempre costumo brincar com a minha esposa, fazendo uma confusão entre os termos "hipocondríaca" e "hidropônica", o que é motivo para risos e alegrias, mas eu, que a "acusava" de ser em extremo cismada com problemas de doenças e de achar, que tinha tudo o que ouvia dizer que acontecia em pessoas conhecidas e em nem tão conhecidas assim, tive recentemente uma imensa surpresa, do tamanho da largura do largo dos ombros do amigo, que me inspirou a escrever esta crônica.

Ele é o protótipo de alto astral, mas quando topamos hoje de manhã, qual não seria a minha surpresa ao perceber que por trás daquele sorriso, rondava uma enorme tristeza, uma preocupação que o abalava.

Custou um pouco, mas depois de insistir, ele confessou-me, que estava aguardando com certa ansiedade, os resultados de um exame médico de laboratório e que estava com suspeita de uma doença, daquelas que alarma e que supostamente só dá nos outros, mas que quando bate na tua porta, o mundo desaba e a realidade do triste e perverso, converte-se em inseparável companheira, cuja única alternativa é cuidar dela para continuar vivendo, com a melhor qualidade possível.

Tentei indagar um pouco sobre o assunto, mas na medida em que mais avançava, mais me perdia. A confusão das ideias reinava e mesmo sem entender muita coisa, comecei a ficar preocupado, pela probabilidade improvável de meu amigo adoecer e pela improvável provável reação ao conhecer os resultados.

A minha amizade com ele é bastante recente, mas às vezes tenho a sensação de que o conheço desde sempre, tem sido uma empatia, daquelas que um diminuto instante consegue apreciar, uma sintonia perfeita, que permite ler no ar a palavra: AMIGO.

No finalzinho da hora do almoço, ele me ligou dizendo que nem tinha conseguido almoçar, porque estava ligando para o laboratório, para saber se já tinham liberado os resultados e a angústia aumentava, porque todos os outros exames estavam disponíveis, excepto “aquele”, mas que já estava pronto e me pediu para acompanhá-lo.

Eu não tinha almoçado ainda por questões do workalcoolismo e sem pensar, me dispus a acompanhá-lo e a dar uma força, ao tempo que pensava na melhor maneira de aplacar a situação.

A tensão durante o caminho foi crescendo e nem a música da rádio, nem a introdução de temas para aliviar tensões, resolviam muita coisa. Decidi então encarar o assunto e analisar diferentes ópticas, mas com aquela condição de não querer aceitar o adverso.

A situação tornou-se em extremo complicada, porque a essa altura, eu também já não estava conseguindo ser o suficientemente forte e tinha sido absorvido pela circunstância e pelo estado do meu amigo.

Chegamos ao balcão e a odisséia, que esperávamos estivesse ao ponto do desenlace, ganhou matizes quase dramáticos, porque a atendente não encontrava os papéis e saiu e voltou várias vezes. Já o meu amigo chorava por fora, eu chorava por dentro … comecei a chorar por fora.

Até que em fim, entregaram os resultados e temendo uma reação inesperada, pedi para abrirmos os resultados só dentro do carro, onde ninguém percebesse e ficássemos alheios aos olhos dos curiosos.

Chorando, respiramos fundo e sentimos o prazer de chorar de alegria.

Depois daqueles intermináveis momentos o meu amigo contou que era hipocondríaco, que tinha certeza de que os sintomas que “experimentava”, estavam mais na cabeça dele do que em outro lugar, mas que não sabia lutar contra isso.

Aí, respirei aliviado e no lugar de ficar chateado, o abracei e desde esse momento entendi que a nossa amizade estaria só crescendo.

Sou muito grato pela tua confiança.

Sou eternamente feliz por ter te encontrado.

Mas a historinha do lobo e as ovelhas, não vai se repetir. Da próxima vez serei o teu antídoto, a tua cura.

A tua qualidade humana marcou férrea presença. Em todo momento só pensava na afetação que poderia causar nos seres queridos. Muitos, nessa hora, só pensam neles. 

Grande abraço meu caro! Não é todo dia que alguém se preocupa com a gente e isto tem que ser preservado.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Lenda do Bigode do Tigre Vivo

Um ex-colega de MBA, hoje devindo vizinho profissional, porque as empresas onde trabalhamos compartilham o mesmo prédio, presenteou-me com estas linhas cheias de uma interessante moral.
Obrigado Roberto Gomes.
Para aqueles que já a conheciam, ficará em qualidade de lembrança.
Para aqueles que não a conheciam: espero que a entendam e gostem.

A LENDA DO BIGODE DO TIGRE VIVO

Uma jovem mulher, Yun Ok, foi até o célebre monge da montanha.

- Ó respeitável sábio - disse ela. - Estou em dificuldades! Faça-me uma poção.

- Tudo bem - disse o sábio. - Qual é sua história?

- É meu marido. Nos últimos anos, ele esteve ausente, lutando numa guerra. Agora que voltou, quase não fala comigo. Se falo, ele parece não ouvir. Quando abre a boca para falar, é rude e zangado. Se lhe sirvo comida, ele não gosta; empurra o prato para o lado e sai da mesa raivoso. Preciso de uma poção para que ele volte a ser amoroso e carinhoso!

O sábio respondeu:

- Tenho a receita. Mas o ingrediente essencial é o bigode de um tigre vivo.

- O bigode de um tigre vivo! - disse a moça. - Como vou conseguir isso?

- Se a poção for realmente importante para você, então você terá êxito - respondeu o monge.A moça foi para casa. Naquela noite, enquanto o marido dormia, saiu furtivamente com uma tigela de arroz e um naco de carne. Chegou a uma prudente distância da caverna de um tigre, estendeu a comida e o chamou para comer. O tigre não veio. Na noite seguinte, fez a mesma coisa, desta vez mais perto da caverna. De novo, nada aconteceu.

Todas as noites ela ia à caverna, cada vez se aproximando mais. Pouco a pouco o tigre acostumou-se com ela. Certa noite chegou a uma distância da qual se poderia atirar uma pedra na caverna e parou. A moça e o tigre fitaram-se sob a luz da lua. Na noite seguinte, ela se aproximou ainda mais, a ponto de estar tão próxima que poderia falar com o tigre com uma voz muito suave. Pouco depois, o tigre comeu a comida oferecida.

Na outra noite, o tigre a esperava. Depois que ele comeu, ela passou a mão sobre sua cabeça, e ele começou a ronronar. Seis meses haviam se passado desde a noite da primeira visita. Finalmente, depois de tê-lo acariciado na cabeça, ela disse: "Ó generoso Tigre, preciso de um de seus bigodes. Por favor, não se zangue comigo!". E ela cortou um dos bigodes. O tigre não se zangou, e a lambeu. Ela correu em disparada pela trilha, com o bigode nas mãos. Exultante, chegou à caverna do eremita: "Ó grande sábio, consegui o bigode do tigre! Agora você pode fazer a poção mágica!". O sábio examinou o bigode cuidadosamente, satisfeito porque era mesmo de tigre, e jogou-o na fogueira.

- O que você fez? - gritou a moça. - Depois de todo o esforço que eu fiz para pegar o bigode!
Conte-me como você o conseguiu - disse o sábio.

Todas as noites, eu ia à caverna do tigre com uma tigela de comida, para ganhar sua confiança. Falava docemente com ele, para fazê-lo compreender que só queria seu bem. Fui paciente. Cada noite, levava comida sabendo que ele não a comeria. Mas não desisti. Nunca falei asperamente, nem o censurei.

Finalmente, numa noite, ele andou alguns passos em minha direção. Nas noites seguintes, ele já estava me esperando na trilha e comia da tigela. Passei a mão em sua cabeça e ele começou a ronronar.

Foi aí que consegui cortar o bigode dele.

- Você domesticou o tigre com sua persistência e seu amor - disse o sábio. - Mas você jogou o bigode do tigre no fogo! Foi tudo a troco de nada! - lamentou-se ela.

- Não, não foi tudo a troco de nada. Você não precisa mais do bigode. Será que seu marido é mais feroz que um tigre? Será que ele é menos sensível ao carinho e à compreensão? Se você é capaz de ganhar a confiança de um animal selvagem e sedento de sangue com suavidade e paciência, certamente poderá fazer o mesmo com seu marido!

Yun Ok permaneceu emudecida por alguns momentos. Então voltou pela trilha, refletindo sobre a grande verdade que havia aprendido do sábio da montanha.

MORAL DA HISTÓRIA: O segredo para lidar com pessoas difíceis é não morder a isca da negatividade delas e deixar que elas mordam sua isca de um coração empático e cheio de amor.

domingo, 31 de julho de 2011

Fotos: Butiquim da Carne.

Butiquim da Carne - Confirmado: "Os sonhos não envelhecem".

Situado na cidade de Belo Horizonte, capital do estado das Minas Gerais e integrante deste imenso conglomerado chamado Brasil, para ser mais preciso ainda, no alto do Bairro São Pedro, na Rua São Romão entre Lavras e Viçosa, esta nova vida, nos fez descobrir, que ainda somos férteis, nasceu um novo filho.

Que venha cheio de saúde e prosperidade!.


Vista Parcial do terceiro ambiente situado no andar superior.

Vista parcial do Primeiro Nível do bar / restaurante.

Interior do Butiquim da Carne. Diferente e Aconchegante.


domingo, 17 de julho de 2011

Crônica: Testemunho de um cadeirante.

Quase todos os dias ao sair do serviço, passo por uma esquina, onde invariavelmente encontro com o meu companheiro de sinal, o meu colega de engarrafamentos, um jovem que domina com agilidade uma cadeira de rodas e que a olho nu está desprovido das duas pernas.

Pela complexão física, dá para perceber que não há muito tempo que está nesta condição, além de não apresentar visíveis malformações.

Com freqüência compro dele balas, confesso que sou viciado por elas, mesmo sem compreender a minha fixação, chegando ao ponto de quase sentir abstinência, quando me faltam.

Às vezes troco umas palavras para preencher o tempo, outras são simples olhares de cumplicidade com o tédio do trânsito.

Um dia precisei estacionar perto da esquina onde ganha o seu sustento, pois necessitava entrar numa loja próxima do lugar e ele aproveitou, se aproximou e conversou um pouco comigo, sobre questões triviais, evidentemente querendo ampliar a rotineira relação dos instantes que geralmente fico no semáforo e entre uma coisa e outra lhe perguntei se fazia muito tempo que ficava na cadeira de rodas, ao tempo que elogiei as habilidades que possui na condução, assim como a gentileza e o bom comportamento que sempre mostra para todos naquela esquina.

Ele me respondeu:

- Com a pressa no trânsito, eu não ganhei muito tempo, ganhei muitas multas. Por perder, perdi várias apostas, porque fazia rachas. Perdi quase uma das maiores apostas que os seres humanos temos que são nascer e preservar a vida. Esta última quase que a perdi, só que dessa vez, Deus foi benévolo comigo e perdi somente as pernas. Até parece que foi somente as pernas que perdi. Perdi a minha liberdade de ir e vir, de ser normal como quase todos, mas mesmo assim eu decidi na medida do possível, manter a vida mais ou menos como era antes, tentando pagar algumas coisas para mim, como a parte do aluguel que divido com um colega.

- Hoje, ainda que tarde, reconheço que de nada adiantava querer andar tão de pressa, se em definitiva, os lugares para onde eu ia, ficavam parados e até os meus dias ficaram parados por muito tempo, onde nada acontecia, naquela cama, naquele quarto.

- Durante alguns anos procurei emprego dentro daquelas oportunidades de “caridade” que certas instituições oferecem para deficientes físicos, mas não deu certo. A rua, a esquina, foi quem me ouviu, mesmo assim até hoje não consigo deixar de sentir esta sensação absurda de humilhação misturada com uma dose de orgulho, que muitos não entenderão e que não perderia tempo em explicar. Só a esquina me deu amparo.


- Quer saber de uma coisa? Eu não reclamo, nem sinto que estou pagando pelos meus erros. Foi a parte que me tocou e vou literalmente rodando para cima e para baixo. Já me perguntei o que teria sido da minha vida se nada disto tivesse acontecido e a resposta que encontro é sempre a mesma: diferente, mas sem a noção de provavelmente ter sido melhor ou até pior.

Ele vende balas de abnegação, panos de chão empapados em espírito de sacrifício, ele é educado com austeridade. Eu nunca o vi sorrir.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Crônica: No Laboratório

Uns tempos atrás, o filhinho do Vinícius, vulgo “Piruetas”, andou passando mal e teve alguns piripaques  na Escola Pública que freqüenta e decidiu levar o menino até a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) mais próxima da comunidade, um dia que estava passando mal.
Eles têm que se virar sozinhos, porque a mãe está “guardada”, vendo o sol nascer diariamente quadrado.
Quando foi atendido e examinado pelo médico, apesar dos visíveis sintomas de verminose, ele decidiu fazer uma checagem mais ampla e após os exames de sangue feitos no local e de ter medicado o rapaz, indicou alguns outros exames complementares de fezes (coprocultura)  e seriados de urina.  Passou todas as indicações, os recipientes e as guias.
- Você está dizendo que o meu filho tem parasitas? -Perguntou o Piruetas-.
- Sim, é exatamente isso, só que temos que conferir qual e em que proporção.
- Mas na merda dele não tem lombriga não. Não é assim pirralho? Você já viu alguma? – Perguntou o Piruetas referendo-se ao filho -.
- Não pai. Nunca vi.
- Então doutor?
- Lombrigas, não é a única manifestação de verminose, -esclareceu o Doutor- há outra extensa variedade que não se manifesta da mesma forma e muitos são imperceptíveis, são microscópicos.
- Tá bom, esse negócio não doe e é de graça. A gente faz. Falou!
No dia seguinte em casa, de manhã, na hora do menino colher o material.
O Piruetas fala para o filho:
- Lembra de lavar bem o “animal” e de secá-lo como o médico falou, antes de mijar.
- Ok pai e como faço com o outro?
- O outro que?
- O cocô papai.
- Há duas formas: ou você caga num papel e depois com aquela colher de plástico pega um pedaço da parte de cima e enfia no pote, ou coloca o pote na “porta”, deixando o esquilo literalmente sair da toca, judiando da louça e já vai direto.
- E se eu fizer num papel, quem limpa o negócio depois?
- Com certeza você.
- Então vou sentar no vaso e pôr o pote próximo para que caia direto.
Mas a criança, inocente ao fim, não calculou a quantidade de excremento que estava saindo considerando a capacidade do potinho.
- Ô Pai.
- O que foi filho? O urubu bicou?
- Pai: bicou demais, sujou! Não está cabendo no trem aqui, está ficando russo, desbordou. –Clamou o menino desesperado por ajuda-
- Dá o seu jeito aí meu filho, retira um pedaço do que está sobrando e coloca a tampa!

O menino estava naquele trance de se limpar, aquele nojo das mãos borradas e na situação de ter que colocar ainda a tampa no pote. Aconteceu o mais lógico, a tampa caiu no vaso e agora?
- Pai: a tampa caiu dentro do vaso sujo, você pega para mim?
- Sem chance filhote, deixa assim, a gente entrega sem tampa, - entrando o Piruetas pela porta do banheiro-, pega esta sacola e enfia tudo lá dentro, mas com jeito.
O sujeito chega ao laboratório de análises químicas com a sacolinha "premiada".
Passa pelo vigia da porta e nem tchum, nem olha para o fardado, não dá idéia nenhuma.
Mas o guardinha o aborda, depois de um estrondoso “Bom dia” lhe pergunta se ele vai fazer "colheita" (vou dar um desconto para o fardado, que tem 8 anos na porta do laboratório e não aprendeu até agora, que o termo correto seria "coleta", o mesmo que é usado para o lixo) e o nosso cara se detém e fica emburrado, tipo assim, sem entender:
- Como assim? Aqui é lavoura ou é aquele negócio de picada na veia, sangue e esses troços?
- Sim você está certo, só perguntei para lhe estender uma senha.
- Ok, dá aqui! O meu filho obrou hoje de manhã e eu vim para entregar este negócio.
O cara dá uma olhada de maus amigos para os presentes na sala de espera, abre bem as pernas ao se sentar como se fosse o sujeito mais bem dotado do universo, dá aquela coçada básica, abre os braços ocupando mais de uma cadeira e aguarda impaciente até ser chamado pelo número.
Minutos depois no painel aparece o número da senha dele, se levanta e se aproxima do guichê indicado.
Ao chegar se depara com um dos acostumados rapazzzes que às vezes ficam nestas posições de atendentes.
- Bom dia. -Falou o atendente todo-todo-
O nosso amigo torceu o nariz e não deu muita bola, pegou a sacola e a colocou em cima da pedra de granito no balcão.
- Esse é o material? –Pergunta gentilmente o rapaz do laboratório.
- Bom! Aqui o que eu trago é bosta e mijo. Vem cá brow, se não for isto, vai ser o que então?
- Tudo bem, é outra forma de se referir ao mesmo assunto. Trouxe as guias?
- Estes são os papéis. Toma!
- Muito obrigado. Mas, o que aconteceu com a tampa da vasilha das fezes.
- Olha, a tampa do pote caiu no vaso e você tem que entender que nem eu e nem o meu filho, íamos enfiar a mão no vaso para pegá-la. Entendeu?
O atendente abaixa o tom da voz e fala em tom de cumplicidade.
- De acordo, só que o material pode ter se contaminado e perder a esterilidade do pote.
- Me diga uma coisa. Por que você está falando com essa voz de rato?
- Senhor, pelo que eu sei ratos não falam.
- Ok, mas com certeza, se falassem seriam muito parecido com isso que tu estás fazendo ai.
- Voltando ao assunto, eu não poderei receber o material nestas condições e lhe repassarei uma nova guia para que o traga de volta, assim como fornecerei um pote devidamente esterilizado para repetir o exame. O exame de urina sim será realizado. Aguarde-me um minuto, por favor.
O atendente levantou-se, afastou-se a procura do recipiente e da nova guia. O tempo fechou, o nosso amigo, não entendeu nada da verborréia, só deduziu que a merda que a essa altura estava fedendo bastante, não ficaria no laboratório e ...
- Ô, olha aqui, eu não vou vir outra vez e também não vou para casa com essa bosta novamente.
- Não precisa voltar para casa com ela, você pode jogar a sacolinha na primeira lixeira que encontrar na rua.
E assim o Piruetas, falou outra dúzia e ½ de palavrões, alguns para o atendente, outros para si mesmo e outros para quem estiver ouvindo, saiu pela porta, jogou a sacola fedorenta no lixo próximo da saída e o que aconteceu depois, veremos numa próxima postagem.
Só peço para você tomar os devidos cuidados, quando estiver fazendo as suas necessidades matinais e tiver que fazer uma daquelas ou destas "colheitas".

Cá entre nós. Mesmo que o fato esteja associado à uma atividade fisiológica comum, é complicado e primitivo o processo da coleta e que dizer do constrangimento, na hora de entregar o potinho ao antendente?
Desculpem, mas nem sempre dá para falar de coisas bonitas e cheirosas.
Com certeza o Piruetas diria: que desculpas nem que nada, todo o mundo caga, mija e fede pra caramba! Desde aquela ninfetinha arrebitada até aquele velho caindo aos pedaços e que fica com a boca sempre aberta.
Are you with me?

sábado, 25 de junho de 2011

Crônica: Vagas para Humanos

Alguém disse: "Será que há vagas para humanos no moderno mundo corporativo?,
mas eu também fiquei com a mesma dúvida e procurei algumas respostas.

https://www.webartigos.com/artigos/vagas-para-humanos/69456


segunda-feira, 20 de junho de 2011

Crônica: É preciso Comemorar.

A importância de comemorar os passos que damos.
A devida relevância que deveriam ter nas nossas vidas todas as conquistas, mesmo considerando-as pequenas e insignificantes.
Um aporte para aqueles que desejam trilhar o caminho para a felicidade e o bem-estar da alma.

http://www.artigonal.com/cronicas-artigos/e-preciso-comemorar-4915176.html

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Fotos: Brasil. Rio de Janeiro

Faz algum tempo que não ia ao Rio como turista.

Será que terei que dizer que estava em Copacabana?

Mas, o Rio de Janeiro continua ...

Lagoa Rodrigo de Freitas

Maracana e Maracanazinho

Ponte Rio - Niteroi. Deixe a preguiça de lado e faça um esforço visual, que a ponte está ai. 

Pão de Açúcar

Cristo de Frente

Cristo por trás.
Daqui, do Cristo Redentor, do Corcovado foram feitas as vistas aéreas.
Todas as fotos do Cristo foram postadas na horizontal. É coincidência?

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Feliz Cumpleaños Pollitos.


Hoje é o aniversário dos meus filhos, mas tenho a sensação de que é o aniversário de todos em casa.

Neste mesmo dia, que por coincidência feliz, naquele ano foi Domingo Dia das Mães, nasceram não somente os meninos dos nossos olhos, senão também uma nova mulher-mãe e um novo homem-pai.

A alegria era uma só, ao tempo que multiplicada!

Já são 14 anos de continuidade, de aprendizado, de trocas, de conquistas...

Que a vida nos reserve muitas coisas mais, por cima de tudo boas e como sempre: juntos!

domingo, 1 de maio de 2011

Crônica: O Rapaz do Sinal.

Aconteceu comigo.

Fiquei aquém no pré-julgamento.

Ajuda nem sempre é sinônimo de dinheiro, ao tempo que dinheiro não é a única via para o reconhecimento.

Se o encontrarem, repassem as minhas saudações, talvez ele lembre.

http://www.paralerepensar.com.br/paralerepensar/texto.php?id_publicacao=18354

Hoje tem sido um dia sui generis. Recentemente recebi o contato de um ex-colega de trabalho que estava interessado em me encontrar e conversar sobre assuntos profissionais de interesse comum e este foi o primeiro acerto do dia, já que valeu muito a pena ouvir e discutir sobre a proposta.

Casualmente, após estacionar o carro, o meu celular tocou e tratava-se de uma ex-colega de trabalho, que virou uma grande amiga e que há algum tempo, os nossos contatos estavam silenciados e experimentei novamente o prazer de escutá-la e rir.

No lugar marcado para o encontro, tive a oportunidade de reencontrar outro antigo colega de trabalho o que foi bem reconfortante e na saída, coincidi no elevador do prédio, com um velho e legal ex-colega. Foram instantes. Foram gigantes.

Conheci também novas pessoas vinculadas com o motivo inicial.

Próximo da hora de almoço, concluímos a conversa e sai de pressa a procurar os meus filhos na escola, onde um colega deles estaria também me aguardando, porque iria para a nossa casa e lá me esperava a enorme tarefa de preparar o almoço para o qual minha esposa já tinha dado todas as instruções. Estava apreensivo. Sou uma negação na cozinha.

Mas, para completar esta parte do dia com boas lembranças e agradáveis fatos, aconteceu um que parecia, inicialmente, ser desagradável ou ao menos tristemente rotineiro.

Parei o carro num tumultuado sinal da cidade, altamente freqüentado por ambulantes, entregadores de panfletos, procuradores de esmola e até de ocasionais assaltantes.

Estava com o vidro aberto e o mantive assim. O meu bom senso, - graças a Deus desta vez acertei -, permitiu-me prever que não me aproximava de nenhum perigo iminente. Já ouvi muitos desgarradores relatos de pessoas que se sentiram discriminadas e diminuídas ao perceberem o som das travas e da subida dos vidros acionados pelos motoristas, quando se aproximavam deles e tentei fazer a minha parte para não aumentar a dor do próximo. Decidi tentar a sorte e cheio de fé aceitei o avanço daquele pessoal, que lutava sob o sol escaldante do meio-dia.

Peguei alguma que outra propaganda e ato seguido aproximou-se do carro um rapaz numa cadeira de rodas, visivelmente deficiente físico. Cortez, educada e simpaticamente pediu dinheiro, mas o reservatório onde costumo depositar moedas para eventualidades estava vazio, alguém em casa adiantou-se e expliquei-lhe que estava sem dinheiro nesse momento. Ele aceitou a minha justificativa, agradeceu e retirou-se, mas em seguida voltou e pediu-me licença para me fazer uma pergunta e eu dei-lhe toda a faculdade do mundo para perguntar o que quiser. Pensei que talvez faria alguma pergunta sobre a minha origem por causa do meu sotaque, ou alguma coisa do gênero.

Eu costumo dirigir com uma luva de couro, daquelas usadas para malhar, na mão esquerda. Esta é quase uma marca registrada minha. Alguns a catalogam de frescura, de ato de playboy, mas, com todo o respeito: não estou nem ai para esses comentários. Aperto muito o volante e aparecem calos que incomodam para certas atividades. Se por acaso a tua cabeça podre começou a imaginar detalhes maldosos, devo te dizer que você está certo, também o uso para essas coisas e machuca. 

E não é que o rapaz ficou sério, com evidentes sinais de vergonha e pediu-me a luva, caso não acarreta-se problemas para eu cedê-la?

Inicialmente não entendi o inusitado do pedido, não o associei com nada, mas confesso que não pensei duas vezes, tirei-a da minha mão e a entreguei. O momento requeria velocidade de resposta. O sinal abriria em frações de segundos.

O que aconteceu depois, acredito que não existam palavras para descrever a alegria que ele experimentou ao colocá-la na sua mão esquerda, não sem antes me mostrar o quão calejadas estavam suas mãos de acionar as rodas da sua velha e precária cadeira, dizendo que agora as coisas melhorarão para ele.

O brilho nos olhos daquele rapaz comoveu-me profundamente. Faz muito tempo que não via nada parecido. Os meus olhos também umedeceram e brilharam.

Na hora só tinha a luva da mão esquerda. Passarei por aquela mesma esquina para entregar a da mão direita.

Se passarem pelas esquinas em Belo Horizonte, onde confluem as ruas Augusto de Lima, Contorno, Ituituba, do lado de uma grande drogaria na rua João Lúcio Brandão e encontram um jovem numa cadeira de rodas com luva ou com luvas, conhecerão ao rapaz do sinal.

Que Deus te mande muitas outras ajudas!

sexta-feira, 29 de abril de 2011

O Filho do Lixo. O Livro. Apresentação.


Apresentação.

Esta minha história, ao parecer, começa como um daqueles passatempos, onde é preciso achar os 07 erros para concluir o desafio que lhes proponho: ler, entender e aceitar.

Para facilitar a procura pelo primeiro deles, devo dizer que contarei sobre os derradeiros do filho de um lixeiro, que por acaso sou e não sou eu.

Falarei de mim, mas eu não sou exatamente filho de lixeiro algum. O gari, o trabalhador que operava no carro da recolhida do lixo urbano era meu célebre avô, um grande e forte mancebo negro a quem não tive a sorte de conhecer, mas de quem herdei o nome e quem sabe muitas outras coisas. Não tive ninguém para me contar sobre as semelhanças e diferenças entre nós. Só espero que ele tenha sido mais feliz do que eu fui, tão feliz quanto eu sou.

Ao tempo que sou neto do lixo, também sou sobrinho do lixo, já que dois dos meus tios foram lixeiros. Mesmo tendo desempenhado outras funções anteriormente, ao final das suas vidas vieram se refugiar na riqueza de recolher e limpar as ruas da cidade.

Esta é a minha estirpe. Esta é a minha linhagem. Este é o meu orgulho. O exemplo de um homem que conseguiu educar todos os seus numerosos filhos e criá-los nos princípios do bem.

Num espectro cheio de preconceitos e racismo, todos os seus netos homens fizeram curso superior. Eu sou mais um dentre eles. Todos somos ou engenheiros ou médicos. Será que esta é uma grande conquista? Somos o fruto da abnegação, da dedicação e dos valores da preservação e unidade familiar. Isto sim merece ser exaltado, é um grande feito.

Devo falar em passado, porque praticamente nenhum dos meus primos está mais entre nós, no mundo dos vivos.

A realidade para mim tem 03 estágios, que ficam no mesmo plano. A Verdade, da qual sou bastante adepto, ainda que por vezes não pareça, a Mentira, como o último dos recursos, quando acudo a ela é por falta de opção mesmo e o Ocultar, uma saída por cima de tudo, inteligente e que me proporciona primeiro que tudo, proteção e sobrevivência.

Depois deste preâmbulo, com certeza o que veremos daqui para frente é um compêndio de muita verdade, misturada com alguma que outra mentirinha ocasional, só para temperar e acompanhando, algumas passagens escondidas, ocultas ou simplesmente esboçadas, para poder literalmente continuar vivendo ou poder viver em paz.

Ou seja, uma história, cheia de histórias mal contadas, como acontece na vida real, porque para bem ou para mal, nem tudo pode ser dito e nem sempre podemos contar com a explicação ou a confirmação dos acontecimentos. A dúvida costuma pairar por cima daquilo que não vemos, que não vivemos e para os leitores, sempre existirá um breve espaço para a desconfiança e os devidos questionamentos.

Quantos até hoje não acreditam que o homem nunca pisou na lua, mas nem por isso, deixam de existir datas, imagens e toda uma história relacionada com este fato, ora real, ora tergiversado, ora inventado.

A lista seria interminável, porque poderíamos incluir nela toda a história do mundo. Aquela que não constatamos e até a contemporânea, da qual não participamos de maneira direta, não protagonizamos.

A própria explanação sobre as nossas origens. A humanidade que acredita ter nascido de um Adão, de cuja costela surgiu uma Eva, tanto como daquela parcela que raciocina que veio da evolução das espécies, segundo tentou nos explicar e convencer Darwin, como de outra boa parte que nem se faz estas perguntas.

Falando da Teoria da Evolução, lembro todas as vezes que durante a minha infância e a minha adolescência, tive que ouvir aquela “original piadinha” tão discriminatória quão sem graça: “Se o homem descende do macaco, por que não saem homens dos negros atuais?” Isto era parodiando uma singular propaganda de televisão educativa que passava no meu país e que chamava à reflexão: “Se o homem descende do macaco, por que não saem homens dos macacos atuais?” A minha pergunta é outra: Por que saem tantos monstros dos homens na atualidade?

Só sei que vim do passado.

Só sei que vou para o futuro.

O presente existe porque houve um passado. O futuro não fica tão longe assim. Ele começou agora.

Peço desculpas, mas há histórias que não podem ser contadas. Não esperem por capítulos. Não aguardem por fatos em seqüências. Serão só momentos cronologicamente desordenados, daquilo que eu sei, daquilo que eu vi, daquilo que eu posso contar. 

terça-feira, 12 de abril de 2011

Artigo: Empresas e Funcionários.

Os tempos mudaram, mas em se falando de empresas e funcionários, muitas coisas permanecem inalteráveis. Se a empresa não mudar ou se mudar para pior, faça você a diferença e mude. 

https://www.webartigos.com/artigos/empresas-e-funcionarios/63202

A terminologia moderna, de denominar as empresas como organizações e de chamar aos funcionários de colaboradores, não elimina o fato das instituições continuarem, em princípio, sendo as mesmas, aplicando certas mudanças, para atingirem determinados patamares e mudarem alguns paradigmas.

As empresas são entidades que visam de uma forma ou outra: o lucro, sendo esta a maneira de subsistirem e progredirem. Por sua vez os funcionários são trabalhadores que exercem funções específicas e estão (são) orientados ao cumprimento de objetivos e metas.

Ao tempo que elas (as empresas) se esmeram em introduzir modificações que se adéquam a atualidade, de observarem novos requisitos e adotarem uma postura mais "humana" para com o capital humano (os funcionários), velhos conceitos imperam nas cabeças daqueles, para os quais sair da zona de conforto, é quase que uma negação.

Para estes indivíduos, as empresas são entidades para manter a gente presa, como bem indica uma parte do nome (em-presa), nos moldes e facilidades que elas desejam, desconsiderando que as grades e limites que estabelecem são tão fortes e duradouros, quanto a vontade e a necessidade originadas nos trabalhadores, de continuarem se submetendo a estes padrões, assim que elevarem o seu grau de empregabilidade.

As empresas tomavam-se e erradamente tomam-se o direito de discernir, decantar e tentar definir os destinos e rumos dos seus empregados. Às vezes referem-se a estes como peças de um quebra-cabeça ou outro jogo de mesa, que podem ser dispostas da maneira que melhor lhes parecer, esquecendo da liberdade que possuem os seus geridos, de optarem por outros caminhos.

Da mesma forma que a empresa pode determinar até onde eu posso lhe ser útil ou me forçar a assumir posições e labores que não me atendem, eu como trabalhador, tenho a possibilidade de escolher e definir que a empresa, também não me atende mais e que está limitando as minhas capacidades e potencialidades.

Nos dias de hoje e para sermos justos, já faz algum tempo, o panorama da relação entre empregado e empregador vem sofrendo alterações, onde querendo ou não, quando há uma descompensação na relação ganha x ganha, uma das duas partes fará por reivindicar a sua vontade, que de fato é seu direito. 

Caso contrário, adotará medidas à procura do seu bem-estar, bem distante do lugar e métodos tradicionais. Este privilégio não é só das empresas. Os empregados ganharam autonomia, poder de decisão, habilidades na barganha e sempre que estejam em reais condições de lutar e de exigir, por suposto, irão à luta.

Foi-se o tempo em que os pais faziam carreira num determinado emprego, onde entravam e saiam (só por óbito ou aposentadoria), na maioria dos casos fazendo durante eternos longos anos a mesma coisa e cuja maior realização era empregar ao filho e que seguisse os seus mesmos passos, sentir o sadio orgulho de ensinar, como sempre fizeram desde que nascemos, exatamente, o que eles conheciam. 

Este pensamento hoje é quase que inconcebível. A estabilidade no emprego não se subordina à estagnação, ao fato de não ter aproveitado a vida para aprender novas coisas, experimentar outros ambientes e poder ser dono do teu destino. 

Até fazendo a mesma e única coisa, se especializando e virando uma sumidade num determinado aspecto, sempre haverá a possibilidade de exercer a profissão, em lugares diferentes, que te ofereçam melhores condições e que te proporcionem uma maior valorização da tua força de trabalho, que tanto num lugar como em outro, o que você repetidamente faz é vendê-la e isto será sempre positivo.

O pessoal das antigas merece todo o nosso respeito, toda a nossa consideração, simplesmente porque os tempos eram outros e os valores e os costumes evoluíram. Nós, nos tempos deles, seríamos como eles ou provavelmente um pouco diferentes. Eles, nos nossos tempos, seriam como nós ou por que não, talvez melhores. 

O que não dirão os futuros habitantes do planeta, sobre o nosso proceder? Como seremos julgados por eles? A evolução transcorre em intervalos tão curtos que os procedimentos, processos e práticas ficam arcaicos e em desuso em pouco tempo, mas por outro lado, a evolução das mentalidades médias da sociedade, não acompanha esta velocidade.

Empresário, dono, empregador ou como quiser chamar, tenha em conta que, nem sempre, nem geralmente, é o funcionário quem perde quando decide abandonar uma empresa ou quando é demitido. Muitas vezes é a empresa que perde. 

O funcionário junto com suas impressões, alegrias, mágoas e desilusões, inevitavelmente, continuará com a bagagem adquirida, por sinal mais enriquecida. A empresa por sua vez, perderá todo um investimento. Fosse bom também, se a empresa toma-se as devidas experiências e aperfeiçoa-se os métodos de se relacionar com os futuros e os colaboradores continuantes. 

Mesmo que não existam praticamente pessoas insubstituíveis, que há um exército de mão de obra, ainda que por vezes seja difícil captar o que se precisa e que fazendo várias tentativas consiga-se outro funcionário capacitado, que resolva e até que seja melhor que o anterior, faça por preservar e respeitar os seus empregados.

O acervo técnico não está nas empresas, ele faz parte do capital humano que elas possuem. Se todos os conhecedores de uma atividade, ou ao menos, os da vanguarda, decidirem abandonar, não adiantaria muito ter todos os procedimentos bem descritos e escritos, porque há uma parcela importante de conhecimentos, que está e fica com quem passou pela experiência prática e que por momentos, certos nuances e particularidades tornam-se impossíveis de descrever. Detalhes costumam fugir.

Os contratantes deveriam não simplesmente, solicitar as credenciais da empresa, para avaliar a aptidão e a capacidade da mesma, de assumir um serviço. Como muitos fazem, deveriam também solicitar o histórico dos personagens que serão envolvidos no empreendimento. Eis ai que radica a verdadeira inteligência e idoneidade da organização contratada.

Por último sugiro para observar certas situações, na hora de fazerem suas escolhas, de decidirem seus posicionamentos para com a empresa, já que acreditando ou não, isto também fará parte das suas vidas, fundamentalmente os resultados, que poderão ter uma influência notória.

O que é bom para um, não tem que ser necessariamente bom para o outro e vice-versa. Se eu não gostei, se achei que aquele não era o meu lugar, não quer dizer que não seja o espaço ideal para outros se desenvolverem e se sentirem plenos, satisfeitos.

O clima, o ambiente de trabalho, as perspectivas reais, o respeito, o grau de satisfação geral, a cultura e os valores da empresa, não estariam demais observar, antes de tomar a decisão de se aderir ou se afastar.

Benefícios, status, projeção, programas, planos, etc., costumam ser bem-vindos, quem não gosta deles? Mas, pense e repense nas trocas que estará fazendo, o que está negligenciando, se valem a pena certos sacrifícios, até quando e com qual intensidade deverá se entregar e aplicar as forças, se realmente alguma coisa merece mais atenção do que você, a sua integridade, se não é possível obter melhores e maiores retornos trilhando outros caminhos e outras paragens.

Para cada etapa da vida existem necessidades específicas, cada momento exige de apreciar situações e elementos diferentes. Decididamente, cada caso é um caso.

Cuide-se!