domingo, 26 de setembro de 2010

Artigo: Falsa Negra.

Mais uma da coleção: “Meninas Sisudas”

http://www.paralerepensar.com.br/paralerepensar/texto.php?id_publicacao=14107

Certa vez ouvi dizer a uma daquelas inteligentes participantes de realities shows no Brasil, a contundente frase: “Eu sou Palco, eu não sou Platéia”, alguma coisa do tipo: nasci mais para ser admirada do que para aplaudir os outros. Uma espécie de “Luz Clarita”, convicta de que nasceu para brilhar. Cá entre nós: não sei aonde? 

Esta e outras frases mal colocadas fizeram com que ela rapidinho caísse no desgosto do público, da casa e os quinze minutos de fama acabaram muito antes do tempo que visivelmente calculou. Pouco conseguiu aproveitar das seqüelas desta lamentável exposição.

Por momentos tive a impressão de que a gatuna estava fora de fase, ou seja, sem ciência certa do programa que estava participando, por causa das colocações que fazia e posicionamentos adotados. A clássica “sem noção”. Ela estava mais para participar da atração de um outro canal concorrente, por sinal, um pouco mais interessante e instrutivo, só que tão irreal quanto todos os shows da vida real televisivos.

Graças a Deus que a previsão que é feita e desejada pela grande totalidade dos telespectadores, para todas estas cobaias, de sumirem quanto antes da mídia, no caso dela se cumpriu com 100% de eficiência. Talvez, esta minha crônica, seja a maior homenagem que recebeu, mas por ser motivo da minha inspiração, lhe sou eternamente grato. Pena que para outros tantos, esta premonição demorou mais do que a tolerância e a paciência permitem.

Dentre outros dos horrores que ela pronunciou foi o de catalogar a própria mãe como: “falsa negra”. Até hoje não sei o que ela quis dizer com semelhante absurdo. Era mais fácil dizer que era mestiça, mais com predominância de caracteres da raça branca. 

Por acaso ser verdadeiro negro é um delito? Pelo que eu sei até agora não o é. Eu sou negro, condição da que muito me orgulho e se de alguma coisa tenho certeza é de não ter nascido delinqüente, nem pecando, pelo fato de ser autenticamente negro, eu também nasci anjo. Acho que o delito está na cabeça das pessoas, no preconceito, no prejulgamento. Ô tristeza! Ô pobreza de espírito!

Eu dou um voto à falta de jeito e palavras da participante, que mesmo se achando bem instruída e conceituada, não soube expressar de maneira direta uma realidade que até nas entrelinhas ela elogiou. Falou muito bem da sua mãe exaltando a beleza da mesma, do cabelo, das facções, fruto da mistura fina que possuía. Pena que não repassou muito para a filha. Mas gosto, não se discute.

Ser bem articulado, não é uma condição que as pessoas possam se impor, pode ser até uma meta, mas consegui-lo é por via natural. Se é bem articulado e não se acredita ser.

Para ser mais completa e direcionada a minha homenagem deveria ter colocado o nome da homenageada, mas infelizmente não consegui decora-lo. Se alguma vez ela ler estas linhas (infeliz pretensão minha) ou alguém lembrar desta fatídica passagem, espero que a esqueça (os fatos), ao menos, eu acho que faz bem para alma esquecer certas coisas e esta certamente é uma delas.

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